A educação não passa do cultivo e do fortalecimento do medo
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A educação não passa do cultivo e do fortalecimento do medo



Pergunta: O senhor disse que se os pais realmente amarem os filhos, eles não o impedirão de fazer coisa alguma. Mas se o filho não quiser lavar-se ou se ele quiser comer alguma cosia que lhe faz mal à saúde, não deverão impedir?

Krishnamurti: Não creio que jamais tenha dito que se amarem os filhos os pais os deixarão fazer exatamente o que bem entenderem. Esta é uma questão muito difícil, não é? Afinal, se amo meu filho devo cuidar para que ele não tenha motivo de ter medo — o que é uma coisa extraordinariamente difícil de fazer. Como eu disse, para libertar-se do medo, a criança não pode ser comparada com nenhuma outra, nem deve ser submetida a exames. Se amo a criança, dar-lhe-ei liberdade, não para ela fazer o que bem entender — porque meramente fazer tudo o que se quer é estúpido — mas liberdade para cultivar a inteligência; e essa inteligência depois lhe dirá o que fazer.

Para haver inteligência é preciso que haja liberdade, e não podemos ser livres se nos estão constantemente pressionando para nos tornarmos semelhantes a algum herói, porque então o herói é que é importante e não nós. Vocês não têm dor de barriga quando prestam exames? Não ficam nervosos, ansiosos? Quando, ano após ano, têm de enfrentar essa terrível provação chamada exames finais, sabem o que isto lhes faz pelo resto da vida? Os mais velhos dizem que vocês precisam crescer sem medo; mas isso não significa nada, é só um amontoado de palavras, porque eles estão cultivando o medo ao submetê-lo a exames e ao compará-los com outros.

Outra coisa que realmente deveríamos discutir é o que chamamos de disciplina. Sabem o que quero dizer com disciplina? Desde a infância os outros dizem o que fazer, e vocês o têm conseguido fazer muito bem. Ninguém se dá ao incômodo de lhes explicar por que devem levantar cedo ou porque precisam se lavar. Pais e professores não explicam estas coisas a vocês porque não têm amor, o tempo, nem a paciência necessários para tanto; limitam-se a dizer: "Faça isto ou, caso contrário, eu os castigarei". Portanto, a educação como a conhecemos, é a instilação do medo.   E como pode a mente de vocês ser inteligente quando existe o medo? Como podem sentir amor ou respeito pelas pessoas quando têm medo? Vocês podem "respeitar" as pessoas que tenham nomes famosos carros dispendiosos; mas não respeitam seus criados, aplicam-lhes pontapés. Quando aparece um grande homem todos vocês o saúdam e reverenciam, e a isso chamam respeito; mas não é respeito, é o medo que os está fazendo reverenciá-los. Vocês não reverenciam o pobre collie, não é? Não são respeitosos para com ele, porque ele não lhes pode dar nada. Portanto, toda a nossa educação não passa do cultivo e do fortalecimento do medo.  Que coisa terrível, não? E, enquanto houver medo, como poderemos criar um mundo novo? Não podemos. Eis porque é muito importante compreender este problema do medo enquanto vocês são jovens, e cuidarmos todos nós de sermos educados realmente sem medo. (1)

(...)

Pergunta: Qual deve ser o sistema de educação para levar a criança a não ter medo?

Krishnamurti: Sistemas ou métodos implicam a ideia de que nos digam o que devemos fazer e como fazê-lo; porventura isso o levará a não ter medo? Pode-se ser educado com inteligência, sem medo, mediante alguma espécie de sistema? Quando jovens, vocês devem ser livres para crescer; mas não existe nenhum sistema para torná-los livres. Um sistema implica a ideia de levar a mente a conformar-se com um modelo, não é verdade? Significa encerrá-lo num molde, não lhes dar liberdade. No momento em que se apoiam num sistema, vocês não ousam mais sair dele e, então, até mesmo o simples pensamento de sair dele provoca medo. Nessas condições, não há realmente nenhum sistema de educação. O que importa é o professor e o aluno, não o sistema. Afinal de contas, se desejo ajudá-los a libertar-se do medo, eu mesmo tenho que me livrar do medo. Devo, pois, estudá-los; devo dar-me ao trabalho de explicar-lhes tudo e dizer-lhes como é o mundo; e para fazer isso eu preciso amá-los. Como professor, devo ter a sensibilidade para fazer com que, quando vocês deixem a escola ou a faculdade, estejam sem medo. Se eu realmente tiver essa sensibilidade, poderei ajudá-los a livrar-se do medo. (2)

(1) Krishnamurti - O verdadeiro objetivo da vida - pág. 154-155
(2) Krishnamurti - O verdadeiro objetivo da vida - pág. 156-157





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