O que é meditação?
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O que é meditação?


Não sei até que ponto você está familiarizado com a palavra “meditação”. No Oriente é uma palavra muito familiar e, como tal, uma palavra bem tradicional. Lá, a meditação é uma coisa que se pode cultivar. O indivíduo disciplina, controla, molda os seus pensamentos em conformidade com um padrão. Para isso, existe um conjunto de regras: o modo de sentar-se, o modo de respirar, o modo de mover-se. Há vários sistemas de meditação e, se seguirmos este ou aquele sistema, obteremos, dizem eles, resultados. É claro que se obtém resultados. Isso é óbvio, pois não? Se faço uma coisa vezes e vezes repetidas, dia após dia, entra mês e sai mês, não posso deixar de obter um resultado; mas esse resultado é a projeção de uma mente vulgar, limitada, estúpida. Essa mente está se ajustando a um padrão e, por conseguinte, não há liberdade, e esse modo de meditação não é meditação, em absoluto. É mero ajustamento a um padrão, por meio do qual espero alcançar a paz, Deus, ou o que quer que desejo alcançar. Um homem de mentalidade burguesa, insignificante, frustrada, poderá sentar-se para “meditar”; poderá praticar métodos de disciplina, de controle, e moldar suas atividades de acordo com um padrão; mas sua mente permanecerá vulgar, e seu Deus será igualmente vulgar. Ao perceber por você mesmo essa verdade, você rejeitará inteiramente essa maneira de meditar e, no próprio ato de rejeitá-la, se libertará da velha ideia de que devemos nos ajustar aos padrões tradicionais. Quando você for livre, infinitamente livre, não mais haverá para você, contradição na ação; não mais haverá ajustamento a qualquer ideia ou ao padrão estabelecido pela tradição, pelos ditos e hábitos de inumeráveis pessoas. Quando você estiver livre de tudo isso por o ter compreendido, começara a meditar. A meditação é uma coisa maravilhosa, se sabemos como pratica-la — melhor, não há como: quando a praticamos.

A meditação requer a total compreensão do EU, e, por conseguinte, que você esteja livre da estrutura psicológica da sociedade. Isto é, quando já não é ambicioso, ávido, invejoso, e não mais está tentando alcançar, “vir a ser”; portanto, quando não há mais esforço. A mente está então perfeitamente tranquila; não foi posta tranquila à força de disciplina, de controle, de maneiras de respirar — e todos os demais artifícios e futilidades — nem por influência de drogas. Acha-se então a mente sobremodo ativa e quieta. Para manter-se ativa e quieta, a mente deve estar em silêncio, repleta de energia e, contudo, vazia.

Mas, você diz que a maioria de nós quer experiências. É claro, e tal é a razão porque tantas pessoas procuram meditar. Já tiveram todas as habituais experiências físicas, intelectuais e emocionais, e querem mais ainda, recorrendo às drogas. Encontram-se no mercado várias drogas estimulantes e que habilitam o indivíduo a passar por experiências fora do comum. Ora, é necessário compreender a natureza da experiência. Se você não tivesse experiências de espécie alguma, adormeceria. Se não fosse pressionado pela sociedade, pelos livros, por toda espécie de influência, logo adormeceria, porque você só deseja proteção, conforto, segurança. Tendo tido todas as experiências habituais, delas você se sente enfadado, entediado e, como você é um ente sensível, sutil, deseja agora experiências mais amplas e profundas; mas, trata-se ainda do mesmo movimento.

Pois bem. Quando você compreende integralmente a natureza da experiência, deixa de buscar por estímulos externos, proporcionadores de experiências. Depois de rejeitá-los, manifesta-se um estímulo interior, o qual cria sua peculiar experiência. Por essa razão é que, na chamada meditação, muitas pessoas têm visões — e como gostam de ter visões e de experimentar tantas infantilidades provenientes de seu próprio condicionamento! Após essa plena compreensão, a mente se acha tranquila, imóvel. Nesse silêncio não há “experimentar” de coisa alguma, porque a mente está viva, lúcida, é a luz de si própria; totalmente desperta como fica, encontra-se além de toda experiência. Isso é meditação.

Krishnamurti - O descobrimento do amor





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