O contato consciente com o ser que somos é meditação
autoconhecimento

O contato consciente com o ser que somos é meditação


Estar constantemente vigilante e apercebido, ser meditativo, é o princípio da meditação, pois, sem a verdadeira base do discernimento, a simples concentração e outras formas da chamada meditação tornam-se perigosas e não tem nenhuma significação profunda. Quando estiverem alerta, descobrirão que a mente está procurando um resultado, uma conclusão, desejando uma recompensa, uma segurança. A busca de uma predeterminada conclusão não é mais meditação, porque, neste caso, o pensamento está preso na sua própria rede de imagens. 

Consideremos o processo da meditação um pouco mais profundamente. É muito difícil fixar o errante, o tremulo pensamento; ele se move de um objeto de sensação para outro, de um desejo para outro. Nesse processo, ficamos apercebidos da extrema sensibilidade do pensamento. O pensamento vagueia de uma série de ideias para outra, seja pelo desejo ou apenas porque é preguiçoso e indiferente. Se o pensamento apenas se abstém de vaguear, torna-se estreito, limitado e destrutivo. Se o pensamento está interessado em vaguear, então o simples controle de si mesmo é inútil, porque nada descobrirá, pois está interessado na dissipação de sua própria energia. Mas, se estão interessados em descobrir por que ele é errante, então, estão começando a discernir, a estarem apercebidos e, assim, há uma natural, espontânea concentração. Portanto, devem observar, primeiro, que o pensamento é imprevisível; depois, discernir a causa dessa imprevisibilidade. Quando o pensamento percebe que é indolente, preguiçoso, já está começando a ser ativo; mas dominar simplesmente o pensamento não produz ação criadora.
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Quando há uma concentração natural de interesse, não o mero controle, vocês começam a descobrir que o pensamento está num constante processo de imitação, sempre vagueando através de suas múltiplas camadas de memórias, preceitos, exemplos; ou, tendo experimentado uma sensação estimulante ou uma experiência durante os momentos de concentração, ele sente prazer nisto é procura vivificar esta passada sensação; mas, por este meio, somente bestifica seu próprio processo criador; ou, afastando-se da vida diária, o pensamento tenta desenvolver várias qualidades, a fim de dominar suas ações quotidianas, e a vida perde a sua significação intrínseca, e o padrão torna-se mais importante.

Tudo isto é, pois, meramente uma forma de aproximação e não a meditação criadora. Se estiverem apercebidos, durante as atividades diárias de vocês — quando estão conversando, passeando, ganhando dinheiro, ou buscando pelo prazer — neste apercebimento, que depende da energia de vocês, há um começo de compreensão, um amor, que não está às ordens do intelecto e da emoção.

Deste modo, a meditação é um processo de apercebimento na ação. A meditação deve surgir da realidade da vida, e, assim, a meditação é um processo de libertação de si própria. Meditação não é aproximação de um modelo. A tranquilidade da mente por meio da vontade, da escolha, pode trazer certa calma, mas esta calma é da morte, produz esmorecimento. Isto não é meditação. Mas a compreensão da escolha, que é um processo muito delicado e ardente, é meditação em que há calma sem nenhum traço de esmorecimento ou contentamento. É necessário haver na meditação vigilância e discernimento. Meditação é um processo de plenitude, de totalidade, e não uma série de conseguimentos que culminem na realidade.
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Não separem a concentração e a meditação da ação na vida diária de vocês.

Presentemente, vocês limitam a mente e o coração por meio da disciplina, pelo próprio domínio; ao passo que, se completarem o pensamento e a emoção na ação, se tornarão apercebidos das restrições que lhes são impostas pela sociedade e pela tradição, pelo temor e pela conformidade.

Mediante este apercebimento, vocês chegarão à descoberta do verdadeiro valor das suas ações e nessa descoberta reside a concentração espontânea, a alegria da meditação. Nessa natural e espontânea concentração, a qual é meditação ou verdadeira contemplação, não existe esforço para dirigir a mente ou para adestrá-la ou guiá-la. Esta meditação é a plenitude da vida, durante todo o dia. É a ação não embaraçada, na plenitude do pensamento e do sentimento. Só quando a mente está livre da limitação dos ideais é que existe a compreensão do eterno.
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Para compreendermos a vida, devemos estar em seu movimento, em seu fluxo. Devemos ser conhecedores do processo da ignorância, do desejo e do temor, pois que somos esse mesmo processo. Quer-me parecer, a meu pesar, que muitos dentre vocês que frequentemente me ouvem, mas que não experimentam o que digo, apenas adquirirão uma nova terminologia, sem essa fundamental mudança de vontade, que é a única a poder libertar a mente — coração do conflito e da tristeza. Em vez de um método de meditação, o que nada mais é do que índice de anseio por uma fuga da atualidade, discirnam, por vocês mesmos, o processo da ignorância e do medo. Este profundo discernimento é meditação.  

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK




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