O resgate da individualidade não adulterada
autoconhecimento

O resgate da individualidade não adulterada


Nós fomos "programados" biologicamente, fisicamente, e, também, "programados" mentalmente, intelectualmente. Devemos estar cientes de que fomos programados como um computador. Os computadores são programados por especialistas para produzirem os resultados que eles desejam... O homem foi programado para ser católico, protestante, para ser italiano ou inglês, e assim por diante. Durante séculos ele foi programado - para acreditar para ter fé, para seguir certos rituais, certos dogmas; programado para ser nacionalista e ir à guerra. Desse modo, o seu cérebro tornou-se tal como um computador, embora não tão capaz, porque o seu pensamento é limitado... Perceba o que isso significa: isso significa que você não é mais um indivíduo. Isso é muito duro de aceitar, porque nós fomos programados religiosamente para pensar que temos almas separadas de todos os demais. Sendo programado, o nosso cérebro trabalha do mesmo modo há muitos séculos. Temos que aprender a ver as coisas como elas são na realidade - não como vocês são programados para olhar. Podemos nos libertar de sermos programados e olhar?(1)

Sempre queremos aceitar alguém que nos promete alguma coisa, porque não temos nossa própria luz: nenhum guru, nenhum mestre, nenhum salvador, ninguém. Aceitamos muitas autoridades no passado, colocamos nossa fé nos outros, e eles ou nos exploraram ou fracassaram por completo. Logo, não devemos admitir qualquer autoridade espiritual, nem dar-lhes crédito. Ninguém pode nos conceder a luz que não se apaga.(2)

O seguir a autoridade gera temor; e o temor gera a mediocridade da mente superficial. Somos criados com base nessa idéia de que o exemplo, o herói, o santo, o guia, o guru, é necessário; e tornamo-nos, assim, seguidores, sem iniciativa própria, discos de gramofone, a repetir o mesmo velho padrão. Quando nos limitamos a seguir, perdemos todo o sentimento de individualidade, a plenitude da compreensão individual, e isso, muito evidentemente, não resolve os nossos problemas...E quando submetidos à tirania do exemplo, nossa mente está apenas a ajustar-se a um padrão. O padrão pode ser amplo ou estreito, mas é sempre padrão, molde, e a mente que segue um padrão é, sem dúvida, muito superficial.(3)

Atualmente, não sois indivíduos, e sim meras máquinas de imitar, produto de um certo meio cultural, um certo sistema educativo. Sois o corpo coletivo, não sois indivíduo, sendo isto muito óbvio. Todos sois hinduístas ou cristãos, isto ou aquilo, com certos dogmas, crenças, o que significa que sois produto da massa. Por conseguinte, não sois indivíduos. Precisais estar totalmente descontentes, para poderdes descobrir. Mas a sociedade não deseja ver vos descontentes, porque teríeis então vitalidade, começaríeis a inquirir, a investigar, a descobrir e, conseqüentemente, vos tornaríeis perigosos para ela.(4)

A revolução só pode realizar-se no nível mais elevado, o qual cumpre descobrir; e esse nível só pode ser descoberto por meio do autoconhecimento e não de conhecimentos colhidos nos vossos velhos livros ou nos livros dos modernos analistas. Tendes de o descobrir nas relações - descobri-lo, e não meramente repetir o que lestes ou ouvistes dizer. Vereis então que vossa mente se tornará sobremaneira lúcida. Afinal, a mente é o único instrumento de que dispomos. Se ela se acha peada, se é vulgar, temerosa, como o é a mente de quase todos nós, nenhuma significação tem sua crença em Deus, suas devoções, sua busca da verdade. Só a mente que é capaz de percebimento claro e por essa razão está perfeitamente tranqüila, só ela pode descobrir se existe ou não a Verdade, só ela é capaz de realizar a revolução no mais alto nível. Só a mente religiosa é verdadeiramente revolucionária; e a mente religiosa não é aquela que repete, que freqüenta a igreja ou o templo, pratica puja todas as manhãs, que se deixa guiar por alguma espécie de guru ou adora um ídolo. Esta não é uma mente religiosa; é em verdade estúpida, limitada e, por conseguinte, nunca será capaz de corresponder livremente a um desafio.(5)

