O que chamais intuição bem pode ser a projeção de vosso próprio desejo
autoconhecimento

O que chamais intuição bem pode ser a projeção de vosso próprio desejo


PERGUNTA: Concordo convosco que a ciência não nos trouxe a felicidade. Tenho procurado estar receptivo, intuitivo e pronto para receber os sinais procedentes do interior. Estou na boa trilha?

            KRISHNAMURTI: Para compreender-se esta pergunta, precisamos compreender o que entendemos por consciência; porque, o que chamais intuição bem pode ser a projeção de vosso próprio desejo. Há muitas pessoas que dizem “creio na reencarnação. Sinto que ela é um fato. Minha intuição me diz”. Isso é evidentemente o desejo que essas pessoas têm de prolongarem, de continuarem a própria existência. Temendo tanto a morte, querem ter a garantia de que há uma outra vida, uma nova oportunidade, etc., etc. Por essa razão sentem “intuitivamente” que a sua crença é correta. Nestas condições, para compreender-se esta pergunta, precisamos compreender o que se entende por “interior” e “exterior”. É possível receberem-se comunicações procedentes do interior, quando viveis a demandar um fim, quando quereis chegar a um alvo, cultivar uma qualidade, quando desejais ser felizes? Certo, para receber comunicações do interior, deve a mente, a mente superficial, ficar completamente livre de todas as complicações e preconceitos, de todo desejo, de todo nacionalismo; do contrário as vossas “intuições” vos transformarão no maior dos nacionalistas e num terror para o resto do mundo.
            Nosso problema, pois, consiste em sabermos como é possível receber-se a comunicação do desconhecido, sem a desfigurarmos, sem a traduzirmos no nosso padrão condicionado de pensamento.  Para o compreendermos, precisamos entrar na questão da consciência. Que é consciência? Que entendemos por “estar consciente”? Por Certo, dizeis “estou consciente” no momento em que experimentais algo, não é verdade? Quando ocorre uma experiência, não importa se agradável ou desagradável, há a percepção de estardes consciente de tal experiência. Daí, passais a dar o nome à experiência, a designá-la por um termo, não é assim? Dizeis que ela prazer, ou não é prazer, lembro-me disso, não me lembro daquilo. Vós lhe dais nome, pois. A seguir, a registrais na memória. Pelo simples processo de dar nome à experiência, vós a estais registrando. Estais-me acompanhando, ou tendes sono ainda? (Risadas).
            Ora bem; só existe consciência, quando tendes a experiência e a desiguais por um nome e a registrais. Não aceiteis o que estou dizendo; observai por vós mesmos e vereis que o processo é esse. Isso se está passando continuamente, em todos os níveis, consciente ou inconscientemente. E nos níveis mais profundos da consciência o processo é quase instantâneo, tal como no nível superior, com a diferença de que no nível superior existe escolha, no nível mais amplo e mais profundo dá-se o reconhecimento imediato, sem escolha. E a mente superior, ou superficial, só pode receber a comunicação depois de terminado o processo de dar nome e registrar; isso acontece quando o problema é muito importante ou muito difícil.
            Procurais resolver um problema, e não encontrais solução. Cessais então de pensar nele. No momento em que deixais de pensar nele, dá-se uma reação, uma comunicação, isso porque a mente, a mente consciente, já não está a lutar, a procurar solução. Está agora tranqüila. A exaustão pela fadiga é uma espécie de quietação. Pôr isso, fica a mente capacitada para receber a comunicação. Mas aquela intuição que a maioria das pessoas tem, representa, na realidade, o preenchimento dos próprios desejos. Esta a razão de tantas guerras, tantas crenças organizadas, tantos antagonismos e disputas; porque cada um julga tão verdadeira a própria intuição, que por ela está pronta a morrer ou a maltratar os outros.
            Parece-me que a pessoa que pensa estar seguindo a intuição, está no caminho errado; porque, para se ter plena compreensão, é necessário transcender a razão. Para transcender a razão razão, precisamos, primeiramente, conhecer o processo do raciocínio. Não podemos transcender uma coisa que desconhecemos; para a transcender, precisamos saber o que ela é. Precisamos compreender integralmente o significado da razão, a maneira de raciocinar, e a maneira de estudá-la; não podemos saltar por cima dela. Não quero dizer que para isso precisais de uma cerebração fora do comum, que precisais de ser um grande estudioso ou erudito. O que se necessita é probidade do pensar, clareza, o desejo ser acolhedor, de abrir as portas ao “que é”, sem receio sofrer. Desaparece, então, a barreira entre o interior o exterior. Mas, para que haja essa integração requer-se perfeita compreensão do processo mental.

Krishnamurti - Solução para os nossos conflitos
(Conferências, com perguntas e respostas, realizadas em Ojai, Califórnia,




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