A natureza exata de nossos fragmentadores e separatistas conflitos.
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A natureza exata de nossos fragmentadores e separatistas conflitos.


Embora seja difícil demonstrar como a mente funciona na realidade, vou tentar fazê-lo; e você pode “experimentar”, e ver por si mesmo. Sabemos que o pensar é uma reação do fundo de condicionamento” (background). Você pensa como hinduísta, (…) não apenas no seu pensar consciente, mas também no pensar inconsciente. Você é o background, não é separado, pois não há pensador separado do background; e a reação desse background é o que você chama pensar.(1)

Esse background, quer culto, quer inculto, instruído ou ignorante, está sempre correspondendo a algum desafio, a algum estímulo, e essa reação cria não apenas o chamado presente, mas também o futuro. Tal é o nosso processo de pensar.(2)

O que eu digo é que a experiência baseada no conhecimento, no nosso background, é meramente o prolongamento desse fundo e, por conseguinte, não é experiência nova. (…) Só posso reagir ao desafio de maneira nova quando a minha mente compreendeu o background e dele se libertou.(3)

Quando você pensa, o seu pensar é, por certo, resultado do passado, do seu condicionamento, da sua crença, do seu fundo consciente e inconsciente. De acordo com seu background você reage, e essa reação é chamada pensar; e por meio desse pensar você quer resolver os seus problemas. E acha que, quanto mais adquirir, (…) mais acumular experiência, tanto maior se tornará sua capacidade de atender ao problema e resolvê-lo.(4)

O pensar, sem dúvida, é uma reação. Se lhe faço uma pergunta, a essa pergunta você reage; reage de acordo com sua memória, seus preconceitos, sua educação, (…) com todo o fundo do seu condicionamento; e em conformidade com tudo isso você responde, pensa (…) O centro desse fundo é o “eu” com sua atividade.(5)

A mente age sempre de um ponto em que está ancorada (…); mas há sempre um centro de onde ela age. Está ela sempre ligada a um ponto, que é o “eu”. O “eu” é a idéia. (…) A mente, pois, está amarrada, ancorada, ligada a um background, a uma tradição, à memória; essa mente jamais poderá resolver o problema totalmente. A investigação, pois, deve visar a como libertar a mente do “eu”, do seu background.(6)

Por conseguinte, a mente não é um estado fixo. Nossos pensamentos são transitórios, modificando-se incessantemente; são a reação proveniente do background. Se fui criado em certa classe social, certo meio cultural, reagirei a todos os desafios e estímulos de acordo com meu condicionamento. Na maioria de nós esse condicionamento tem raízes tão profundas que a reação é quase sempre de acordo com o padrão. Nossos pensamentos são a reação do background. Nós somos o background.(7)

Que é o centro? O centro é o “eu” - o “eu” que deseja ser pessoa importante, que tem tantas conclusões, temores e motivos. É partindo desse centro que pensamos, mas esse centro foi criado pela reação do pensar. Pode, pois, a mente perceber o pensar, sem tal centro - observá-lo apenas?(8)

O centro é um feixe de recordações, (…) de tradições, e esse centro tem sido originado pela tensão, pelas pressões e influências. O centro é resultado do tempo, (…) da cultura - (…) hindu, muçulmana, etc. E esse centro (…) tem um espaço exterior a ele (…) E por causa do movimento tem também um espaço dentro dele. Se não houvesse movimento, não haveria espaço. Careceria de existência. (…) Para expressá-lo de outro modo, o centro é a consciência. Ou seja, esse centro possui limites que ele reconhece como o “eu”. Ele trata de estender esse espaço, que ele percebe como consciência, a fim de ampliá-lo mais e mais.(9)

O centro, evidentemente, é criado pela cultura em que vivemos, por nossas memórias e experiências condicionadas, por nossa própria fragmentação. (…) Pode esse centro ultrapassar as fronteiras que ele próprio criou? Pode esse centro, silenciando a si próprio, controlando-se, meditando, seguindo um padrão, “explodir” e “ir além”? Não pode, de certo.(10)

É o centro, como pensador, como censor, que gera o tempo e, por conseguinte, o centro é a fonte da desordem. Não é o pensamento que cria a desordem, porém o centro, o censor, o pensador, constituído através do tempo. E enquanto existir esse censor, esse centro, esse “fabricante” de esforço, não terá fim o medo.(11)

Mas, se você examinar com (…) atenção, verá que foi o pensamento que criou o pensador. O pensador, que dirige, que é o centro, o juiz, é produto dos nossos pensamentos. (…) A maioria das pessoas está condicionada para crer que o pensador é separado do pensamento, atribuindo ao pensador a qualidade de eterno.(12)

Em tudo que fazemos, em todas as nossas relações, por muito íntimas que sejam, há essa divisão, a criar confusão, sofrimento e conflito. Como é que aparece essa barreira? Se somos realmente capazes de compreender isso - não verbalmente, não intelectualmente, mas capazes de vê-lo e senti-lo de fato - descobrimos que a barreira deixa então de existir.(13)