É muito estranha esta nossa adoração dos exemplos, modelos, dos ídolos. Não queremos o que é puro, verdadeiro em si mesmo; queremos intérpretes, exemplos, mestres, gurus, para, por seu intermédio, alcançarmos alguma coisa - e tudo isso é puro absurdo, um meio de explorar a outros. Se cada um de nós fosse capaz de pensar claramente desde o começo, ou de reeducar-se para pensar claramente, todos esses exemplos, mestres, gurus, sistemas, se tornariam completamente desnecessários, como realmente são.(6)

O que se necessita no mundo, não são meros imitadores, nem meros guias, com seguidores cada vez mais numerosos. O que se necessita atualmente são indivíduos, como vós e eu, dispostos a pensar continuadamente em todos esses problemas, não de maneira superficial ou fortuita, porém profundamente, a fim de que a mente seja livre, para criar, para pensar, para amar.(7)

Ser indivíduo é ser único, interiormente distinto, tranqüilo, só. A mente que está só encontra-se liberta de todo o seu condicionamento. E qual a sua relação com a mente que se acha condicionada? Qual a relação de uma mente que é livre, com outra que não o é? Pode haver relação entre elas? Se vós vêdes e eu não vejo, que relação há entre nós? Podeis ajudar-me, guiar-me, dizer-me isto, aquilo ou aquilo outro; mas só pode haver entre nós um estado de relação, no exato sentido da palavra, quando ambos vemos, isto é, quando podemos comungar imediatamente, no mesmo nível e ao mesmo tempo. Só então, por certo, há possibilidade de comunhão — que é amor, não achais?(8)

Parece-me de grande importância compreender o "processo" total da individualidade. Porque, só quando o indivíduo se transforma radicalmente, pode haver uma revolução fundamental na sociedade. É sempre o indivíduo e nunca a coletividade, que pode produzir uma mudança radical no mundo - e isto é um fato histórico.(9)

Pode uma mente cujo pensamento resulta do coletivo, cujo pensamento é o coletivo, desembaraçar-se do coletivo? Quer dizer: Pode a mente conhecer o atemporal, o incorruptível, o que existe sozinho, que não esteja sob a influência de nenhuma sociedade?... Por certo, para descobrir se há um estado incorruptível, atemporal, imortal, a mente tem de estar totalmente livre do coletivo. E ao dar-se a sua completa libertação do coletivo, o indivíduo será anticoletivo? Ou não será anticoletivo mas, sim, funcionará num plano totalmente diferente, que o coletivo poderá repelir? O problema é: pode a mente ultrapassar o coletivo? Se nenhuma possibilidade existe de ultrapassarmos o coletivo, então temos de contentar-nos com adornar o coletivo, abrir janelas na prisão, instalar uma iluminação melhor, mais banheiros, etc. É nisto que o mundo está interessado, e é a isso que ele chama progresso, condições de vida melhores.(10)

A mente que está acumulando, pensando em conformidade com padrões, a mente recheada de saber e interessada em aprender um novo modo de pensar ou de conduta, essa mente, por certo, nunca aprenderá nada...Assim, a mente tem de estar livre de toda e qualquer autoridade - a embriagadora autoridade da chamada religião e dos guias religiosos - porque só então ela é capaz de descobrir o que é a Verdade, o que é Deus, o que é bem-aventurança.(11)

Não existe autoridade na observação de si mesmo. Livre-se portanto de Freud e de Jung e de toda essa cambada, e parta do início, pois assim aquilo que você descobrir será original e não de segunda mão.(12)

Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade. Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão; porque a submissão é mais fácil do que a vigilância. A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia a pensar acarretam a aceitação e a submissão, a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo assim também acontece com o grupo, com a nação.(13)

