Se eu quiser acabar com o eu tenho que lamber o chão
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Se eu quiser acabar com o eu tenho que lamber o chão


Vou falar um pouquinho aqui, trocar um pouquinho das percepções; são percepções que a gente não fica grudado nelas não, pode ser que se perceba algo diferente mas, por enquanto, até o presente momento, nesse agora, o que eu for dividir com vocês é o que estou vendo como fato. Eu não venho aqui trocar ilações, não venho trocar conjeturas com vocês, não venho trocar com vocês "e se", nada disso! O que venho tentar trocar com vocês, é do que tem sido observado, do que tem sido vivenciado, do que tem sido visto "aqui dentro do freguês", e o que também tem sido visto através do contato com outros confrades, com outras pessoas, não é? Com outros seres humanos aqui na vida dessa assim chamada "relação", que é uma relação muito, mais muito, muito superficial; extremamente superficial.

Tenho falado muito pra vocês, daquela música do Gilberto Gil, "Se eu quiser falar com Deus"; numa parte ele fala: "Se eu quiser falar com Deus, tenho que lamber o chão dos palácios suntuosos dos meus sonhos, tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho, e apesar do mal tamanho, alegrar meu coração!" Isso é uma coisa que vejo ser um fato mesmo nesse processo: Se não estiver, realmente, totalmente prostrado, totalmente estirado ao chão; se não tiver chego à bancarrota, do movimento de identificação com o pensamento, e que através dessa identificação com o pensamento condicionado, viciado, ter feito um monte de loucura aí, realmente, e todos os setores da vida estarem totalmente afetados por essa "pensamentose", fica muito difícil de você "poder se achar medonho"... "Se achar medonho!", sabe?... Se achar completamente rendido! Se não chegou nesse ponto aí, você não se acha medonho;  você se acha ainda "o cara que sabe" o que é que precisa fazer, como é que tem que fazer, sabe tudo! Está numa "puta" de uma confusão dos infernos, mas ainda sabe como que as coisas têm que rolar; como é que o outro tem que falar com você; o que é que o outro tem pra falar pra você;  quando é que o outro tem que falar pra você; sabe? Sabe tudo! Sabichão, ainda!

Enquanto não chegou nesse estado em que você se vê medonho mesmo, não tem como, não tem como ter a abertura necessária pra poder escutar algo novo; pra poder escutar alguma coisa nova, que não venha através “da pessoa”, mas pode partir da pessoa, “por meio” da pessoa; uma inteligência  maior, algo maior, um insight maior pode vir através de um interlocutor — que não é o interlocutor! Porque, enquanto não se acha medonho, você acha que os outros é que são medonhos; o outro ainda é o medonho, entendeu?

Então, realmente, se não tem esse processo e o que torna muito difícil de chegar nesse processo é que tem sempre alguém pra, não hora em que você está quase caindo ali, está quase esticando no chão, tem sempre alguém, que acaba bancando o co-dependente, não é? E vai lá e dá uma "puxadinha" antes do fulano cair no chão; aí o fulano já levanta, e já acha que sabe como é que tem que ser a coisa; e aí continua... Não tem espaço pra essa dor fundamental'; não tem espaço pra essa crucificação; não tem!

A gente vem aqui falando pra vocês — e a gente tem que ir falando bem devagarzinho aqui, não é? —; a gente tem que ir falando no ritmo do grupo;  a gente vem falando desde o início, dando uns "toquezinhos": isso aqui não é "melzinho na chupeta"... Isso aqui é uma doença de determinação fatal, que pode levar a pessoa à loucura ou a morte prematura, sem nenhum aviso prévio! Foi muito bem falado aqui!... Você não sabe como é que o pensamento vai atacar;  você não sabe o poder real desse pensamento condicionado; você não sabe com que carga que ele vem, com que falas que ele vem;  que defunto que ele vai levantar lá da tumba da memória!... Você não sabe! Não é? Você não sabe como é que vão ser os "Walking Deads"...

A grande maioria aqui não faz ideia, do que é realmente essa "pensamentose"; o que é um ataque ligeiro,  sem aviso,  desses "zumbis"!... São verdadeiros zumbis! Vocês estão achando que "neguinho" mata por quê?  Vocês estão achando que "neguinho" se suicida por quê?  Por que "neguinho", com 20 anos de recuperação em algum determinado padrão de comportamento,  faz uso de tudo que não usou em "vinte anos limpo" e, em cinco minutos, dez minutos,  se tranca dentro de um lugar aí, e quer "esquecer o mundo"?... Porque, quando a coisa "bate forte na cabeça"... Se não estiver atento, se não estiver observando, não é?...

Então assim: a coisa é muito séria mesmo, muito, muito, muito séria, e a grande maioria não tem a percepção disso não! E pra poder perceber e entender mesmo isso aqui, realmente, tem que estar prostrado mesmo! Tem que estar totalmente desencantado com os castelos suntuosos... Suntuosos do meu sonho!...

