Pode a mente abster-se de fugir e olhar de frente o seu vazio?
autoconhecimento

Pode a mente abster-se de fugir e olhar de frente o seu vazio?


Pode a mente abster-se de fugir e olhar de frente o seu vazio, esse extraordinário sentimento de solidão, que é a expressão autêntica do "eu"? — visto que o "eu" é a entidade, a consciência que, quando não está em movimento, é vazia. Compreendeis o que estou explicando?...

Afinal de contas, o "ego", o "eu", se expressa na ambição, no desejo de aquisição, na inveja, no ser violento e no lutar para ser não-violento, etc. Tudo isso são expressões do "eu"; e, reconhecendo-as como tais e investigando-as profundamente, vejo também que essas atividades do "eu" resultam justamente do seu extraordinário sentimento de vazio. Não sei se tendes notado que, quando seguimos as pegadas do "eu" como entidade completamente vazia; a mente, em verdade, não quer ver esse vazio, preferindo voltar-lhe as costas, fugir. 

Ora, se sou capaz de compreender o que é esse vazio, então é bem provável que eu possa resolver o problema da violência. Mas, para compreender o que é o vazio, preciso olhá-lo, e não posso olhá-lo se estou fugindo. É justamente a fuga que causa o medo e precipita a ação da inveja, da competição, da crueldade, da inimizade, e tudo o mais. Assim sendo, pode a mente olhar essa coisa, de que está fugindo por meio da ação? espero que me esteja fazendo claro. 

Não tendes consciência de um estado de solidão, de vazio? Não estamos considerando o que deveis fazer a respeito desse estado. Foi esse "que se deve fazer?" que produziu este mundo estúpido e caótico. Estou indagando o que há atrás do desejo de fazer alguma coisa — o que é dificílimo de descobrir, visto que a mente está sempre evitando esse fator central. Mas se a mente for capaz de ficar cônscia, totalmente, de estar vazia, solitária — o que significa o completo descobrimento das atividades do "eu", que a levaram àquele estado — vereis que toda ação sem tal compreensão há de precipitar, necessariamente, a violência, sob diversas formas.

(...) Pode a vossa mente estar cônscia daquele vazio, sem fugir dele? É porque vos sentis vazio e só, que necessitais de um companheiro, que quereis depender de alguém, e essa dependência cria a autoridade, que seguis; e a própria circunstância de estar seguindo uma autoridade, já é um indício de violência. Pode a mente, ao perceber a verdade a esse respeito, deter a sua fuga e olhar a sua própria vacuidade? Compreendeis o que significa "olhar"? Não podeis olhar para aquele vazio se lhe tendes medo, se desejais evitá-lo; só podeis ter conhecimento pleno dele, quando não há espírito de condenação.

(...) Estou cônscio de estar só e vazio, e estou a observar esse vazio; mas não posso observá-lo se o condeno. A condenação é justamente uma distração, que estorva o observar. Ora, posso observar o vazio, tomar conhecimento dele, sem lhe dar um nome? Compreendeis? E, quando não lhe dou nome , o observador é então diferente do vazio a que está observando? É só quando o observador lhe dá nome, que ocorre a separação, não é verdade? 

(...) Quando digo "estou irritado", estou dando nome a uma certa sensação ou reação, e esta própria circunstância cria uma dualidade, não achais? Mas, se não dou nome à sensação, então essa coisa sou eu mesmo. Entendeis? Vede: dou nome a um sentimento porque minha mente está exercitada em reconhecer, em rotular; mas se a mente não põe rótulo em coisa alguma, desaparece então a separação entre observador e a coisa observada. Por outras palavras, quando não se dá nome a uma coisa, só há um único estado, e nesse estado não existe entidade separada, para fazer algo a respeito dessa coisa. A mente — que é violenta, por natureza — já não está operando com relação a uma coisa que deseja compreender, e por conseguinte a sua atividade cessa. 

(...) Enquanto a mente está operando em termos de ambição ou não-ambição, ela cria necessariamente o caos, e lutas, e sofrimentos para si própria e para outros. E se, aprofundando mais o problema, a mente compreende todo o processo relativo a esse impulso para ser alguma coisa, então, invariavelmente, ela chegará ao ponto em que perceberá que está a procurar um meio de fugir ao "ser nada", que é um estado de vazio. E posso compreender esse vazio? Pode a mente penetrá-lo, prová-lo, senti-lo? Por certo, a mente não poderá compreender essa coisa extraordinária que chamamos "vazio", "solidão", enquanto estiver, de alguma maneira, a condenar, enquanto desejar rejeitá-lo, dominá-lo ou ultrapassá-lo. A mente rejeitará sempre esse estado, enquanto estiver a dar-lhe nome; e o reconhecer, o dar nome, é justamente o "processo" peculiar da mente. Afinal, não podeis pensar sem símbolos, sem idéias, sem palavras. E pode a mente deixar de "verbalizar"? Pode acabar com esse processo e considerar aquilo a que chama "vazio", sem lhe dar nome ou criar um símbolo tirado da imaginação? E quando deixa de verbalizar, o estado a que chama "vazio" é então diferente dela própria? Não é, por certo. O que há então é só um estado, em que não há verbalização, não há dar nome, e por conseguinte em que terminou aquela atividade da mente, que separa, que compete, que gera antagonismo. Nesse estado se verifica um movimento completamente diferente. Não há mais violência. Há uma delicadeza, que não pode ser compreendida pela mente que diz: "tenho de ser delicado". A volição cessou de todo — porque a vontade é também produto da violência. 

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