Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”
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Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”




Ubuntu é uma palavra existente nas línguas zulu e xhosa, faladas na África do Sul, que exprime um conceito moral, uma filosofia, um modo de viver que se opõe ao narcisismo e ao individualismo tão comuns em nossa sociedade capitalista neoliberal. 

Pode ser uma alternativa ecopolítica para uma convivência social e planetária pautada pelo altruísmo,  fraternidade e colaboração entre os seres humanos.

Ubuntu significa: “Eu sou porque nós somos” ou, em outras palavras “Eu só existo porque nós existimos”.



Não apenas ser porque tu és, mas também ser por meio de ti: essa é, em resumo, a ética ubuntu, segundo Dirk Louw, psicólogo e filósofo da África do Sul. 

Por isso, afirma, “ser humano significa ser por meio de outros”, sejam estes vivos ou mortos, humanos ou não. Em um sentido mais geral, ubuntu também “significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor”.



Ubuntu exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. É um conceito moral, uma filosofia, um modo de viver.

Segundo o espírito de ubuntu, as pessoas não devem levar vantagem pessoal em detrimento do bem-estar do grupo. Para que uma pessoa seja feliz será preciso que todas do grupo se sintam felizes. Estamos conectados uns com os outros e essa relação estende-se aos ancestrais e aos que ainda nascerão.



Ubuntu é, assim, um sistema de crenças, uma ética coletiva e uma filosofia humanista espiritual pautada pelo altruísmo, fraternidade e colaboração entre os seres humanos. 

Do ponto de vista político, o conceito de ubuntu é usado para enfatizar a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão. É a síntese de um conhecido provérbio xhosa da África do Sul que diz o seguinte: “Umuntu Ngumuntu Ngabantu“, que significa “Uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas“.

Ser humano significa ser por meio de outros. Qualquer outra forma de ser seria “des-umana” no duplo sentido da palavra, isto é, “não humano” e “desrespeitoso ou até cruel para com os outros”. Essa é, grosso modo, a forma como a ética ubuntu africana descreve e também prescreve o ser humano.

Em um sentido estritamente tradicional ou, se se preferir, religioso, ubuntu significa que só nos tornamos uma pessoa ao ser introduzidos ou iniciados em uma tribo ou em um clã específicos. 

Nesse sentido, “tornar-se uma pessoa por meio de outras pessoas” implica em passar por vários estágios, cerimônias e rituais de iniciação prescritos pela comunidade.


Entretanto, em um sentido comum ou, se se preferir, secular, ubuntu significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor.

O ubuntu é resilientemente religioso. Para um ocidental, a máxima “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas” não tem conotações religiosas óbvias. Ele provavelmente a interpretará apenas como um apelo geral para tratar as outras pessoas com respeito e decência.

Na tradição africana, entretanto, essa máxima tem um sentido profundamente religioso. A pessoa que devemos nos tornar “por meio de outras pessoas” é, em última análise, um ancestral. E, da mesma forma, essas “outras pessoas” incluem os ancestrais. Os ancestrais são a família extensa. Morrer é um último voltar para casa. Por conseguinte, não só os vivos devem compartilhar e cuidar uns dos outros, mas os vivos e os mortos dependem uns dos outros. 

A ética ubuntu ajuda a melhor desenvolver um diálogo inter-religioso verdadeiro condensando precondições vitais para esse diálogo. Essas precondições incluem um respeito pela religiosidade, individualidade, particularidade e historicidade ou natureza processual dos outros, assim como a valorização do consenso ou do acordo.

O pensamento africano é holístico. Como tal, ele reconhece a íntima interconectividade e, mais precisamente, a interdependência de tudo. 

De acordo com o ethos do ubuntu, uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas (isto é, da comunidade em sentido abrangente: os demais seres humanos assim como os ancestrais), mas uma pessoa é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza e os seres não humanos. Cuidar “do outro” (e, com isso, de si mesmo), portanto, também implica o cuidado para com a natureza (o meio ambiente) e os seres não humanos.





Na África do Sul, a noção de Ubuntu ligou-se também à história da luta contra o Apartheid e inspirou Nelson Mandela na promoção de uma política de reconciliação nacional. Muitos anos antes, quando Mandela criou a liga da juventude da ANC, em 1944, a noção já estava presente no manifesto do movimento: "Ao contrário do homem branco, o africano quer o universo como um todo orgânico que tende à harmonia e no qual as partes individuais existem somente como aspectos da unidade universal"



A palavra Ubuntu, não traduzível diretamente, exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade. Segundo o arcebispo anglicano Desmond Tutu, autor de uma teologia ubuntu "a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade" . Essa noção de fraternidade implica compaixão e abertura de espírito.



Segundo o Arcebispo Desmond Tutu:

"Uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível para as outras, apoia as outras, não se sente ameaçada quando outras pessoas são capazes e boas, com base em uma autoconfiança que vem do conhecimento de que ele ou ela pertence a algo maior que é diminuído quando outras pessoas são humilhadas ou diminuídas, quando são torturadas ou oprimidas."


Uma sociedade sustentada pelos pilares do respeito e da solidariedade faz parte da essência de ubuntu, filosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras. Na tentativa da tradução para o português, ubuntu seria “humanidade para com os outros”. Uma pessoa com ubuntu tem consciência de que é afetada quando seus semelhantes são diminuídos, oprimidos.