É absoluta e urgentemente necessário alterar todo o curso do pensamento humano, da existência humana que está ficando, cada vez mais, mecanizada. E não vejo como pode ocorrer essa revolução total a não ser no indivíduo. O coletivo não pode ser revolucionário; o coletivo só pode seguir, ajustar-se, imitar, submeter-se. Só o indivíduo, essa entidade, só ele pode ir adiante, destruir todos esses condicionamentos e ser criativo. É essa crise na consciência que exige essa mente, essa mente nova. E, aparentemente, do ponto de vista do qual observamos, nunca se pensa nessa direção; pensamos sempre que é o aperfeiçoamento técnico e mecânico que, de algum modo milagroso, dará origem à mente criativa, à mente livre do medo.(14)

Só quando a mente é capaz de se livrar de todas as influências, todas interferências, de estar completamente só,... existe criatividade. No mundo, cada vez mais a técnica está sendo desenvolvida – técnica de como influenciar as pessoas pela propaganda, por compulsão, pela imitação, por exemplos, pela idolatria, pela adoração do herói. Há livros inúmeros sobre como fazer uma coisa, como pensar eficientemente, como construir uma casa, como montar máquinas, e de forma que gradualmente perdemos a iniciativa, a iniciativa de pensar de forma original algo por nós mesmos. Em nossa educação, em nosso relacionamento com governo, por vários meios, somos influenciados ao conformismo e a imitação. E quando permitimos a influência que nos convença a uma atitude particular ou ação, naturalmente nós criamos resistência com outras influências. E neste processo de criar uma resistência à outra influência, nós não cedemos a isso negativamente? A mente não deve estar permanentemente em revolta a fim de entender as influências que estão sempre colidindo, interferindo, controlando, amoldando? Não é isso uma das causas da mente medíocre que é sempre medrosa e, está num estado de confusão, quer ordem, quer coerência, quer uma fórmula, uma forma que possa ser guiada, possa ser controlada, e, mas estas fórmulas, estas várias influências criam contradições no indivíduo, cria confusão no indivíduo. Qualquer escolha entre as influências é seguramente ainda um estado de mediocridade. ... Não deve ter a mente à capacidade, não de imitar, não de acomodar-se e ser sem medo? Tal mente não deve estar só e, portanto ser criativa? Essa criatividade não é sua nem minha, é anônima!(15) O Livro da Vida

Só o indivíduo que se dissociou de todo da sociedade, pode influir na sociedade.(16)

A palavra "indivíduo" significa "indivisível", não fragmentado. "Individualidade" significa uma totalidade, o todo, e a palavra "todo" significa "são", "puro". Mas, vós não sois um indivíduo, porque não estais são, porque estais dividido, fragmentado interiormente; estais em contradição com vós mesmo, partido, e, por conseguinte, não sois de modo nenhum indivíduo. Assim, em vista dessa fragmentação, como se pode exigir que um fragmento assuma a autoridade sobre os demais fragmentos?(17)

Atualmente não sois um verdadeiro indivíduo, sois? Podeis ter casa própria, um nome próprio, conta bancária própria e certas qualidades, idiossincrasias, capacidades; mas é isso que constitui a individualidade? Ou só há individualidade quando compreendemos o processo coletivo da mente? A mente, afinal de contas, é resultado do coletivo; é moldada pela sociedade, produto de inumeráveis condicionamentos. Quer sejais hinduísta, ou maometano, ou cristão, ou comunista, sois resultado de condicionamento da educação, de influências sociais, econômicas e religiosas, que vos fazem pensar de uma certa maneira. Sois, portanto, produto do coletivo; e pode a mente libertar se do coletivo? Por certo, é só então que existe a possibilidade de pensar de maneira totalmente nova, e não de acordo com alguma religião ou ismo, ocidental ou oriental. Nossos problemas requerem uma solução que não seja tradicional, que não esteja de acordo com nenhum padrão ou sistema de pensamento. A questão pois é de saber se a mente pode libertar-se do passado, de todas as influências herdadas e descobrir algo totalmente novo, algo nunca dantes experimentado e que se pode chamar Realidade, Deus, ou como quiserdes.(18)