O "Camus" não estava falando aí como é suntuoso "o cabeção"? Coloca a gente no meio de um estádio, ensinando o cara do "Metállica", como é que se toca uma guitarra!... Olha o cara do "Metállica", olhando pra você, ali: "Nossa! Como esse cara toca!"... Esse é o cabeção, não é? Sempre fazendo castelos suntuosos, não é? Ele está sempre numa situação de destaque! Então é muito louco isso daí, mesmo!

E se não tiver esse estado de total humildade mesmo, de total rendição mesmo; se ainda tiver achando que é o sabichão, que já entendeu, que já sacou... Cara! É "dois palitos" pra ele (o pensamento) se apoderar;  se apoderar e fazer loucuras, que acabam afetando sua vida e a vida daqueles menos precavidos que estão a seu lado. Não é? E aí, você sai por aí, com essa "pensamentose", adulterando a vida de todos que vão passando na sua frente, que vão esbarrando em você... É como no filme “Possuídos”, com o ator Denzel Washington... É um furacão de desgraça!... Identificado com a mente obsessiva, compulsiva, condicionada,  você é um furacão de desgraça! Um furacão de adulteração! É um furacão de percepções totalmente desconexas do que diz respeito a realidade!

Então aí, não tem como se abrir pra "algo"; não tem como ocorrer "algo"; não tem como ocorrer a manifestação de "algo" aí, que possa trazer essa "amostra grátis", que tem sido falada aqui, já por alguns dos confrades. Porque também, se não tiver isso, se não há essa ocorrência, essa pequena "experiência da mente não condicionada"... Tudo fica também sendo um novo condicionamento; mesmo essa informação aqui, mesmo essa troca de ideia, passa a ser mais alguma coisa dessa mente adquirida, adquirindo, agora, uma nova língua; só uma nova língua! Só um novo conjunto de palavras, que não acessam, que não tocam, que não fazem "acender esse coração”... Não faz acender o coração! Ao contrário: faz novamente acender o intelecto sagaz; e, ao acender novamente o intelecto sagaz e acende também a competição, a disputa, a comparação, a retaliação, o julgamento... Tudo! Todo esse pacote que a gente sabe no que dá; e que quanto mais aceso fica o intelecto, mais o fogo vai se alastrando, até que chega uma hora que não tem como apagar o incêndio... E é vítima pra tudo quanto é lado!... É vítima pra tudo quanto é lado!

Então, isso aqui, realmente não é brincadeira! Não é um passatempo, um local de distração, de diversão!  Sabe? A gente pensa que... Olha só, a gente "pensa" que compreendeu o que é essa questão do pensamento... Nós pensamos que, mesmo com isso aqui... Vocês todos aqui nesta sala, sabem muito bem, o que é, mesmo com este material, mesmo com esses apontamentos, o que é o ataque da mente! Quando ela vem, quando era lhe pega, e mesmo com todo esse material ali, você fica aí e até perceber,  até chegar mesmo nessa "percepção visceral" quanto à impotência perante ao fluxo dessa mente adquirida, desse pensamento condicionado; enquanto não tem esse "estado de rendição total": "Eu me rendo mesmo!...Eu me rendo!"...

Não há como brigar contra a mente! Não há como brigar contra esse fundo psicológico que se manifesta com aquilo que quer, com as vozes que quer, com as mensagens, com as projeções, com as lembranças que quer, na intensidade que quer, na hora que quer e nos lugares, geralmente, menos esperados e menos adequados; você se vê totalmente prostrado aí. Se não ocorre isso, fica muito difícil de compreender o que esses caras estão tentando, ou tentaram passar através desse paradigma! Estou falando isso, gente, porque, quem responde os e-mails aqui do grupo, sou eu e a "Deca"; então a gente acaba fazendo a maioria dos contatos; alguns a gente acaba passando pra vocês, mas é impressionante de perceber como que a mente, ela não se rende! A gente fica vendo esses confrades que vão chegando, que vão entrando em contato com a gente,  como rapidamente, muito, muito, muito, muito rápido... a sagacidade da mente é incrível! A sagacidade dessa mente adquirida, desse intelecto, da lógica e da razão é algo espantoso... Espantoso! Ele tem o poder de se levantar, quando está quase caindo, com qualquer material que se manifesta. E com este material também... Ele consegue também fazer uso deste material aqui, e entrar num outro jogo, numa outra disputa, agora com este tipo de material; e assim ele aborta essa queda, essa "queda fundamental"!... Precisa ocorrer essa queda; precisa ocorrer essa queda, essa rendição perante o pensamento, perante a mente... Perante a mente; porque se não tiver isso, fica muito difícil de ouvir alguma coisa, e se não conseguir ouvir alguma coisa, não vai nem ter condição de "ouvir a si mesmo"; não vai ter condição de desenvolver esse estado de escuta atenta, sem o qual, não vai ter condições de ter essa escuta atenta "de si mesmo", na hora que ocorrerem os inevitáveis ataques da mente. Porque a mente não vai deixar barato; ela não vai deixar barato!

