O pensar correto gera a profissão correta
autoconhecimento

O pensar correto gera a profissão correta


As pessoas destituídas de diplomas acadêmicos são os melhores mestres, porque tem disposição para experimentar. Não sendo especialistas, tem interesse em aprender, em compreender a vida. Para o verdadeiro educador, ensinar não é uma técnica, é vocação; como um grande artista, preferiria morrer à mingua que renunciar ao trabalho criador. Quem não sentir esse ardente desejo de ensinar não deve ser preceptor. É de suma importância que o indivíduo descubra por si mesmo se têm esse dom, em vez de apenas deixar-se impelir para o ensino, por constituir um meio de vida.(1)

A maioria das nossas ocupações são inspiradas pela tradição, pela avidez ou pela ambição. Em nossas atividades, somos desapiedados competidores, embusteiros, ardilosos e altamente preocupados com nossa própria proteção. A qualquer momento (…) correremos o risco de soçobrar e por isso temos de ajustar-nos ao ritmo altamente eficiente da insaciável máquina dos negócios. É uma luta incessante pela manutenção de uma posição.(2)

Mas, na vida de relação está implicado um processo inteiramente diferente. Nela é indispensável que haja afeto, consideração para com os outros, ajustamento, abnegação, condescendência; nela não se trata de vencer, porém de viver feliz.(3)

Mas, como é possível conciliar duas coisas, como o egoísmo e o amor, os negócios e as relações com os semelhantes? Uma é desapiedada, competidora, ambiciosa; a outra, abnegada, delicada, suave. (…) Com uma das mãos contamos dinheiro e derramamos sangue, enquanto procuramos com a outra afagar, testemunhar afeto e consideração.(4)

A ocupação justa não se inspira na tradição, nem na ganância, nem na ambição. Quando cada um estiver verdadeiramente interessado em estabelecer a verdadeira vida de relação, não só com um, mas com todos, achar-se-á, então, a ocupação justa. Esta resulta da regeneração, da transformação do coração, e não apenas da determinação intelectual de encontrá-la.(5)

Mas, embora importante e benéfica, a ocupação justa não constitui, em si, um fim. Podeis ter um justo meio de vida, mas se interiormente fordes incompletos e pobres, sereis uma fonte de miséria para vós mesmos e, portanto, para os outros; sereis irrefletidos, violentos, egoístas. Sem a liberdade interior da Realidade, não encontrareis nem a alegria nem a paz. Na busca e na descoberta daquela Realidade interior, podemos não somente contentar-nos com pouco, mas também adquirir conhecimento de algo que ultrapassa todos os padrões. É isso o que cumpre procurar em primeiro lugar; as outras coisas virão na sua esteira.(6)

Ora, nas condições em que a sociedade existe no presente, não há possibilidade da escolha entre o meio de vida correto e o (…) incorreto. Pegamos o primeiro emprego se temos a boa sorte de achar um. (…) Mas, para aqueles e vós que não sofrem igual premência (…) qual o meio de vida correto numa sociedade que está baseada (…) nas diferenças de classes, no nacionalismo, na ganância, na violência? (7)

É muito importante que cada um de nós descubra qual é a sua relação com a sociedade, se ela está baseada na ganância - que significa auto-expansão, preenchimento do “eu”, que supõe poder, posição, autoridade - ou se simplesmente aceitamos da sociedade as coisas essenciais, tais como alimento, roupa e moradia.(8)

Perguntais-me qual a profissão que vos aconselho (…) Que está acontecendo neste mundo? Há possibilidade de se escolher profissão? Cada um segura aquilo que pode. Já nos consideramos felizes se achamos trabalho. Assim é em todas as partes do mundo. Porque temos um único alvo: ganhar dinheiro, seja como for, para viver.(9) 

O pensar correto gera a profissão correta e a ação correta. Não podeis pensar corretamente, sem autoconhecimento. (…) É extremamente difícil escolher uma profissão num mundo civilizado desta espécie, em que toda ação conduz à destruição e à exploração.(10) 

