Que é que se sente ferido, magoado?
autoconhecimento

Que é que se sente ferido, magoado?


Enquanto alguém tiver uma imagem de si próprio, ficará magoado. Essa é uma das infelicidades na vida; (…) E que é isso que se sente ofendido? É a imagem de si mesmo, que cada um há construído. Se a pessoa estivesse totalmente livre de imagens, não seria afetado nem pelas ofensas nem pela adulação. (...) Agora quase todos encontram segurança na imagem que hão construído de si mesmos, que é a imagem criada pelo pensamento. De modo que, observando isso, perguntamo-nos se essa imagem, construída desde a infância (…), pode terminar completamente. Porque só então poderemos ter algum tipo de relação com os outros. Na relação, quando não há imagem, não há conflito. (…) Ao inquirir desse modo, como temos de reconhecer as confusões, as contradições, o movimento total da consciência? Temos de reconhecê-lo pouco a pouco? 

Tomem, por exemplo, o estigma psicológico que cada ser humano experimenta desde a infância. Ele é ferido psicologicamente pelos pais, depois (…) na escola, na universidade, por causa da comparação, da competência, (…) que ele tem que ser superior aos outros (…) Durante toda a vida, existe esse constante processo de ser reprimido. (…) Sabemos disto, (…) que todos os seres humanos se acham profundamente recalcados, ainda que possam não ser conscientes disso e que, por causa dessas marcas psicológicas, surgem todas as formas de ação neurótica. Tudo isso é parte da consciência de cada um de nós; a parte oculta e a parte que se revela 

(…) Pois bem, seria possível nunca ficarmos ofendidos? Porque, em conseqüência dessas marcas psicológicas, construímos um muro ao redor de nós mesmos e nos afastamos de nossa relação com os demais, para que não voltem a nos reprimir. E nisso há temor e um paulatino isolamento. Perguntamo-nos, pois: seria possível não só ficarmos livres dos estigmas passados, mas também jamais nos ferirmos de novo? - porém não mediante a insensibilidade, a indiferença ou o descuido de nossas relações.(...) Deve o indivíduo investigar por que se sente complexado e que é sentir-se magoado. Essas marcas psicológicas fazem parte da consciência de cada um de nós, e delas emanam diversas ações neuróticas e contraditórias. (…) Não é algo que está fora de nós, senão que é parte de nós mesmos. 

(…) Que é que se sente ferido? Um indivíduo diz: “Sou eu que estou magoado” Que é esse “eu”? Desde a infância tem construído uma imagem de si mesmo. Tem muitas, muitas imagens; não só as imagens que as pessoas lhe fornecem, senão as que ele próprio fabrica; como americano - essa é uma imagem - ou como hindu, ou como especialista. Portanto, o “eu” é a imagem que ele tem produziu de si mesmo como uma grande pessoa ou como uma pessoa muito boa; e essa imagem é que fica recalcada. (…) Pode o indivíduo ter de si mesmo a imagem de um grande orador, um escritor, um ser espiritual, um líder. Essas imagens são a essência do “si mesmo”; quando ele diz que se sente magoado, quer dizer que as imagens estão ofendidas. Se tem uma imagem de si mesmo, e vem outro e diz: “Não seja néscio!”, fica ele magoado. A imagem própria que há fabricado é o “eu”, e essa imagem fica recalcada. Carrega-se essa imagem e essa ferida psicológica pelo resto da vida. (…) As conseqüências de nos sentirmos magoados são muito complexas. 

(…) Seria, então, possível não se ter nenhuma imagem de si mesmo? Por que tem ele uma imagem de si próprio? Pode um indivíduo ter boa aparência, ser brilhante, inteligente, perspicaz, e um outro deseja ser como ele, e, se não é, se sente magoado. A comparação pode ser um dos fatores que contribuem para que fiquemos psicologicamente recalcados. (…) Existe, pois, uma maneira de encarar o fato sem que intervenha um só motivo? Ou seja, você não tem um motivo, e pode ser que sua esposa, sim, tenha um motivo. Então, se você não tem motivo, como está olhando o fato? O fato não é diferente de você, você é o fato. Você é a ambição, é o ódio. (…) Há uma observação do fato que é você mesmo, na qual não intervém nenhuma explicação, nenhum motivo. É isso possível? Porém, quando você vê o absurdo de uma acepção semelhante, então está obrigado a ver que todo esse tormento é você mesmo; o inimigo é você, não sua esposa.

Você se encontrou com o inimigo e descobriu que o inimigo é você mesmo. Pode, pois, observar todo esse movimento do “eu”, do “si mesmo” (…)? (…) Quando o indivíduo olha para si mesmo sem um motivo, há o “eu”? O “eu” como a causa e o efeito,o “eu” como resultado do tempo, que é o movimento da causa ao efeito. Quando você se olha a si mesmo, (…) sem uma causa, há algo que termina e há algo totalmente novo que começa.

Krishnamurti em, (La Llama de la Atención, pág 88 a 125)




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