Conhecimento: a trave de tropeço para a visão intuitiva
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Conhecimento: a trave de tropeço para a visão intuitiva


(...)David Bohm: Mas chega então o momento em que o conhecimento não parece mais ser conhecimento.

Krishnamurti: Os políticos e as pessoas que estão no poder não escutariam isso. Nem tampouco os supostos indivíduos religiosos. Apenas as pessoas que estão descontentes, que sentem que perderam tudo, escutarão. Mas nem sempre elas escutam, de modo que isso é realmente um ponto crucial. O que faremos a respeito disso? Digamos, por exemplo, que eu tenha abandonado o catolicismo, o protestantismo, e tudo isso. Além disso, eu tenho uma profissão e sei que é necessário que eu tenha conhecimento nessa área. Percebo, porém, como é importante que eu não seja capturado no processo do conhecimento psicológico, e contudo não consigo abandoná-lo. Ele está sempre se esquivando; estou brincando de pregar peças com ele. É como um jogo de esconde-esconde. Está bem! Dissemos que essa é a parede que tenho de derrubar. Não, eu não — essa é a parede que tem que ser derrubada. E dissemos que ela pode ser derrubada por meio do amor e da inteligência. Não estamos pedindo uma coisa extremamente difícil?

DB: É difícil.

K: Eu estou deste lado da parede, e você está me pedindo para ter esse amor e essa inteligência que a destruirão. Mas eu não sei o que é esse amor, o que é essa inteligência, porque estou preso aqui, neste outro lado da parede. Eu percebo logicamente, de forma sensata, que o que você diz é preciso, verdadeiro, lógico, e vejo sua importância, mas a parede é tão resistente, tão dominante e poderosa que não consigo atravessá-la. Dissemos outro dia que a parede poderia ser derrubada por meio da visão intuitiva — se a visão intuitiva não for transformada numa ideia.

DB: Sim.

K: Quando a visão intuitiva é discutida, há o perigo de fazermos uma abstração dela; isso significa que nos afastamos do fato, e que a abstração se torna extremamente importante. O que quer dizer, mais uma vez, conhecimento.

DB: Sim, a atividade do conhecimento.

K: Assim, estamos novamente de volta!

DB: Penso que a dificuldade geral é que o conhecimento não está simplesmente sentado ali, como uma forma de informação, mas é extremamente ativo, reunindo e modelando todos os momentos em função do conhecimento passado. Desse modo, mesmo quando levantamos essa questão, o conhecimento fica o tempo todo à espera, e depois age. Toda a nossa tradição supõe que o conhecimento não é ativo e sim passivo. Mas na verdade ele é ativo, embora as pessoas geralmente não pensem dessa maneira. Elas acham que ele está apenas sentado ali.

K: Ele está esperando.

DB: Esperando para agir. E não importa o que tentemos fazer a respeito, o conhecimento já estará agindo. No momento em que percebermos que esse é o problema, ele já terá agido.

K: Sim. Mas será que eu o percebo como um problema, ou como uma ideia que devo executar? Percebe a diferença?

DB: O conhecimento, automaticamente, transforma tudo numa ideia, que devemos executar. Essa é a maneira global como ele é construído.

K: A maneira global como temos vivido.

DB: O conhecimento não pode fazer nada além disso.

A Eliminação do Tempo Psicológico




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