A maioria das pessoas são forçadas a entregar-se a trabalhos, atividades, profissões, para as quais de forma alguma estão talhadas. Passam o resto da existência batalhando contra essas circunstâncias, disparando assim todas as energias em lutas, dores, sofrimentos (…) Outros homens rompem as limitações do ambiente, depois de compreenderem o seu verdadeiro significado, passando a viver inteligentemente, em atividades criadoras, seja no mundo da arte, da ciência, seja nas profissões.(11)

A maioria das pessoas são forçadas a entregar-se a trabalhos, atividades, profissões, para as quais de forma alguma estão talhadas. Passam o resto da existência batalhando contra essas circunstâncias, disparando assim todas as energias em lutas, dores, sofrimentos (…) Outros homens rompem as limitações do ambiente, depois de compreenderem o seu verdadeiro significado, passando a viver inteligentemente, em atividades criadoras, seja no mundo da arte, da ciência, seja nas profissões.(12) 

Eis porque é importantíssimo achar a vocação justa. Sabeis o que significa “vocação”? É a ocupação que desempenhamos com agrado, com naturalidade. Afinal, tal é a função da educação (…) de uma escola como esta, a saber, ajudar-vos a crescer com independência, para que não sejais ambiciosos e possais achar a vossa verdadeira vocação.(13) 

A verdadeira educação deve ter por fim ajudar-vos a ser tão inteligentes que (…) possais escolher uma ocupação a vosso gosto (…) ou passar fome, mas nunca fazer uma coisa estúpida, que vos fará infeliz para o resto da vida.(14)

Para a maioria dentre nós, a profissão está separada da nossa vida pessoal. Temos o mundo da profissão e da técnica, e a vida dos sentimentos sutis, das idéias, (…) e do amor. Estamos adestrados para o mundo da profissão e só ocasionalmente (…) escutamos uns vagos murmúrios da realidade.(15) 

O mundo da profissão tornou-se, gradualmente, exigente, tomando quase todo o nosso tempo, de modo a deixar pouca margem ao pensamento profundo e à emoção. Por esse modo, a vida da realidade, da felicidade torna-se cada vez mais vaga.(16)

Com raras exceções, o exercer uma profissão não é a expressão natural do indivíduo. Não é a plenitude ou a completa expressão do seu ser integral. Se examinardes isso, haveis de averiguar que tal coisa é apenas o (…) adestramento do indivíduo no sentido de ajustar-se a um sistema rígido, inflexível. Esse sistema está baseado no temor, no espírito da aquisição e na exploração.(17)

Pois bem, a maioria de nós se embota nisso que se chama trabalho, emprego, rotina, (…) Tão identificado (…) que não pode vê-lo objetivamente; (…) Vive numa gaiola (…) isolado (…) O seu trabalho, por conseguinte, é uma forma de fuga da vida: da sua esposa, de seus deveres sociais.(18) 

Enquanto não houvermos descoberto o que é verdadeiro, o que é Deus, essa coisa extraordinária que enche a vida de grandeza, de bondade e beleza, todas as nossas atividades, em qualquer nível que seja, só podem ter uma significação superficial. A menos que estejamos experimentando diretamente o que é verdadeiro, momento a momento, a nossa civilização se torna mecânica e, portanto, destrutiva. Certo, o homem existe para encontrar-se com Deus, e não apenas para ganhar o seu sustento e ajustar-se a um padrão social.(19)

Krishnamurti, em
(1) A Educação e o Significado da Vida
(2) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 19-20
(3) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 19-20
(4) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 19-20
(5) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 21
(6) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 34
(7) A Arte da Libertação, pág.170
(8) A Arte da Libertação, pág.173
(9) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 95-96
(10) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 97
(11) A Luta do Homem, pág. 94
(12) A Luta do Homem, pág. 94
(13) Novos Roteiros em Educação, pág. 68
(14) Novos Roteiros em Educação, pág. 19
(15) Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 125
(16) Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 125
(17) Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 126
(18) Novo Acesso à Vida, pág. 127
(19) Visão da Realidade, pág. 113




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