A inteligência não está separada do amor
autoconhecimento

A inteligência não está separada do amor


Só o autoconhecimento pode trazer a tranquilidade e a felicidade ao homem, porque o autoconhecimento é o começo da Inteligência e da integração. A inteligência não é mero ajustamento superficial; não é cultivo da mente, aquisição de saber. Inteligência é a capacidade de compreender as coisas da vida, é a percepção dos valores corretos.

A educação moderna, desenvolvendo o intelecto, fornece teorias e mais teorias, fatos e mais fatos, mas não nos faz compreender o processo total da existência humana. Somos altamente intelectuais; desenvolvemos mentes astuciosas, e vivemos num emaranhado de explicações. O intelecto se satisfaz com teorias e explicações, a inteligência não; e para a compreensão do processo total da existência, é necessária uma integração da mente e do coração, na ação. A inteligência não está separada do amor.

(...) Não somos criadores, porque enchemos de saber, de erudição e de arrogância nossos corações e nossas mentes; estamos cheios de citações do que outros pensaram e disseram. Mas o experimentar vem em primeiro lugar, e não a maneira de experimentar. É necessário que haja amor, para que possa haver a expressão do amor.

Está claro, pois, que a inteligência não resulta do mero cultivo do intelecto, isto é, do desenvolvimento das capacidades e conhecimentos. Há distinção entre intelecto e inteligência. Intelecto é o pensamento funcionando independente da emoção, e inteligência é a capacidade de SENTIR e RACIOCINAR; e enquanto não apreciarmos a vida com inteligência, e não apenas com o intelecto ou só o sentimento, nenhum sistema político ou educativo do mundo nos salvará do caos e da destruição.

A erudição não é comparável com a inteligência, erudição não é sabedoria. A sabedoria não é comerciável, não é artigo que se possa comprar pelo preço do estudo e da disciplina. A sabedoria não se encontra nos livros; não pode ser acumulada, guardada ou armazenada na memória. A sabedoria vem pela negação do “eu”. Ter a mente aberta é mais importante do que aprender; e podemos ter a mente aberta, não quando a atestamos com conhecimentos, mas quando estamos cônscios dos nossos próprios pensamentos e sentimentos, quando observamos com cuidado a nós mesmos e as influências que nos cercam, quando prestamos ouvidos a outrem, quando observamos o rico e o pobre, o poderoso e o humilde. A sabedoria não pode ser adquirida pelo temor e pela opressão, mas só pelo exame e pela compreensão dos incidentes de cada dia, nas relações humanas.

Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamos nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos INTEGRADOS.

A sabedoria não pode ser substituída pela erudição, e não há quantidade de explicações, não há acumulo de fatos que liberte o homem do sofrimento. A erudição é necessária, a ciência tem seu lugar próprio; mas, a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido.

(...) O saber, o conhecimento de fatos, embora em constante crescimento, é por sua própria natureza limitado. A sabedoria é infinita, abarcando o saber bem como a esfera de ação; mas se nos apoderamos de um ramo, pensamos que temos a árvore toda. O conhecimento da parte nunca nos fará conhecer a alegria do todo. O intelecto jamais nos levará ao todo, porque ele é apenas um segmento, uma parte.

Separamos o intelecto do sentimento, desenvolvemos o intelecto à custa do sentimento. Somos como um tripé com uma perna mais longa do que as outras, não temos equilíbrio. Somos educados para sermos intelectuais; nossa educação cultiva o intelecto, para torna-lo penetrante, astucioso, ambicioso, e assim ele tem o papel mais importante em nossa vida. A inteligência é muito superior ao intelecto, porque é a INTEGRAÇÃO da razão e do amor; mas só pode haver inteligência, quando há autoconhecimento, a profunda compreensão do processo total de nós mesmos.

O essencial para o homem, jovem ou velho, é que viva plena e integralmente, e, por conseguinte, nosso problema mais importante é o cultivo da inteligência, que traz INTEGRAÇÃO. Atribuir-se indevida importância a qualquer uma das partes da nossa organização total, dá-nos uma visão parcial e, portanto, deformada da vida. É essa visão deformada que está causando a maioria de nossas dificuldades. Todo desenvolvimento parcial de nossa feição geral será inevitavelmente desastroso, tanto para nós como para a sociedade, e por conseguinte é deveras da maior importância que consideremos nossos problemas humanos de um ponto de vista INTEGRADO.

Ser um ente humano INTEGRADO é compreender o processo completo da nossa própria consciência, tanto oculta como evidente. Não é possível ser integrado, se atribuímos indevido valor ao intelecto. Damos muita importância ao cultivo da mente, mas dentro de nós somos insuficientes, pobres e confusos. Viver pelo intelecto é o caminho da desintegração, porque as ideias, assim como as crenças, não podem unir as pessoas, a não ser como grupos antagônicos.

Enquanto dependermos do pensamento como meio de integração, haverá desintegração; compreender a ação desintegradora do pensamento é cônscios dos movimentos do “eu”, dos movimentos do nosso próprio desejo. Devemos ter consciência do nosso condicionamento e das suas reações, tanto coletivas como pessoais. Só quando estamos perfeitamente cônscios das atividades do “eu”, com seus desejos e lutas contraditórias, suas esperanças e temores, temos a possibilidade de transcender o “eu”.

Só o amor e o pensar correto farão a verdadeira revolução, a revolução interior. Mas, como podemos ter amor? Podemos tê-lo, não pelo cultivo do ideal do amor, e sim quando não há ódio, quando não há avidez, quando a consciência do “eu”, causa de todo antagonismo, se extingue. Um homem todo entregue às atividades de exploração, ganância, inveja, nunca poderá amar.

Sem amor e sem pensar correto, a opressão e a crueldade crescerão continuamente. O problema do antagonismo do homem com o homem pode ser resolvido, não pelo cultivo do ideal da paz, mas só pelo entendimento das causas da guerra, que residem em nossa atitude perante a vida e perante nossos semelhantes; e este entendimento só há de nascer quando houver educação correta. Sem uma transformação do coração, sem boa vontade, sem a mudança interior, que nasce do autopercebimento, não haverá paz nem felicidade para os homens.

Jiddu Krishnamurti — A educação e o significado da vida     





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