O Poder da Presença - Ramana Maharshi
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O Poder da Presença - Ramana Maharshi




"Gostaria de começar, fazendo uma referência a uma experiência, um tanto "mística" - que tive durante a minha estadia no Ashram de Sri Ramana Maharshi. Mesmo que seja difícil de descrevê-la, tentarei transmitir alguma ideia a respeito. (...)

Com aquele primeiro darshan de Ramana Maharshi, que tive na sala, e acabava de chegar, descobri o brilho resplandescente do sol em um só olhar; foi como se esse olhar atravessasse o mais profundo do meu ser. Minha respiração parou por um tempo e a mente ascendeu a uma dimensão espiritual de paz e felicidade inefáveis.

Mediante o desapego e o discernimento se pode aspirar alcançar o estado de sakshibhava, o estado do testemunho, mas existe um estado mais elevado, no qual se toma toma consciência de existência, com tudo o que existe; este estado se denomina abhinnabhava. Este estado, alcançado por por Maharshi, supera qualquer possível forma de compreensão da mente do buscador.

Apesar de estar sentado na sala, observei Maharshi, que descansava no sofá e se mostrava completamente indiferente a tudo o que se sucedia em sua presença, (por exemplo, o ir e vir constante dos visitantes que um após o outro se prostravam diante dele ) e mesmo assim pude discernir nele de forma muito evidente, essa atitude de unidade com o todo chamada de abhinnabhava. Posso afirmar com total confiança que tocava o ser interior de todos os visitantes com aquele abhinnabhava que transcendia os pensamentos e então, os visitantes se viam capacitados para sentir em seu interior a presença do espírito universal.
Ao perceber que era assim que Maharshi irradiava a energia do Ser, decidi perguntar-lhe qual era a melhor forma de preparar-me, apesar de estar sentado em sua presença, para receber aquela transmissão de graça.

Pergunta - Quando estamos sentados perto de ti que estado mental devemos manter para receber sua transmissão de teu Ser?

Sri Ramana - Mantenha a mente em silencio, isso é o bastante. Se te manténs em silencio, receberás a ajuda espiritual que necessitas nesta sala. O objetivo de qualquer prática é acabar com a mente. Quando a mente se aqueta, se experimenta a energia do Ser. As ondas do Ser estão por toda parte e se começa a experimentá-las quando a mente está em paz.

Pergunta - O que é melhor para mim: olhá-lo nos olhos ou no rosto? Ou é melhor ficar quieto com os olhos fechados e dirigir a mente a algo determinado?

Sri Ramana - Fixa seu olhar em sua própria natureza. É indiferente que tenhas os olhos abertos ou fechados. O único que existe por todas as partes é a Unidade, assim que não importa se manténs os olhos abertos ou fechados. Se quiser, medite no "EU" que carregas dentro de ti. Esse é o atman, e como não tem olhos, não é necessário abri-los nem fechá-los. Quando alcançar o conhecimento do seu próprio Ser, já não restará nenhum conceito sobre o mundo. Quando estás sentado em sua casa, se as janelas estão abertas ou fechadas, você segue sendo a mesma pessoa, no mesmo estado. Da mesma forma, quando estás estabelecido no estado da realidade, não importa que tenhas os olhos abertos ou fechados: as coisas que acontecem externamente tem escassa importância.

A reciprocidade que existe entre Sri Ramana Maharshi e sua abhinnabhava, e o buscador que está sentado em sua presença, é análoga a do radio-transmissor e o radio-receptor, quando o visitante está verdadeiramente ansioso por obter o máximo benefício de energia de bondade que irradia a presença silenciosa do sábio, deve sintonizar sua mente - receptora - com a longitude adequada de onda.

O silencio do sábio é constante, e exerce sua influencia positiva sem interrupção, tanto se tem a sensação de que o sábio é consciente do mundo como que não é. Voltando a analogia do transmissor, posso afirmar que no que se refere ao sábio, sua influencia espiritual se transmite sem parar, desde o ponto de vista do buscador, que mesmo preso ao poder de maya, o efeito permanentemente benéfico do sábio, não terá efeito aparente a menos que o buscador esteja preparado para recebê-lo. Em uma conversação que mantém com outro devoto durante minha estadia no ashram, o próprio Maharshi comparou a irradiação de sua graça com um radio-transmissor.

Pergunta: Segundo algumas pessoas, é egoísta dedicar-se a alcançar a liberação, e em seu lugar deveria se dedicar a ajudar aos demais, realizando algum tipo de serviço altruísta.

Sri Ramana - Estas pessoas creem que os jñanis são egoístas, e eles não são. mas isso não é certo. Os jñani vivem a experiência de Brahman e o efeito de sua experiência se estende por todo mundo. Da mesma forma que uma transmissão de radio se realiza de um lugar determinado, seus efeitos podem sentir em qualquer lugar do mundo e aqueles que quiserem se beneficiar com ele, assim podem fazê-lo. Da mesma maneira, o estado de iluminação do jñani se estende por todas as partes e está a disposição de todos que queiram se conectar com ele. Portanto, não se trata de um serviço menor.

