Sem a liberdade do passado não há como existir o amor
autoconhecimento

Sem a liberdade do passado não há como existir o amor


O amor pode ser cultivado pelo pensamento — poderá tornar-se um hábito? O amor será prazer? Tal como o conhecemos, ele é essencialmente uma procura de prazer. E se o amor é prazer, então, o amor também é medo — não?

Que é o prazer? Não estamos a negar o prazer; não estamos a dizer que não se deve ter prazer; isso seria absurdo. Que é então o prazer? Ontem à tarde vimos o pôr do Sol; no momento da percepção, não houve nem prazer nem dor, houve apenas um contato imediato com essa realidade. Uns minutos mais tarde, porém, começou-se a pensar nisso: "Foi uma coisa tão bela". Acontece o mesmo com o sexo. Pensa-se nisso, construindo imagens mentais; pensar nisso dá prazer. Do mesmo modo, pensar na perda desse prazer causa medo, tal como pensar em não ter emprego amanhã, em ficar só, em não ser amado, em não ser capaz de autoexpressão, etc. Este maquinismo de "pensar nisso" causa não só prazer como medo.

Dever-se-á cultivar o amor, como se cultiva uma planta? O amor deverá ser cultivado pelo pensamento, sabendo-se que o pensamento gera prazer e medo? Temos de aprender o que é o amor, aprender, e não acumular o que os outros têm dito sobre ele — isto é horrível. Temos de aprender, temos de observar. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento, é uma realidade inteiramente diferente.

A partir da sensibilidade e da inteligência, a partir da ordem que nasce quando a mente compreende como surge toda esta desordem e se liberta dela, a partir da disciplina que vem da compreensão da desordem, é que surge essa realidade chamada amor — que os políticos, os sacerdotes, o marido e a mulher destroem.

Compreender o amor é compreender a morte. Se não se morrer para o passado, como se poderá amar? Se eu não morrer para a imagem de mim mesmo e para a imagem que tenho da minha mulher, como serei capaz de amar?

Tudo isto constitui a maravilha da meditação e a sua beleza. E é em tudo isto que algo surge então: a mente adquire uma qualidade verdadeiramente religiosa, uma qualidade de silêncio. Religião não é a crença organizada, com os seus deuses e os seus sacerdotes. Religião é um estado da mente, uma mente livre e inocente e, portanto, completamente silenciosa. Uma mente assim não tem limite.

Interrogante: Que acontece se as pessoas não têm uma mente desse tipo?

Krishnamurti: Por que é que dizemos "se as pessoas não a têm"? Quem são "as pessoas"? Se "eu" não a tenho — é tudo. E se "eu" não tenho uma mente assim, penetrante, lúcida, que devo fazer? Não será essa a pergunta? As nossas mentes estão confusas, não é verdade? Vivemos em confusão. Que se deve fazer? Se estou mentalmente entorpecido, não serve de nada tentar polir a minha falta de penetração, tentar tornar-me "inteligente". Primeiro tenho de saber que estou mentalmente embotado, entorpecido. A própria tomada de consciência do meu embotamento é libertar-me dele. Se digo "sou insensato", não verbalmente, mas apercebendo-me de fato que o sou, então já estou vigilante, não me comporto mais como um insensato. Mas se se resiste ao que se é, então o embotamento é cada vez maior.

Neste mundo, o que se considera como o apogeu do intelecto é ser mentalmente muito hábil, muito cheio de expediente, muito complicado e erudito. Não sei por que é que as pessoas andam com o cérebro carregado de erudição. Por que não havemos de deixá-la nas prateleiras das bibliotecas? Os computadores são muito eruditos... Erudição não tem nada a ver com inteligência. Ver as coisas como realmente são, em nós próprios, sem criar conflito ao apercebermo-nos daquilo que somos, necessita de tremenda simplicidade da inteligência. Sou insensato, sou mentiroso, estou encolerizado, etc.: observo-o, sem depender de nenhuma autoridade, sem oferecer resistência, sem dizer "devo ser diferente" — aquilo está ali, e aprendo a seu respeito.

Interrogante: Quando tento prestar atenção, dou-me conta de que não sou capaz de estar atento.

Krishnamurti: A atenção nascerá da desatenção?

Interrogante: Não. Que é que a produz? Como é que ela vem?

Krishnamurti: Antes de mais nada, que é atenção? Quando estamos atentos, isto é, quando damos a mente, o coração, os nervos, os olhos, os ouvidos, há atenção completa, ela acontece, não é verdade? A atenção total é isso. Quando não há resistência, quando não há censor, ou seja, nenhum movimento avaliativo, há atenção — conseguimo-la.

Interrogante: Mas isso é tão raro.

Krishnamurti: Ah! Lá voltamos outra vez atrás: "Isso é tão raro acontecer!" Estou apenas a mostrar uma coisa: geralmente está-se desatento. Mas logo que se toma consciência da desatenção, fica-se atento, não é assim? Portanto, tomemos consciência da desatenção. Através da negação atinge-se o positivo. Ao compreender-se que se está desatento, surge a atenção.

Krishnamurti — Conferência na Universidade de Brandeis





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