E se vocês forem pegar na história humana; se vocês forem pegar a história de todos esses homens que conseguiram isso que eles chamam da "vinda do Espírito Santo", "Samadhi", "Iluminação", "Insight Criativo", "Contato com o Inefável"... Sei lá! Coloca o nome que você achar mais legal aí pra você! Vocês vão ver que, todos esses caras, tiveram que aprender a fazer esse estado de escuta atenta; eles tiveram que chegar num "estado de prontificação"; de estar prontos pra poderem falar: "Agora vou sentar comigo, custe o que custar; vou sumir de perto, vou evitar qualquer tipo de influência externa, e vou olhar toda essa confusão; vou sentar aqui embaixo dessa árvore, e vou ver o que vai rolar!... Ou eu fico doido, ou encontro uma 'loucura que tudo cura!'" Então, se não houver essa capacidade de escuta; se não desenvolver essa humildade... "desenvolver" não é a palavra!... Não é a palavra! Se não "ocorrer" esse estado de rendição, que leva ao estado de humildade, de um espaço pra ouvir aquilo que a "Grande Vida" vai apresentar através de sei lá que instrumento: seja humano, seja um livro, seja uma música... Sei lá!... Fica muito, muito difícil de começar esse processo!

Por isso que a gente fala muito aqui: essa sala, ela é um tubo de ensaio... Essa sala é um tubo de ensaio! Essa importância da escuta atenta; essa capacidade de foco, de manter o foco... Que é outra coisa que a mente adquirida, não consegue: manter o foco! Ela só mantém o foco se está lhe agradando um pouquinho; se não estão lhe agradando, ela já se desfoca rapidamente; ela já se distrai facilmente.

Então se aqui, dentro de uma sala dessas, nós não conseguimos manter o foco, não conseguimos manter essa tão necessária escuta atenta, é óbvio que na vida de relação conosco mesmo, fica impossível... Em dois ou três minutos você já não consegue mais estar observando! Uma coceira no dedinho lhe tira a atenção; um latido do cachorro; o telefone que toca... Perde-se o foco!... Perde-se o foco, e a nunca chegamos nesse estado de um "real encontro consigo mesmo"; não conseguimos chegar numa percepção visceral do nosso conflito, daquilo que está nos conflitando. Quantos de vocês aí, já se perceberam, inclusive, sentando pra ler alguma coisa, ao chegarem ao final da página, não percebem que não leram nada do que estava naquela página? Leram a página inteirinha e exclamam: "Volta, vou ler novamente!"... Quando chegam ao final da página, de novo, nada leram! Por quê? Porque não tem ainda esse exercício de escuta interna, de atenção, de foco, que não tem nada a ver com concentração! Que é esse estado que permite uma relação com algo. Percebem?

Gente: eu volto a falar, não é? Olhem isso com bastante carinho! Olhem isso com bastante propriedade! Olhem bem, mesmo! Olhem pra manifestação da pensamentose crônica descentralizante, aí na sociedade; olhes em vocês, também aí! Olhem bem quando ocorrem essas “saídas do ser”... Vejam bem a potência disso!... A força disso!... O quanto que esse pensamento compulsivo, condicionado, o poder que ele tem de se desfocar; de ser influenciado; de perder o centro; de perder o ritmo; de perder o "Sopro". Essa coisa, de perceber, quanto que é realmente importante, é fundamental, esse estado de realmente fazer frente, de maneira limpa, sem nenhum tipo de fuga, sentar consigo mesmo, sentar com esse conflito, sentar com você. Inclusive, convido vocês para fazerem um teste bem simples: "Vou sentar comigo sem fazer nada!"... Vejam lá, quantos minutos vocês aguentam... Vejam como em poucos minutos o que a mente já vai começar a falar; como ela já vai começar a colocar que vocês estão perdendo tempo, que estão perdendo a vida, que estão fazendo algo errado em querer ficar sem fazer absolutamente nada... O corpo vai começar a se mexer, os nervos vão começar a se estirar... Percebam isso! Olhem isso aí; vejam isso aí... A força que tem esse pensamento condicionado; ele faz uso de tudo! De tudo! Inclusive, ele cria toda essa disfunção no corpo aí; toda essa disritmia aí, pra que vocês não consigam ficar focados; ele faz uso inclusive do próprio organismo nosso, pra que através do próprio organismo, a gente se desfoque... Então ele cria a sede, cria a fome, cria a vontade de urinar... Não acreditem no que estou falando não! Deem uma olhada aí, façam o teste com vocês: "Vou ficar comigo, aqui  e agora, numa boa... não vou fazer nada"... E preste atenção no que ocorre... Preste atenção no que ocorre!

Então, percebam: se mesmo consciente já é difícil, imaginem quando, durante o dia, no meio das nossas atividades mecânicas, perdemos o foco desse pensamento... Então é mais ou menos por aí gente... Vamos que vamos!

Um beijo coração de vocês aí e um chute bem forte nas canelas... E "vamos que vamos!" 

Outsider








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