Sobre o envolvimento político
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Sobre o envolvimento político


            Já notastes como a política e a reforma social se tornaram extraordinariamente predominantes em nossas vidas, nos tempos atuais? Todos os jornais e a maioria das revistas, salvo as de gênero puramente “escapista”, estão cheios de política, de estudos econômicos, e outros problemas. Já perguntastes a vós mesmos qual o motivo dessa orientação, por que razão os entes humanos estão atribuindo tamanha importância à política, à economia e à reforma social? As reformas são necessárias, em vista da confusão econômica, social e política, e da geral deterioração das condições de vida do homem, depois das duas guerras. Agrupam-se, por isso, multidões em torno dos guias políticos; as ruas ficam apinhadas de gente que os quer ver, como se fossem animais exóticos... Os homens que querem resolver o problema no nível econômico, social ou político, sem levar em conta o processo total do homem. Podem esses problemas ser atendidos separadamente, independentemente do psicológico total do homem? Podeis possuir um sistema perfeito, que julgais capaz de resolver os problemas econômicos do mundo, mas um outro terá também o seu sistema perfeito; e os dois sistemas, representando duas ideologias diferentes, se combaterão. Enquanto estiverdes a lutar por causa de idéias, de sistemas, não haverá uma revolução verdadeira e radical, nunca será possível a transformação fundamental da sociedade. As idéias não transformam os homens. É a libertação das idéias que causa a transformação. Revolução baseada em idéia não é revolução, mas apenas uma continuação do passado num estado modificado. Isso, evidentemente, não é revolução.
            O interrogante deseja saber porque não tomo parte na política ou na reforma social. Ora, se compreendemos o processo total do homem, atendemos então aos fatos fundamentais em vez de ficarmos meramente a podar determinados ramos da árvore. Mas a maioria de nós não tem interesse pelo problema na sua totalidade. Só nos interessa a reconciliação, o ajustamento superficial, e não a compreensão fundamental do homem, como um processo total. É muito mais fácil ser especialista num determinado nível. Os especialistas do nível econômico ou do nível político deixam a outros especialistas o nível psicológico, e assim nos tornamos escravos dos especialistas: somos sacrificados pelos especialistas a uma idéia. Nessas condições, só haverá possibilidade de uma revolução fundamental quando compreenderdes o processo total de vós mesmo, não como indivíduo oposto à massa, à sociedade, mas como um indivíduo em relação com a sociedade; porque sem vós a sociedade não existe, sem vós não pode haver relações com outras pessoas. Não haverá revolução nem transformação fundamental enquanto não compreendermos a nós mesmos. Os reformadores e os chamados revolucionários são, na realidade, fatores de retrocesso na sociedade. O reformador tenta remendar a atual sociedade com base numa ideologia, e sua idéia é condicionada a um padrão; e uma revolução dessa espécie, baseada em ideologia, nunca será capaz de produzir uma transformação fundamental nas relações sociais. O que nos interessa não é a reforma ou continuidade modificada, a que chamais revolução, mas, sim a transformação fundamental do homem, em suas relações com o homem, e enquanto não se verificar essa modificação básica no individuo, não poderemos produzir uma nova ordem social. A transformação fundamental não depende de crenças, de organizações religiosas, nem de sistema algum, político ou econômico: depende unicamente da vossa compreensão de vós mesmos, em relação uns com os outros. Essa é a revolução real que cumpre efetuar-se e tereis, então, como individuo, extraordinária influência na sociedade. Mas, sem essa transformação, o mero falar de revolução, ou o sacrifício de vós mesmo em prol de uma suposta idéia prática — o que realmente não é sacrifício nenhum — não passa evidentemente de mera repetição, e, portanto, retrocesso.

Krishnamurti - 15 de janeiro de 1950 – Do livro: Nosso Único Problema -  ICK




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