O que colocará fim na superficialidade de nossa vida?
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O que colocará fim na superficialidade de nossa vida?


O homem, evidentemente, sempre buscou uma certa coisa fora de si mesmo, além de sua diária rotina de tédio, desespero, ansiedade; uma certa coisa que lhe proporcione plena satisfação e dê significado à sua vida aflita, caótica, superficial. Procuramos alguma coisa fora de nós, porque vivemos uma vida superficial, muito pouco expressiva, mecânica, rotineira. Aspiramos a uma certa coisa misteriosa, de natureza diferente. Estamos perenemente buscando, seja através dos livros, seja seguindo alguém, criando ideologias, crenças, dogmas, sempre na esperança de alcançar, realizar, ganhar alguma coisa não construída pelo pensamento, alguma coisa de profunda significação na vida. Porque, em nós mesmos, somos superficiais, vazios, insuficientes, estendemos a mão, estendemos a mente para além dos limites do pensar, ou tratamos de fugir desta profunda e vasta solidão, deste estado de isolamento. Queremos fugir de nós mesmos, porque vemos como somos pequenos e vulgares e nossa vida é de muito pouca significação. 

(...) Se penetramos fundo em nós mesmos, vemos o que é isso o que somos quase todos nós. Se somos religiosos, pertencentes a uma dada seita, ou se acalentamos uma dada idiossincrasia que nos proporciona uma experiência que sobremodo nos satisfaz, queremos dilatar essa experiência, aprofundá-la, torná-la mais real. A maioria de nós está sempre a buscar, ou porque queremos fugir de nossa diária rotina e tédio, de nossa insuficiência e vazio, de nosso isolamento; ou porque queremos mais alguma coisa, alguma coisa que não possuímos e que dará riqueza, plenitude, suficiência, à nossa vida. Se examinarmos nosso próprio comportamento, nosso próprio pensar, decerto descobriremos que todos nós desejamos alguma cosia. Quanto mais misteriosa essa coisa, quanto mais oferece de místico e de secreto, tanto mais a buscamos. Precisamos de uma certa autoridade que nos guie para aquelas esferas inexploradas, e por isso aceitamos com tanta facilidade a autoridade — que seguimos cegamente ou racionalmente, dando várias explicações do porque a seguimos. Estamos constantemente buscando, exigindo experiências sempre mais vastas e profundas, porque as experiências que conhecemos são muito pouco significativas. Sabemos que são sensuais, agradáveis, bastante vazias e superficiais e, por conseguinte, escutamos sofregamente a todo aquele que nos oferece alguma coisa fora dessa esfera. Estamos prontos a aceitar suas palavras, suas instruções, suas asserções. Sempre seguindo, sempre a dizer "sim" a tudo que nos é oferecido. Não sabemos dizer "não".

(...) No fundo, a nossa vida é confusão, desordem, aflição, agonia. Quanto mais sensíveis somos, tanto maior o nosso desespero e ansiedade, nosso "sentimento de culpa"; e dessa vida desejamos naturalmente fugir, porque nela não encontramos nenhuma solução; não sabemos de que maneira sair de nossa confusão. Desejamos fugir para um outro mundo, uma outra dimensão. Fugimos por meio da música, da arte, da literatura; mas, trata-se sempre de fuga e a coisa para que fugimos é sem realidade, em comparação com aquilo que estamos buscando. Todas as fugas são iguais, não importa se fugimos pela porta de uma igreja, em busca de um Deus ou de um Salvador, ou pela porta da bebida ou de diferentes drogas. Não só temos que compreender o que e o porque estamos buscando, mas também temos de compreender essa necessidade de experiências profundas e duradouras, porque só a mente que nada busca, que não exige experiências de nenhuma forma, poderá ingressar numa esfera ou dimensão inteiramente nova. 

(...) Nossa vida, em si mesma, é superficial, insuficiente, e desejamos uma outra coisa, uma experiência mais sublime, mais profunda. também, vivemos num inaudito isolamento. Todas as nossas atividades e pensamentos e maneiras de comportar-nos levam-nos a esse isolamento, a essa solidão a que desejamos fugir. Se não compreendermos esse isolamento, não intelectual, verbal ou racionalmente, porém entrando diretamente em contato com o que realmente estamos buscando, entrando em contato com o estado de solidão; se não compreendermos e dissolvermos, completamente, aquele isolamento, toda meditação, toda busca, toda atividade espiritual ou religiosa (assim chamada) será inteiramente fútil, porquanto representará uma fuga ao que somos. É o mesmo que uma mente superficial, embotada, mesquinha, pensar em Deus. Se existe essa coisa em que ela pensa, aquela mente e seu Deus permanecerão muito insignificantes. 

A questão consiste em saber se é possível à mente que está fortemente condicionada, toda enredada nas aflições e conflitos da vida de cada dia, se é possível a essa mente manter-se desperta, tão ampla e profundamente desperta que não haja busca nenhuma, nenhum desejo de experiência. Quando um indivíduo está desperto, quando em si próprio há luz, não há busca e nenhum desejo de mais experiências. Só o homem que está na escuridão vivem em busca de luz. É possível um indivíduo manter-se tão intensamente desperto, tão altamente sensível, física, intelectualmente e a todos os respeitos, que não haja uma única sombra em sua mente? Só então não há mais busca; só então não há mais ânsia de novas experiências. 

É possível isso?

Krishnamurti em, Encontro com o Eterno





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