Apenas o indivíduo pode mudar, não a massa; você pode mudar; sendo assim, o indivíduo é de uma importância infinita. Eu sei que é moda falar sobre grupos, massa, raça, como se o indivíduo não tivesse importância alguma; mas em qualquer ação criativa o importante é o indivíduo. Qualquer ação verdadeira, qualquer decisão importante, a busca da liberdade, a pesquisa sobre a verdade, só pode partir do indivíduo que compreende... O indivíduo não pode derrubar a montanha, mas pode estabelecer uma nova corrente de pensamento que criará uma série de ações originais. Ele não pode fazer nada acerca das condições do mundo, pois os eventos históricos têm de seguir seu curso brutal, cruel e indiferente. Mas se meia dúzia de pessoas pensasse mesmo sobre o problema como um todo, elas colocariam em marcha tanto atitudes quanto ações diferentes; por isso o indivíduo é tão importante. Mas se ele quer reformar a enorme confusão, a montanha de desintegração, ele pode fazer bem pouco; na verdade, como vem sendo mostrado, ele não pode exercer influência alguma sobre essa questão. Mas se qualquer um de nós for verdadeiramente individual no sentido de estar tentando compreender todo o processo da mente, então ela será uma entidade criativa, uma pessoa livre, não condicionada, capaz de perseguir a verdade por si mesma, e não ficar buscando resultados.(19)

Seguir quem quer que seja é, por certo, prejudicial à inteligência.(20)

(1) A Rede do Pensamento
(2) Nossa Luz Interior
3) Da solidão à Plenitude Humana
(4) Da solidão à Plenitude Humana
(5) Da solidão à Plenitude Humana
(6) Da solidão à Plenitude Humana
(7) Novos Roteiros em Educação
(8) Experimente um novo caminho
(9) Da solidão à Plenitude Humana
(10) Realização sem Esforço
(11) Da solidão à Plenitude Humana
(12) Sobre Relacionamentos
(13) O Egoísmo e o problema da paz
(14) Sobre A Liberdade
(15) O Livro da Vida
(16) Da solidão à Plenitude Humana
(17) Fora da Violência
(18) Da solidão à Plenitude Humana
(19) Sobre a Verdade
(20) O Verdadeiro Objetivo da Vida




- O Que — De Fato — Estamos Buscando?
Teórica ou verbalmente, pode-se convir em que é muito importante que o indivíduo se desprenda do coletivo, mas parece-me que não se dispensa atenção suficiente a este problema; porque, só quando ocorre a criadora libertação do indivíduo existe...

- A Verdade Não é Coletiva Nem Individual
Temos problemas incontáveis; e quanto mais pensamos neles, conscientemente, tentando resolvê-los, tanto mais crescem as complicações e se multiplicam os problemas. Uma vez que estamos tratando de problemas não originados na mente superficial, mas...

- Seleta Sobre Mediocridade
É sempre difícil manter-me simples e claro. O mundo adora o sucesso, quanto maior, melhor; quanto maior a audiência, maior o orador; os edifícios colossais, os carros, os aviões, e as pessoas. A simplicidade se perdeu. As pessoas de sucesso não...

- Deixando De Se Apropriar Para Encontrar Propriedade Em Si
Áudio da reunião de estudos on-line realizada pelo Paltalk, em 07/08/2012. Para saber como participar acesse:http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br/p/reuniao-on-line.html* * *  Muitas vezes, no intuito de ensinar, alguns instrutores vendem...

- Somos Programados
Nós fomos "programados" biologicamente, fisicamente, e, também, "programados" mentalmente, intelectualmente. Devemos estar cientes de que fomos programados como um computador. Os computadores são programados por especialistas para produzirem os resultados...



autoconhecimento








.