Krishnamurti - É possível a mente estar livre do conhecimento e da crença?
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Krishnamurti - É possível a mente estar livre do conhecimento e da crença?


É muito interessante observar a força que essas duas coisas — conhecimento e crença — exercem em nossa vida. Observem como veneramos aqueles que possuem um imenso saber, imensa erudição! Você podem compreender o significado disso? Senhores, se vocês desejam achar algo novo, se desejam experimentar algo que não seja uma projeção da imaginação de vocês, suas mentes devem estar livre, não acham? Deve ser capaz de ver uma coisa nova. Infelizmente, toda vez que vocês veem uma coisa logo sacam de todo saber de vocês, todos seus conhecimentos, suas lembranças e, assim, evidentemente, se tornam incapazes de olhar, de receber qualquer coisas que seja nova, que não pertença ao passado. Tenham a bondade de não interpretar isso restritamente. Se eu não soubesse o caminho para voltar para Mylarope, me perderia; se não sei operar uma máquina, pouca utilidade tenho. Isso é coisa totalmente diferente. Não é disso que estamos tratando aqui. Estamos tratando do conhecimento que utilizamos como meio de adquirir segurança, segurança psicológica e interior, como meio de sermos alguma coisa. O que vocês obtém com o conhecimento? A autoridade do saber, o sentimento de importância, dignidade, o sentimento de vitalidade, etc. O homem que diz "eu sei", "há...", não há...", esse homem, certamente, parou de pensar, desistiu de seguir o processo do desejo.

Nosso problema, portanto, tal como o vejo é o seguinte: Estou amarrado, dominado pela crença, pelo conhecimento; é possível a mente ficar livre do ontem e das crenças adquiridas através do processo do ontem?" Compreendem a questão? É possível a mim, como indivíduo, e a vocês, como indivíduo, viver nesta sociedade que fomos criados? É possível a mente libertar-se de todo aquele conhecimento, de toda aquela autoridade? Por favor, senhores, deem um pouco de atenção a este ponto, porque eu julgo importantíssimo — se realmente sentem empenho em examinar este problema da crença e do conhecimento. Lemos várias escrituras, os vários livros religiosos. Eles já descreveram minuciosamente o que se deve fazer, o que não se deve fazer, como se atinge o alvo, o que é o alvo, e o que é Deus. Todos vocês o sabem de cor e o tem seguindo. Isso é o conhecimento de vocês, é o que adquiriram, o que aprenderam; e continuam por esse caminho. É claro que obterão aquilo que desejam alcançar, aquilo que veem. Mas será isso a realidade? Não será a projeção do próprio conhecimento de vocês? — Não é a realidade. É possível perceberem isso com clareza agora — não amanhã, mas agora — e dizerem "percebo a verdade disso" — e não mais lhes dar atenção, de modo que a mente de vocês não continue tolhida por esse processo de imaginação, de projeção, de ver a coisa como vocês desejam que ela seja.

De modo idêntico, é a mente capaz de libertar-se da crença? Vocês só estarão livres dela quando compreenderem a natureza intima das causas que fazem com que vocês se apeguem a ela, quando compreenderem não apenas os motivos inconscientes que fazem com que vocês acreditem. Afinal de contas, não somos apenas uma entidade superficial, funcionando no nível consciente. Vocês podem descobrir as atividades mais profundas, conscientes e inconscientes, se concederem uma oportunidade à mente inconsciente, visto que esta reage com muito mais presteza do que a mente consciente. Se vocês escutam — como espero que estejam escutando — o que estou dizendo, a mente inconsciente de vocês deve estar reagindo. Enquanto a mente consciente está pensando, escutando, observando tranquilamente, a mente inconsciente está muito ativa, muito mais vigilante, muito mais receptiva; ele deve, portanto, ter uma resposta para dar. Pode a mente que foi subjulgada, intimidade, forçada, compelida a acreditar, pode a mente em tais condições ser livre para pensar? Pode ela ver de maneira nova e afastar o processo de isolamento existente entre vocês e o orador? Por favor, não digam que a crença une as pessoas. Ela não une. Isso é um fato evidente, não é? Nenhuma religião organizada o tem conseguido... A crença, pois, não une as pessoas. É uma coisa evidente. Se isso está claro se é verdadeiro e o percebem, cumpre então compreendê-lo. A dificuldade está em que a maioria de vocês não o  vê, porque somos incapazes de fazer frente àquela insegurança interior, àquele sentimento de "estar só". Queremos algo em que nos apoiar, seja o estado, seja a casta, seja o nacionalismo, seja um Mestre, um Salvador, ou qualquer coisa a que nos apegar. Ao perceber a falsidade disso, a mente é capaz, pode ser temporariamente, por um segundo, capaz de perceber a verdade a respeito, e quando vê que ela é excessiva, volta. Mas o perceber temporariamente é suficiente; porque acontece então uma coisa extraordinária O inconsciente continua funcionando, ainda que o consciente rejeite. Nesse segundo não ocorre nenhum progresso; mas esse segundo é a única coisa, e produzirá os seus resultados ainda que a mente consciente esteja lutando contra ele.

Nossa questão é esta: É possível a mente estar livre do conhecimento e da crença? Não é a mente constituída de conhecimento e crença? Estão entendendo bem? A estrutura da mente não é a crença e o conhecimento? A crença e o conhecimento são os processos do conhecimento, o centro da mente. O processo se fecha, o processo é consciente. Pode, a mente ficar livre de sua própria estrutura? Entendem o que quero dizer? A mente não é assim como a conhecemos...

Pode a mente deixar de existir? Tal é o nosso problema. A mente, tal como a conhecemos é sustentada pela crença, ela tem desejo, impulso de segurança, conhecimento e força acumulada. E se, com toda essa força e superioridade, o indivíduo não pode pensar por si mesmo, não é possível a paz neste mundo. Vocês podem falar a respeito, podem organizar partidos políticos, fazer proclamações do alto das casas; mas não podem ter paz; porque se na mente se acha a própria base que cria a contradição, que isola e separa. Iremos tratando disso, á medida que formos caminhando. Agora deixem-no a parte. Ouviram o que eu disse: deixe-o agora se agitar, dentro de vocês. Se já abandonaram o desejo, se já o extinguiram, tanto melhor; se não, deixem aquela coisa atuar. E ela atuará, se souberem escutar corretamente, porque há algo de interesse vital, algo que precisam resolver. O homem amante da paz, o home sincero, não pode se isolar e ao mesmo tempo falar de fraternidade e de paz. Isso é mero jogo político ou religioso, e denota sempre interesse de consecução, ambição. Trataremos disso mais tarde. O homem que sente real empenho a esse respeito, que deseja descobrir, tem de fazer frente ao problema do conhecimento e da crença; tem de penetrar a sua significação, descobrir todo o processo do desejo em funcionamento, do desejo de estar em segurança, do desejo de certeza.    

Krishnamurti - Quando o Pensamento Cessa




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