A transformação e a suprema felicidade fora do tempo
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A transformação e a suprema felicidade fora do tempo



A transformação não está no futuro, nunca pode dar-se no futuro, ela só pode dar-se agora, de momento em momento. Mas, o que entendemos por transformação? Ora, é muito simples: é ver o falso como falso, o verdadeiro como verdadeiro. É ver a verdade que está contida no falso, e ver o falso naquilo que se aceitou como verdade. Ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro, é transformação. Porque, no momento em que você vê claramente uma coisa como verdadeira, essa verdade liberta. Ao ver que uma coisa é falsa, essa coisa falsa se desvanece. Senhor, ao ver que as cerimônias são puras e vãs repetições, ao perceber a verdade que há nisso, e não o justificar, dá-se uma transformação — não é verdade? — porque você ficou livre de mais uma prisão. Ao ver que a distinção de classe é coisa falsa, que ela cria conflito, sofrimento, divisão entre as pessoas — ao perceber essa verdade, ela própria o liberta. A percepção da dessa mesma verdade é transformação, não é? E como estamos rodeados de coisas falsas, a percepção da falsidade, momento por momento, é transformação. A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento por momento. O que é acumulativo, o que se acumula, é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo — do passado, do presente e do futuro. O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno; a eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade está no momento presente. A eternidade está no agora. O agora não é reflexo do passado, através do presente, rumo ao futuro. 

A mente desejo de transformação futura, ou que visa à transformação como resultado final, nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento por momento, que precisa sempre ser descoberta de novo; e, naturalmente, não pode haver descobrimento mediante acumulação. Como é possível você descobrir o que é novo, com a carga do que é velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. Assim, pois, para descobrir-se o novo, o eterno, no presente, momento por momento, necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta, uma mente que não visa a um resultado, uma mente não interessada em "vir a ser". A mente empenhada em "vir a ser" não conhecerá jamais a perfeita e suprema felicidade do contentamento que é pura satisfação, não o contentamento derivado da consecução de um resultado, mas o contentamento que se manifesta quando a mente percebe a verdade no "que é", e o falso no "que é". A percepção dessa verdade é de cada momento; e essa percepção é retardada pela "verbalização" do momento. 

Assim, pois, a transformação não é um resultado final. A transformação não é um resultado. Todo resultado implica resíduo, implica uma causa e um efeito. Onde há causalidade, há necessariamente efeito. O efeito é meramente o resultado do seu desejo de ser transformado. Quando você deseja ser transformado, você está pensando em "vir a ser", e aquilo que está no "vir a ser", nunca poderá conhecer o que é o ser. A verdade é o ser, momento por momento; e a felicidade que tem continuidade não é a felicidade. A felicidade é aquele estado que está fora do tempo. Esse estado atemporal só pode manifestar-se quando há extraordinária insatisfação — não a insatisfação que descobriu uma via de fuga, mas a insatisfação que não tem saída alguma, que não tem possibilidade de fuga, que já não busca preenchimento. Só então, em tal estado de suprema insatisfação, pode despontar a Realidade. Essa realidade não pode comprar-se, vender-se, repetir-se, e não pode ser colhida nos livros. Ela tem de ser achada momento por momento, no sorriso, na lágrima, sob a folha morta, nos pensamentos erradios, na plenitude do amor. Porque o amor não é diferente da verdade. O amor é aquele estado no qual o processo do pensamento, como tempo, desapareceu de todo. E onde está o amor, há transformação. Sem amor, nada significa a revolução, porque em tal caso a revolução é só destruição, decomposição, desgraça cada vez maior e cada vez mais geral. Onde há amor há revolução, porque o amor é transformação, momento por momento. 

Jiddu Krishnamurti, 20 de fevereiro de 1949 - O Que Te Fará Feliz?





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