A compreensão do processo total do nosso ser
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A compreensão do processo total do nosso ser



 Se estudam parte de um quadro, se examinam só uma seção, um canto do mesmo, não veem o quadro inteiro. Se víssemos o quadro todo e compreendêssemos o que o artista deseja nos transmitir, depois disso talvez fosse proveitoso estudar a parte, o canto do quadro; todavia, se começarmos estudando o canto, o ângulo, em vez do quadro inteiro, nesse caso nunca teremos a compreensão do seu todo. Este é um fato muito simples; isto é, se damos importância apenas ao lado econômico do nosso viver total e aplicamos toda a nossa inteligência, e nossos pensamentos, e nossa experiência à solução econômica, perderemos de vista toda a luta humana, toda a existência do homem, seus diferentes estados — psicológicos, físicos, interiores, exteriores. E esse estudo da parte os levará à compreensão da totalidade do homem? Como quase todos nós — os especialistas, os homens eruditos, experientes, importantes — só nos mostramos interessados pela parte e tratamos apenas de legislar para a parte, talvez alguma coisa nos esteja escapando: o todo do homem, o todo da existência humana; e se compreendêssemos esse todo, encontraríamos, muito provavelmente, uma solução diferente, uma resposta diferente, uma maneira mais rápida de atender ao nosso problema econômico. Aquela coisa que nos escapa é a totalidade do meu ser e do ser de vocês; ela é composta de todas essas partes, não é verdade? Eu sou o corpo, a roupa que visto, a fome, a sede, exteriormente; e, interiormente, sou todos os desejos, todas as ambições, as lutas psicológicas, as frustrações, os impulsos, a compulsão para nos preencher, a buscar algo para além da mente; eu sou o processo total de todas essas coisas, bem como vocês o são. 


Não importa muito que nos ajudemos mutuamente a compreender o processo total de vocês e de mim, e não nos limitemos a legislar para uma parte de mim, uma camada de mim? Senhor, necessito de alimento, roupa e morada, e vocês também; e necessitamos ainda de outra coisa, muito mais fundamental. Queremos nos preencher, ser pintores, escritores, santos, indivíduos prestantes, ou entes perversos; há o sentimento de ódio, da ambição, da inveja; como podem deixar tudo isso à margem, para se ocuparem só com uma particularidade, uma parte — ainda que seja uma parte "glorificada" — e falarem a respeito dessa parte, e levarem a efeito uma revolução? Minha existência não é um processo total, não representa o processo total do meu ser em diferente níveis, tanto conscientes como inconscientes? Não lhes cabe levar tudo isso em consideração, não devem ter a visão do todo de si mesmo — e não de algum Deus extraordinário? O meu "eu" está em relação com o "eu" de todos os demais homens; não existo independente deles, nem posso existir. O processo total do "todo", de vocês e de mim, tem de ser compreendido. Se tantos vocês como eu pudermos compreender o processo total do ser  e tivermos consideração e interesse pelo todo e não pela parte, encontraremos então uma solução diferente para todos os nossos problemas. Mas o encarecimento e a glorificação da parte não irá resolver o problema do todo. 

É tão mais fácil nos ocuparmos com a parte! Estamos interessados na parte — o que indica nossa superficialidade, a pequenez de nossas mentes. É só quando compreendemos o processo total do nosso ser, dia por dia, em todas as nossas relações, que há a possibilidade de se descobrir algo além dos limites da mente. Mas não podemos encontrar o que se acha além da mente, pelo encarecimento da parte. E se não descobrirmos o que existe além da mente, jamais teremos felicidade, nunca terá paz a humanidade; a vida nos apresentará luta e sofrimento sem fim. Estes são fatos evidentes; não necessitam estudá-los nos tratados de psicologia; não precisam fazer nenhum exame, não precisam conhecer nenhuma técnica, para descobrirem o que existe na mente e no coração de vocês, hora por hora, momento por momento, dia por dia, requer-se tão somente vigilância e não que se siga um guru ou um líder. Não se requer disciplina, mas o mero observar de coisas simples — cólera, ciúme, desejo de preenchimento, desejo de adquirir, desejo de ser poderoso. Observem essas coisas, nas suas relações, na vida de cada dia de vocês, e verão como funciona a totalidade do ser de vocês, verão se são o centro e se, sem alteração fundamental, radical, do centro, é possível efetuar-se uma revolução na periferia. Enquanto estivermos lustrando o exterior — o que não significa que o exterior não deva ser brilhante — esse modo de atender os nossos problemas não os resolverá. Entretanto, se pudermos compreender o processo total do nosso ser, em seguida, se possível, passar além e, daí, nos aplicarmos aos nossos problemas, encontraremos então a solução correta. A solução não será então uma causa de novos problemas, mais sofrimentos, mais aflições. 

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria




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