– De ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha: “Eu sou porque nós somos”. Eu sou humano, e a natureza humana implica compaixão, partilha, respeito, empatia – detalhou Dirk Louw, doutor em Filosofia Africana pela Universidade de Stellenbosch (África do Sul).



– No fundo, este fundamento tradicional africano articula um respeito básico pelos outros. Ele pode ser interpretado tanto como uma regra de conduta ou ética social. Ele descreve tanto o ser humano como “ser-com-os-outros” e prescreve que “ser-com-os-outros” deve ser tudo. 

Como tal, o ubuntu adiciona um sabor e momento distintamente africanos a uma avaliação descolonizada – contou o especialista e membro-fundador da South African Philosopher Consultants Association.

A educadora sul-africana Dalene Swanson, professora da University of British Columbia, em Vancouver, Canadá, fala o seguinte a respeito do ubuntu:

"Diferentemente da filosofia ocidental derivada do racionalismo iluminista, o ubuntu não coloca o indivíduo no centro de uma concepção do ser humano. Este é todo o sentido do ubuntu e do humanismo africano. A pessoa só é humana por meio de sua pertença a um coletivo humano; a humanidade de uma pessoa é definida por meio de sua humanidade para com os outros: (…) o valor de sua humanidade está diretamente relacionado à forma como ela apoia ativamente a humanidade e a dignidade dos outros; a humanidade de uma pessoa é definida por seu compromisso ético com sua irmã e seu irmão."


Ubuntu ressalta a importância do acordo ou consenso. A cultura tradicional africana, ao que parece, tem uma capacidade quase infinita para a busca do consenso e da reconciliação.  Embora possa haver uma hierarquia de importância entre os oradores, cada pessoa recebe uma chance igual de falar até que algum tipo de acordo, consenso ou coesão do grupo seja atingido. 

Após quase cinco décadas de segregação racial apoiada pela legislação, o processo de construção da África do Sul no pós-apartheid exigia igualdade universal, respeito pelos direitos humanos, valores e diferenças. Desta forma, a ideia de ubuntu estava diretamente ligada à história da luta contra o regime que excluía a cidadania e os direitos dos negros.

Dirk Louw conta que o individualismo ressalta aspectos aparentemente solitários da existência humana, em detrimento dos aspectos comuns. Para o coletivista, a sociedade nada mais é que um grupo ou uma coleção de solitários indivíduos. 

No Ocidente, o individualismo, muitas vezes, se traduz em uma competitividade impetuosa. Isso está em contraste com a preferência africana para a cooperação, o trabalho em grupo ou Shosholoza (trabalho em equipe).




Desmond Tutu – 
“É a essência do ser humano. Ele fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligada à sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ele fala sobre a totalidade, sobre a compaixão. Uma pessoa com ubuntu é acolhedora, hospitaleira, generosa, disposta a compartilhar. A qualidade do ubuntu dá às pessoas a resiliência, permitindo-as sobreviver e emergir humanas, apesar de todos os esforços para desumanizá-las.”

A proposta de família alargada, que abraça toda a comunidade fortalecida a partir da ajuda mútua, sanando o sofrimento alheio, traz consigo a ideia da superação de diferentes tipos de discriminação, relacionados, por exemplo, à cor da pele, gênero, orientação sexual e religião.

– Deve ficar claro que ubuntu se opõe à discriminação negativa, seja contra homossexuais, mulheres ou por motivos de raça. 

No entanto, pode-se argumentar que a compreensão de Thaddeus Metz (filósofo americano) se resume a uma interpretação liberal, emancipatória do ubuntu. Nem todas as versões ou interpretações de ubuntu são iguais – completou Dirk.

Ubuntu traduz a essência do ser humano. Refere-se ao componente presente em todas as pessoas que as capacita, potencialmente, ao entendimento, relacionamento, colaboração. Em muitas pessoas esse potencial se manifesta naturalmente. Na maioria, com maior ou menor intensidade, precisa ser estimulado, despertado.




“Um antropólogo que estudava os usos e costumes de uma tribo africana propôs uma brincadeira inofensiva às crianças. Encheu um pote com doces e guloseimas e colocou-o debaixo de uma árvore. Depois, chamou as crianças e combinou que quando desse o sinal, elas corriam para o pote e a que chegasse primeiro ficava com todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças posicionaram-se na linha de partida que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando deu o sinal, todas as crianças deram as mãos e começaram a correr em direção à árvore onde estava o pote. Quando lá chegaram, distribuiram os doces entre si e começaram a comê-los.
O antropólogo foi ter com as crianças e perguntou porque razão tinham ido todos juntos quando, o primeiro a chegar, ficaria com tudo que havia no pote e, assim, comeria muito mais doces.
As crianças responderam: “Ubuntu, tio. Como poderia um de nós ficar feliz se todos os outros estivessem tristes?”
Ele ficou desconcertado! Meses e meses a trabalhar, estudando a tribo, e não tinha compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto a competição…
Ubuntu significa: “Eu sou quem sou, porque somos todos nós!”




* Nossos agradecimentos a Dianne Moura, pela sugestão de postagem







Fonte:http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/ubuntu-o-que-a-africa-tem-a-nos-ensinar/
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3687&secao=353
http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/ubuntu-filosofia-africana-que-nutre-o-conceito-de-humanidade-em-sua-essencia




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