O Zen e a experiência do chute psíquico
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O Zen e a experiência do chute psíquico


Esta experiência específica, sentida como humilhação pela pessoa comum, não provoca a mesma sensação quando vivida pelo iluminado, por não mais haver consciência do "eu" que possa ser afetada. A intensidade com que a humilhação ainda se faz sentir como dor constitui indício da força do ego. Outro aspecto importante é que, para o não-iluminado cuja atitude em relação ao Caminho é sincera, a humilhação pode representar grande auxílio no processo de despertar. Talvez seja esse o verdadeiro significado do Sofrimento: através dele podermos encontrar um Caminho para superar esse Sofrimento e encararmos a Realidade de frente.

O mesmo princípio dos efeitos potencialmente benéficos da humilhação parece-me valer para o significado mais profundo de certos procedimentos estranhos em mosteiros do Zen. É comum lermos a respeito de algum discípulo, em busca da mais alta verdade, ser relegado aos serviços da cozinha ou outras tarefas subalternas; e, talvez, ao se aproximar do Mestre com um pedido de lição, receber como resposta: "Vá lavar os pratos" — ou algo semelhante. Isto pode nos surpreender e parecer um tanto grosseiro — ou até engraçado —, mas de novo temos de nos lembrar que os ensinamentos do Zen regulam-se pelo Não-Ensinar e que só o Mestre tem condições de dizer o que é melhor para cada discípulo em particular. Além do mais, dessa maneira, este pode descobrir que a vida espiritual não está afastada da existência cotidiana, e pode ser alcançada através de uma vida perfeitamente comum e do não-fazer qualquer coisa especial.

Outro costume do Zen que pode deixar bastante intrigados os observadores ocidentais é o do Mestre bater nos discípulos. Neste ponto, porém, devemos admitir que ao tomarmos conhecimento do fato a nossa reação é falseada pelo condicionamento — nossas noções de bem e mal. No Zen, inexistem essas considerações; o único critério é o dos meios para um fim, o upaya do budismo (que significa, aproximadamente, "meio hábil") — sendo o fim, neste caso, representado pelo despertar mais rápido possível do discípulo. O tratamento austero, os trinta golpes, etc., parecem-me ter duplo significado: em primeiro lugar, podem ajudar o discípulo no sentido de fazê-lo conhecer profundamente a sua consciência do "eu" — para que ele, por fim, possa transcendê-la; em segundo lugar, pela reação do discípulo, o Mestre pode avaliar perfeitamente o estado mental do primeiro e o seu progresso em direção ao satori. E não me surpreenderia a existência de um terceiro fator, mais sutil: a possibilidade de um súbito despertar, através de um mecanismo talvez de alguma forma semelhante ao que se aciona ao se esbofetear um histérico para que desperte de seu sonho delirante.

Robert Powell - Zen e Realidade




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