Compreendendo as bases de nossa educação
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Compreendendo as bases de nossa educação


A transformação fundamental não se opera unicamente com a compreensão das bases em que fomos educados? Por certo, enquanto a mente estiver operando segundo o padrão de uma dada sociedade ou religião, não haverá transformação. Por mais que lutemos  dentro do padrão, por mais que soframos, não será possível a transformação enquanto não compreendermos o padrão pelo qual vivemos e a que está preso todo o nosso ser. O desejo de transformação, dentro do padrão, só pode criar novas complicações. Consumimos tempo numa luta incessante, a esforçar-nos em vão para nos modificarmos  e há um atrito constante entre o que é e o que deveria ser — o ideal.
Assim, pois, parece-me que, se desejamos operar uma transformação fundamental, é necessário, primeiramente, compreendermos as bases de nossa educação, o padrão pelo qual opera a nossa mente. Se não compreendermos esse padrão, se não conhecermos bem o nosso condicionamento  se não forem compreendidas, completamente, as diretrizes de nossa educação, às quais está presa a nossa mente, continuaremos, meramente, a seguir uma tradição  e, daí, de maneira invariável, resulta mediocridade. A tradição, inevitavelmente, mutila-nos e embota-nos a mente. Portanto, é de toda necessidade uma transformação fundamental dentro em nós mesmos; porque, embora sejamos muito inteligentes e muito sapientes, somos, quase todos, bem medíocres, vazios, superficiais, interiormente insuficientes — não é verdade? E para se produzir tal transformação é necessária total compreensão das bases de nossa formação. Enquanto não compreendermos essas bases, por mais que lutemos para nos transformarmos  nada alcançaremos.
Que bases são essas? São elas constituídas pelas tra­dições, pelas influências sob as quais fomos criados, e pela educação, as teorias, as fórmulas, as conclusões que adquirimos. Sem estarmos livres de tudo isso — que é pura ocupação com ideias — todo esforço que fizermos para nos modificarmos nos levará, invariavelmente, à mes­ma qualidade de respeitabilidade ou mediocridade; e essa luta, em que todos nos vemos empenhados, só pode pro­duzir pensamento não criador.
Só a mente livre, por certo, pode descobrir o verda­deiro, e não aquela que está condicionada por crenças, ideais e compulsões. Se desejamos descobrir se existe uma realidade além das limitações e projeções do pensa­mento, então é claro que a mente deve em primeiro lugar estar livre de todas as crenças, dogmas e tradições, de todos os padrões que a aprisionam. Porque só a mente livre é capaz de descobrir, e não aquela que luta constan­temente para ajustar-se a determinado padrão ou ideal, quer imposto pela sociedade, quer por ela própria.
Uma das nossas maiores dificuldades, parece-me, é que, realmente, desejamos viver uma vida despreocupada, indolente, monótona, porventura com uma pequena dose de excitação de vez em quando. Nosso padrão de exis­tência é muito superficial e estamos perpetuamente a lu­tar de maneira superficial, procurando, por várias manei­ras, tornar profunda a nossa superficialidade. Penso que essa superficialidade, esse nosso vazio interior, é produzi­do pela incompreensão de nosso padrão de vida, das ro­tinas de nosso pensar; vivemos em completa ignorância disso. Não damos atenção aos nossos pensamentos, não percebemos de onde procedem, qual a sua significação, quais os valores que lhes atribuímos; não percebemos que nossa mente está entravada por sonhos estéreis, pela com­petição, a ambição, a luta para ser algo, o ajustamento às estreitas fórmulas da sociedade.
Por conseguinte, é de real importância, se desejamos operar uma transformação fundamental, estarmos total­mente livres da sociedade. E esta é que é a verdadeira revolução: a revolução que vem quando começamos a compreender o padrão da sociedade de que fazemos parte. Não somos diferentes da sociedade; somos o resultado das influências sociais; e não podemos ficar livres da marca das influências sociais enquanto não compreendermos, no seu todo, a composição da sociedade. A composição da sociedade é um misto de avidez, inveja, ambição, de todas as crenças condicionadoras, baseadas no medo e que se chamam religião. Portanto, só o homem, que se retira da sociedade, que se liberta da compulsão de seus semelhantes e da tradição, bem como de sua própria inveja e am­bição interiores — só esse homem é verdadeiramente re­volucionário, verdadeiramente religioso, e só ele descobri­rá se existe uma realidade além das projeções de nossa pequenina, insignificante mente.
Este problema me parece importantíssimo, principalmente no mundo moderno, que se defronta com tamanhas crises. A ciência e a chamada civilização poderão produzir alguma modificação, mas qualquer modificação dessa ordem é invariavelmente superficial; é imposta pela pressão das circunstâncias, e, portanto, não é uma transformação real. Por essa razão, não há libertação criadora, porém tão só o seguimento de uma rotina chamada "virtude". Mas, se pudermos, como devemos, examinar este problema muito profundamente, penso que compreenderemos as bases de que fazemos parte. As bases não são diferentes de nós mesmos, porque nós somos essas bases. Nossa mente resulta do passado com todas as suas tradições, crenças e dogmas, conscientes e inconscientes. E pode, em algum tempo, essa mente ser livre? Só poderá ser livre quando compreender, inteiramente, a estrutura dessas bases  a estrutura da sociedade em que vivemos. Só então é possível a mente ser verdadeiramente religiosa, e, por conseguinte, verdadeiramente revolucionária.
Para penetrarmos um pouco mais nesta questão, pelo menos verbalmente — e também não verbalmente — poderíamos tentar examiná-la juntos. O que eu disse pode estar em contradição com o que pensais, e seria talvez proveitoso examinar o problema com calma, natural e amigavelmente, para vermos se descobrimos mais alguma coisa. Mas, vai ser difícil esse exame. Devemos ater-nos ao assunto, não suscitando questões não relacionadas com ele. E também, é claro, para discutirmos sensatamente, devemos abster-nos de longos discursos.

Krishnamurti — A Verdade Libertadora — ICK





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