O muro surge, por certo, mediante o mecanismo do pensamento. Não? Antes de se pronunciar, observe, apenas observe o pensamento. Se não houvesse pensamento acerca da morte, não se teria medo dela. Se não fôssemos educados como cristãos, católicos, protestantes, hindus, budistas; (…) se não estivéssemos condicionados pela propaganda, pelas palavras, pelo pensamento, não teríamos barreira alguma. (…) Com as suas atividades egocêntricas, o pensamento cria não só o muro, mas também a nossa própria atividade dentro do nosso muro.(14)

Assim, o pensamento gera tanto o prazer como o medo. Não se pode ter o prazer sem o medo: ambos andam juntos porque são filhos do pensamento. E o pensamento é o filho estéril de uma mente que apenas se preocupa com o prazer e com o medo.(15)

Do mesmo modo, ver inteligentemente toda essa estrutura, a natureza dessa divisão, o conflito, a luta, o sofrimento, o egocentrismo - ver realmente o seu perigo significa o seu fim.(16)

Veja o homem aprisionado por muralhas inumeráveis, muralhas de religião, de limitações sociais, políticas e nacionais, muralhas criadas por suas próprias ambições, aspirações, temores, esperanças, precauções, preconceitos, ódio e amor. Dentro dessas barreiras está ele cativo, limitado.(17)

Nessas condições, carecendo dessa inteligência criadora que é a compreensão do ambiente, começa o homem a entreter-se dentro das muralhas da prisão, (…) a embelezá-la e decorá-la, para tornar confortável a sua situação dentro de suas muralhas; (...) A esse embelezar, reformar, entreter-se, a essa busca de conforto dentro das muralhas da prisão, ele chama viver, atuar, agir. E como não existe aí inteligência nem êxtase criador, está ele fadado a ser sempre esmagado pela falsa estrutura que ergueu.(18)

A maioria de nós é alimentada com certos preconceitos, tradições,temores, forçada pelo ambiente a seguir e obedecer, e pensamos e agimos a partir dessa base. (…) E desse centro inconsciente começamos a pensar, sentir e agir. Todas as nossas ações (…) tornam-se, naturalmente, cada vez mais limitadas, (…) estreitas, (…) condicionadas. Assim, o ser inconsciente, aqueles pensamentos e sentimentos habituais que não havemos discutido ou compreendido, estão sempre pervertendo, intrometendo-se e obscurecendo as ações conscientes. Se não compreendermos e não nos tornarmos livres desse fundo de idéias com as quais crescemos (…), esses preconceitos (…) temores, intervirão no ser consciente, limitando-o.(19)

Isso é realmente muito simples (…) Se, por exemplo, o indivíduo é educado na tradição e no nacionalismo, essa atitude inevitavelmente tem de criar barreiras na ação. A mente-coração, estreitada e limitada (…) pelos preconceitos, tem de criar limitações crescentes. (…) Se você tem crenças, traduz e modela as suas experiências de acordo com elas, e com isso está continuamente forçando e limitando o pensamento-sentimento, e essas limitações tornam-se o processo do “eu”.(20)

Possuímos muitos preconceitos, sutis e grosseiros, e cada indivíduo, por ser único, sustenta sua própria ignorância mediante suas atividades volitivas. Se você não compreender plenamente essa ignorância auto-ativa em toda a sua inteireza, estará de contínuo criando barreiras, resistências, e aumentando (…) a miséria. Você precisa, pois, se tornar apercebido desse processo.(21)

Sabemos, pois, por que nascem os preconceitos, como são gerados para nossa própria proteção, o que representa um processo de isolamento. (…) Você pertence a esta ou àquela sociedade, (…) Acredita que sua experiência é superior à minha, ou tão boa quanto a minha (…) Tudo isso denota (…) formas de preconceito, (…) de exclusão, de defesas, de autoproteção, mui cuidadosamente cultivadas. (…) Conseqüentemente, no intuito de nos protegermos, levantamos muralhas “projetadas” de nós mesmos ou criadas para nós por outros e por nós aceitas.(22)
Textos de Krishnamurti, extraídos de: Seleta de Krishnamurti
Fontes das citações:

(1) Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 179.
(2) Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 179.
(3) O Homem Livre, pág. 44
(4) Viver sem Temor, pág. 68
(5) A Renovação da Mente, pág. 10-11
(6) O Problema da Revolução Total, pág. 25
(7) Reflexões sobre a Vida, pág. 92
(8) Verdade Libertadora, pág. 40
(9) Tradición y Revolución, pág. 62
(10) A Questão do Impossível, pág. 169
(11) O Descobrimento do Amor, pág. 148
(12) Verdade Libertadora, pág. 39
(13) O Mundo Somos Nós, pág. 115
(14) O Mundo Somos Nós, pág. 115-116
(15) O Mundo Somos Nós, pág. 116
(16) O Mundo Somos Nós, pág. 117
(17) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 92
(18) A Luta do Homem, pág. 100
(19) Coletânea de Palestras, pág. 64-65
(20) Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 40
(21) Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 71-72
(22) Nós Somos o Problema, pág. 22




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