Um breve relato sobre "família disfuncional"
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Um breve relato sobre "família disfuncional"


A família disfuncional começa a gravar toda forma de condicionamento: cultural, religioso, racial, nacionalista, toda forma de cultura; começa a transmitir tudo, dizendo aquilo que você “pode” e aquilo que você “não pode” dizer ou fazer, como “você tem que” sentar, como “você tem que” falar, a ditar quantas vezes “você tem que” se alimentar durante o dia... Como se nós, seres humanos, fossemos todos iguais, como se tivéssemos que funcionar igualmente, não respeitando nenhuma característica individual. Vocês já pensaram um jardineiro exigir que uma rosa, fosse igual a um gerânio; ou o gerânio ser igual a rosa? É mais ou menos isso o que é o condicionamento familiar e social: enquadrar todos os seres num mesmo tipo de percepção de mundo; e é bem isso o que acaba ocorrendo dentro de uma família disfuncional. Você nasce já recebendo os vários pacotes culturais transgeracionais, os quais ditam os padrões comportamentais “aceitáveis”.

É normal, desde a mais tenra idade, nos depararmos com frases do tipo: “O que você ‘vai ser’ quando crescer?” Quer dizer, aqui e agora, você não é; você só ‘vai ser’ se você conseguir um diploma com uma estampilha dourada para afixar numa determinada parede; se você colecionar vários diplomas referentes a uma determinada especialidade, então você será, caso contrário, “você não é”. Esse padrão de “vir-a-ser”, é um padrão herdado, um padrão transgeracional que em nós é instalado desde a mais tenra idade. Então, se a sua família é vegetariana, você também é vegetariano; se a família é carnívora, você é carnívoro; você “tem que” comer porque isso vem funcionando até hoje com a sua família, então, também “tem que” funcionar com você; se funcionou com todos os seus ancestrais, por que não vai funcionar com você? Desse modo, desde a infância, somos formatados, condicionados, mesmerizados, vamos sofrendo os mais variados tipos de pressão instalados através de uma enorme quantidade de “você tem que”, “você deve” e “é assim e pronto!”... “Se você não funcionar do meu jeito, vou colocá-lo num reformatório!” “Se não fizer o que estou falando, vai direto para a Diretoria!”

Numa família disfuncional, a educação é alicerçada num modelo comparação, o qual é responsável pela fragmentação da consciência da realidade que somos. Será possível algo mais fragmentador do que comparar um ser humano com outro ser humano e avaliá-lo através de um conceito padronizado, socialmente aceitável? Será que há algo mais fragmentador do que forçar um ser humano a abrir mão de suas características próprias, originais, para ser “igual” ao primo, ao irmão mais novo ou mais velho que “não dá trabalho”? E, dessa forma, devido a nossa necessidade de aceitação grupal, vamos nos conformando às descabidas pressões de adultos adulterados adulterantes e, consequentemente, abrindo mão de nossa autenticidade, de nossa originalidade e de nossa sensibilidade criativa. Passamos então a ser meras cópias, facilmente influenciáveis. E tudo isso, através da influência das pessoas significativas que afirmam, de forma leviana, nos amar; como dizia o poeta: “Quando você gosta mesmo, não quer mudar a pessoa!” Onde está o amor ai, se quero formatar o outro para ser aquilo que “eu acho” que é o mais correto para ele? Então, seu eu fizer tudo de acordo com a expectativa do outro, eu sou amado; se eu não fizer do jeito que a expectativa dele tem de mundo para mim, eu já não “mereço” o mesmo amor, não mereço o mesmo tratamento e, portanto, devo ser deixado de lado. Numa família disfuncional, a retórica de pensamento é mais ou menos a seguinte: "Eu lhe apoiarei — desde que — você faça exatamente aquilo que eu espero que você faça, para que, assim, eu não tenha abalada a minha atual zona de conforto". Então, uma criança de sete ou oito anos de idade, ela não tem o raciocínio de um adulto; para ela receber a atenção e o carinho condicionado dessas pessoas significativas e, assim, se sentir parte do grupo, o que para ela é fundamental nessa fase de sua vida, ela fatalmente irá negar o ser que é, custe o que custar. Isso pode ser fácil no início, mas, com o passar dos anos, não vai ter como dar continuidade a esse processo de auto-abandono, de auto-boicote de sua natureza real. Com o passar dos anos, não há como ter a sua sensibilidade totalmente adulterada; isso é corrupção; corrupção não é passar dinheiro por debaixo da mesa; corrupção é você contrariar aquilo que o teu coração está pedindo, contrariar aquilo que o teu coração está te mostrando como verdadeiro. Corrupção é você deixar de expressar os seus reais sentimentos em nome de se ajustar às descabidas exigências de terceiros. E, uma vez aceito isso, com tanta pressão, ter sido exposto durante tantos anos a um ambiente opressivo, com abusos físicos, verbais, emocionais, religiosos, sexuais; muitos desses abusos são vistos pela sociedade como sendo educação, quando não tem nada a ver com a genuína educação; isso na realidade é abuso! Abuso é tudo aquilo que nos faz corar. No abuso sexual não é preciso que ocorra a penetração; uma colocação, um olhar pode ser um abuso. Então, nessas famílias disfuncionais, falta psique, falta inteligência amorosa; e é importante ressaltar aqui, que ninguém é culpado disso, afinal, somos todos prisioneiros em meio de prisioneiros; somos sobreviventes em meio de sobreviventes. Até hoje, não temos a presença de uma genuína “educação psíquica”. A educação, até hoje, é orientada para você “servir tecnicamente, especificamente ao sistema”; temos uma educação que só prepara o lado técnico de nossa mente. O lado humano, nossa expressão anímica é totalmente descartada. A dimensão psíquica do ser que somos é totalmente descartada. Como é possível fazer frente a todas as exigências do mundo, sem esse lado humano, só com uma mente técnica, cartesiana? É óbvio que o coração, o ser, vai “explodir”, com tanta forma de inadequada pressão. E aí está os fundamentos da depressão. Então, como costumo dizer, a depressão é a maior benção de um ser humano, pois é o último aviso que o ser lhe manifesta, dizendo da necessidade emergencial de resgatar a originalidade, a autenticidade, o estado de unidade interna entre mente e coração; um aviso dessa mais profunda e amorosa inteligência psíquica de que não é mais possível dar continuidade a esse padrão de fragmentação interna em nome da aceitação condicionada de pessoas condicionadas e que se relacionam apenas com uma imagem de um padrão comportamental socialmente aceito como correto. É um absurdo isso, aceitar como correta, sem a mínima expressão de questionamento, a cultura herdada; o que numa dentro de um espaço e tempo é correto, noutra localidade e noutro tempo já não é correto. Então, como é possível querer se encaixar dentro dos moldes de moral que o outro tem como correto? Em vista disso que afirmo ser a depressão uma benção; porque ela nos diz: “Ou você segue o seu coração ou seu te mato!”... E mata mesmo! E nunca vamos ver num laudo policial, que a pessoa acabou morrendo por causa de um súbito ataque reativo de “pensamento psicológico condicionado”. Com certeza, darão um monte de conceitos no laudo, mas nunca colocarão de que fulano morreu por causa da inconsciente identificação com um padrão de pensamento psicológico condicionado. Não tem como praticar qualquer tipo de padrão obsessivo compulsivo sem antes se pensar absurdamente nesse padrão, sem antes ter “ritualizado” pelo pensamento, as possibilidades para a manifestação desse padrão comportamental.
É isso o que vejo!

Um fraterabraço e bons momentos nesse esterno agora que somos!

Outsider




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