Pode o cérebro ser totalmente livre para funcionar inteiramente?
autoconhecimento

Pode o cérebro ser totalmente livre para funcionar inteiramente?


Temos de considerar juntos se o cérebro, que agora opera apenas parcialmente, tem a capacidade de funcionar inteiramente, completamente. Agora, estamos usando apenas uma parte dele, o que podemos observar por nós mesmos. Podemos perceber que a especialização, que pode ser necessária, produz o funcionamento de apenas uma parte do cérebro. Se somos cientistas, nos especializando nessa matéria, naturalmente apenas uma parte do cérebro funciona; se somos matemáticos, dá-se o mesmo. No mundo moderno temos que nos especializar e estamos perguntando se, mesmo assim, é possível permitir ao cérebro que opere inteiramente, completamente.

(...) Agora, pode o cérebro ser totalmente livre para funcionar inteiramente? Porque qualquer especialização, o seguir qualquer caminho, uma determinada rotina habitual ou modelo, inevitavelmente implica que o cérebro está funcionando parcialmente e, portanto, com energia limitada. Vivemos numa sociedade de especialização — engenheiros, físicos, cirurgiões, carpinteiros, e as especializações das crenças, dogmas e rituais particulares. Ceras especializações são necessárias, tais como a do cirurgião ou a do carpinteiro; mas, apesar disso, pode o cérebro funcionar completamente, inteiramente e, portanto, possuir uma energia extraordinária?

(...) Se observarmos a nossa própria atividade, descobrimos que o cérebro funciona de modo muito parcial, fragmentariamente, resultando que a nossa energia torna-se cada vez menor à medida que envelhecemos. Biologicamente, fisicamente, quando somos jovens somos cheios de vitalidade; mas ao sermos instruídos e, depois, seguirmos um modo de vida que necessita de especialização, a atividade do cérebro torna-se reduzida, limitada e a sua energia torna-se cada vez menor.

Embora o cérebro possa ser obrigado a ter uma determinada forma de especialização —  não especialização religiosa, porque isso é superstição — como cirurgião, por exemplo, será que ele também pode operar integralmente? Ele só pode operar integralmente, com a tremenda vitalidade de um milhão de anos, quando é completamente livre. A especialização, que agora é necessária para fazer a vida, pode não ser necessária se o computador assumir o comando. Ele não assumirá o comando da cirurgia, obviamente; não assumirá o sentimento da beleza, como quando olhamos para as estrelas à noite, mas pode assumir totalmente o comando de outras funções.

Pode o cérebro humano ser totalmente livre, sem qualquer forma de ligação — ligação a determinadas crenças, experiências, e assim por diante? Quando o cérebro está ocupado com problemas, com especialização, com um modo de vida, está numa atividade limitada. Mas quando o computador assumir o comando, essa atividade se tornará cada vez menor, e, portanto, gradualmente irá se deteriorando. Isso não é uma coisa para o futuro, está realmente acontecendo agora, se observarmos a nossa própria atividade mental.

Pode a consciência de vocês, com seu conteúdo básico de medo, da busca do prazer, com todas as implicações do pesar, da dor e do sofrimento, sendo magoado interiormente, e assim por diante, tornar-se totalmente livre? Podemos ter outras formas de consciência — consciência de grupo, consciência racial, consciência nacional, a consciência do grupo católico, do grupo hindu, e assim por diante — mas, basicamente, o conteúdo de nossa consciência é medo, a busca do prazer e a dor resultante, o sofrimento e, por fim, a morte. Isso compreende o conteúdo central da nossa consciência. Estamos juntos observando todo o fenômeno da existência humana, que é a nossa existência. Somos a humanidade porque a nossa consciência, seja a de um cristão que vive no mundo Ocidental, a de um muçulmano no Oriente Médio ou a de um budista no mundo asiático é, basicamente, o medo, a busca do prazer e a interminável carga de dor, mágoas e de sofrimento. A nossa consciência não é nossa, pessoal. Isto é muito difícil de aceitar, porque fomos condicionados, tão instruídos que resistimos ao fato real de que não somos, de modo algum, indivíduos: nós somos a humanidade toda. Esta não é uma ideia romântica, não é um conceito filosófico, não é absolutamente um ideal. É um fato se examinarmos cuidadosamente. Assim, temos que descobrir se o cérebro pode ficar livre do conteúdo de sua consciência.

(...) O conteúdo da nossa consciência é formado por todas as atividades do pensamento. Pode o conteúdo ser sempre livre, de modo a haver uma dimensão totalmente diferente?... O cérebro foi condicionado a isso e, portanto, tornou-se limitado. Qualquer coisa que seja condicionada é limitada e, portanto, o cérebro, quando está perseguindo as diversas formas de prazer, torna-se inevitavelmente, pequeno, limitado, estreito. E, provavelmente, realizando isso inconscientemente, procuramos diferentes formas de entretenimento, o alívio através do sexo, por meio de diferentes espécies de realização... Se vocês observarem, verão que o nosso cérebro está ocupado todo o dia com uma coisa ou outra, tagarelando, falando interminavelmente, como uma máquina que nunca para. E, assim, o cérebro gradualmente vai se desgastando, e se tornará inativo se o computador tomar o seu lugar.
Assim, por que os seres humanos estão presos a esta busca perpétua de prazer — por quê? Será porque são completamente sós? Estarão eles fugindo deste sentido de isolamento? Será porque foram desde a infância condicionados a isto? Será porque o pensamento cria a imagem do prazer e depois a busca? Será o pensamento a fonte do prazer?... A repetição do prazer é o movimento do pensamento e, portanto limitado; por conseguinte, o cérebro nunca pode funcionar inteiramente, só pode funcionar parcialmente.

Agora, a questão seguinte que se apresenta é: se este é o modelo do pensamento, como pode o pensamento ser detido, ou melhor, como pode o cérebro parar de registrar o incidente de ontem, que proporcionou prazer?... A questão não é como terminá-lo ou como  detê-lo. É apenas ver concretamente como o cérebro, como o pensamento, está operando. Se estivermos cônscio disso, então o próprio pensamento acabará. O registro do prazer está acabado, terminado.

Krishnamurti – A Rede doPensamento - Cultrix 




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