Meditando sobre o tenebroso medo da morte
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Meditando sobre o tenebroso medo da morte


Por que vocês se preocupam com o além? Porque o viver neste mundo perdeu o seu significado; não há amor perdurável, há apenas conflito e tristeza.

Vocês esperam, assim, por um outro mundo, o do além, no qual possam viver felizes e com plenitude. Não havendo tido uma oportunidade de preenchimento neste mundo, esperam em outra vida, poderem realizá-lo. Ou então, desejam novamente encontrar aqueles a quem, pela morte, perderam, coisa que é apenas indício da vacuidade de vocês. Se eu disser que existe vida no além e outra pessoa lhes disser que não existe, escolherão a hipótese que lhes dá maior satisfação, e por esse modo, tornam-se escravos da autoridade. Portanto, o problema não se resume em saber se existe o além, o que importa é compreender, neste mundo, a plenitude da vida, que é eterna; desimpedir a ação e não criar limitação.

Para o homem que atingiu o preenchimento, que não se separa do movimento da realidade, não há morte.

Como o indivíduo há de viver, de modo que a ação seja preenchimento? Como o indivíduo pode enamorar-se da vida? Para enamorar-se da vida, para obter o preenchimento, é preciso ter a mente livre, mediante a compreensão profunda das limitações que a deturpam e frustram.

Vocês tem que se tornarem apercebidos, conscientes de todos os obstáculos localizados no fundo da mente.

Existe dentro de cada um de nós, o inconsciente que, continuamente, embaraça, perverte a inteligência. Esse inconsciente torna a vida incompleta.

Vocês necessitam drenar, por meio da ação, por meio do viver, por meio do sofrimento, todas essas coisas que estão ocultas, escondidas em vocês.

Quando a mente não se preocupar com o medo, com o além, e estiver plenamente consciente, apercebida do presente, e de seu profundo significado, então existirá o movimento da realidade, da vida, que não é de vocês, nem minha.
(...)
Para aquele que está constantemente se preenchendo, não há medo da morte. Se formos realmente completos em cada momento, em cada dia, então desconheceremos o temor do amanhã. Mas, as nossas mentes criam a falta de plenitude da ação, e assim, o temor do amanhã. Fomos adestrados pela religião, pela sociedade, na falta de plenitude, no adiamento, e isto nos serve como fuga do medo, porque temos o amanhã para completar o que não podemos preencher hoje.

Mas, um momento por favor. Desejaria que olhassem esse problema, sem o fundo das tradições de vocês, modernas ou antigas, sem a crença de vocês na reencarnação, porém, muito simplesmente. Então, compreenderão a verdade, que lhes libertará completamente do medo. Para mim, a ideia de reencarnação é simples adiamento. Muito embora vocês possam acreditar profundamente na reencarnação, mesmo assim, quando morre alguém, vocês ainda têm medo e tristeza, ou o medo da própria morte. Vocês podem dizer: "Viverei do outro lado; serei muito mais feliz, e farei melhor trabalho ali do que posso fazer aqui". Mas as palavras de vocês são apenas palavras. Elas não podem tranquilizar o medo inquietante que sempre está no coração de vocês. Assim, tratemos desse problema do medo, de preferência à questão da reencarnação.

Quando houverem compreendido o que é o medo, verão a não importância da reencarnação. Então, nem mesmo precisaremos de discuti-la. Não me perguntem o que acontece ao aleijado, depois da morte, ao que é cego nesta vida: se compreenderem o ponto central, consideraram tais questões inteligentemente.

Vocês temem a morte, porque os seus dias são incompletos, porque nunca existe preenchimento em suas ações. Quando a mente de vocês está presa numa crença, crença no passado ou no futuro, não podem compreender plenamente a experiência. Quando a nossa mente está presa ao preconceito, não pode haver entendimento completo da experiência na ação. Daí vocês dizerem que devem ter um amanhã, no qual completarão a ação e vocês tem medo de que não venha esse amanhã. Mas, se puderem completar no presente a ação de vocês, então o infinito está diante de vocês. O que lhes impede de viver integralmente? Por favor, não me perguntem como completar a ação, pois é a maneira negativa de olhar a vida.

Se eu lhes disser como, então tornarão a ação de vocês meramente imitativa, e nisso não há plenitude. O que vocês tem de fazer é descobrir o que lhes impede de viver plena, infinitamente; e descobrirão que é esta ilusão de um fim, de uma certeza, a que a mente de vocês está presa, esta ilusão de atingir um objetivo.

Se estiverem constantemente aguardando o futuro, no qual esperam triunfar, lucrar, ter sucesso, conquistar, a ação de vocês no presente tem de ser limitada, incompleta. Quando a ação de vocês está baseada na fé, tal ação não é preenchimento; é meramente o resultado da fé.

Desse modo, existem na mente de vocês muitos empecilhos; há o instinto de posse cultivado pela sociedade, e o instinto da renúncia, também cultivado pela sociedade. Quando há conformidade e imitação, quando a mente está limitada pela autoridade, não pode existir preenchimento, e disso surge o medo da morte, e muitos outros temores que fazem ocultos no subconsciente.
(...)
Não há remédio nem substituição para o medo, exceto no entender a causa do próprio medo. A mente está, continuamente limitada pelas recordações do passado, e essas lembranças embaraçam-lhe o preenchimento da ação no presente. Por isso não há plenitude da ação no presente, o que cria o temor da morte.
(...)
Quando a mente perde a sua limitação egoísta, dá-se, então, o movimento da vida, um perpétuo vir-a-ser, em que não existe a sombra da morte.
(...)
O tenebroso medo da morte arrebata a viva joia dos olhos de vocês.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK





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