Durante minha estadia no ashram, tomei nota das conversações sobre a auto-indagação que aconteceram entre Maharshi e vários visitantes. Vejamos diretamente o que Maharshi tem a nos dizer sobre isso, ele mesmo nos explica como devemos praticar a auto-indagação.

Pergunta: Quem sou eu? a quem se refere esta pergunta?

Sri Ramana - A pergunta se refere ao "eu" individual, não ao atman. ( Ser ).

Pergunta - É conveniente que repita "Sou Shiva," cada vez que me pergunto "Quem sou eu"? Não seria melhor responder: "Não sou a mente, não sou o intelecto, não sou o corpo", etc..?

Sri Ramana - No transcurso da auto-indagação, não há que se dar respostas à mente, pois há que se permitir que a resposta surja de dentro. A resposta que provém do "eu" individual não é real. Há que se seguir indagando, até se obter a resposta com o método de jñana marga (o caminho do conhecimento ). Esta auto-indagação se chama meditação e a experiência inativa, plena de paz e conhecimento que surge deste estado, é jñana.

Pergunta: As perguntas: Quem sou eu? Sou de onde? 
Há que fazer constantemente japa, (repetição de palavras sagradas ) ou há que se fazer a pergunta uma ou duas vezes mentalmente, até que ela atinja a raíz do "eu", e então que se interrompa todos os pensamentos sobre o mundo?

Sri Ramana -  Não se trata de fazer japa com a pergunta "Quem sou eu? Quem sou eu?". Uma vez que a pergunta seja plantada na mente, há que se buscar a raíz do "eu" e interromper os demais pensamentos. Se alguém se chama Desai, não necessita ficar repetindo: "Sou Desai, Sou Desai." Pelo mesmo motivo, tampouco é necessário que se repita frases como "Sou Brahman, Sou Brahman". Em todas as formas de sadhana se procura manter a mente quieta, mas mesmo que se faça japa, a mente nunca vai se manter quieta. Ao invés de praticá-lo dessa maneira, o que acontece é experimentar que Brahman é o sujeito que vê a mente, isto é, o testemunho. Se deve experimentar Brahman, o testemunho.

Pergunta : Segundo seus ensinamentos, quando se embarca na busca do "eu", a experiência do testemunho acontece?

Sri Ramana - Sim.

Pergunta: Depois, se você apaga completamente o que tem sido, o testemunho se converte na forma de Brahman?

Sri Ramana - Assim é.

Pergunta :  É conveniente se praticar pranaiama ( controle da respiração ) com regularidade, juntamente com a pergunta "Quem Sou eu?", e mesmo repetindo a pergunta permanecer com a atenção focada na entrada e saída do ar?  

Sri Ramana - Não é necessário se fazer pranaiama; é muito melhor que se tente realizar a auto-indagação Quem Sou eu?, sem centrar a atenção na respiração. O pranaiama existe para os que não são capazes de concentrar a mente de nenhuma outra maneira. A medida que a mente se fortalece, o pranaiama vai deixando de ser necessário. A função principal do pranaiama é proporcionar as rédias necessárias para se manter sob controle o cavalo da mente. 

Pergunta : Qual sua opinião sobre os siddhis? ( poderes sobrenaturais )

Sri Ramana - A iluminação é maior que os siddhis.

Pergunta: Quando me pergunto Quem Sou eu? não encontro nenhuma resposta que venha de dentro.

Sri Ramana - Isso se deve a uma crença errônea. Se buscar adequadamente, descobrirá que esse "eu" que está tentando descobrir algo, acabará mais tarde por deixar de existir. A medida que se libertas de pensamentos de nomes e formas, irá se aprofundando cada vez mais em seu interior.

Pergunta: Se conseguir eliminar todos os pensamentos, estaria então meditando adequadamente?

Sri Ramana - Isto está bem a princípio, mas só quando se intensificar a sua atração pelo Ser, começará a auto-indagação e ao mesmo tempo, cessará todo este esforço e aparecerá um novo estado.

Pergunta - Se pode praticar Sadhana da auto-indagação levando uma vida normal ou há que se sair de casa?

Sri Ramana - É você que está em casa, ou é a casa que está em ti? Fique onde estiver.

Pergunta - Então, posso permanecer em casa.

Sri Ramana - Este não é o significado. O que quero dizer é que deves viver em sua verdadeira natureza. Você não está em casa, na verdade é a casa, assim como o mundo, que está em ti. É o dono da casa que está convencido de que não é o dono de nada e apesar de viver nela é o autêntico renunciante. Imagina que existe um homem que está dormindo no trem. Ele é o mesmo homem, esteja o trem andando ou parado. Aquele que está adequadamente estabelecido no atman, lhe acontece o mesmo, porque sabe que neste mundo não se sucede nada, e que ele nunca destrói nada. Só sentimos que sucede algo, quando estamos no estado de pramata - o sujeito conhecedor de algo - mas este estado não constitui nessa verdadeira natureza. Para o jñani que se despojou do  conceito de conhecedor, nunca acontece nada."
Extrato do Livro El Poder de la Presença vol 1  de David Godman




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