Todo trabalho criativo deriva de trabalhos anteriores
Devemos invocar os serviços da arte para dar à religião sua roupagem mais delicada... Através da prática da arte o homem pode chegar mais perto da alma do que através do ocultismo. A arte só pode tomar o lugar da religião e substituí-la quando é verdadeiramente inspirada. Quando chegam a cumprir sua missão mais elevada, a pintura e a escultura tentam tornar visível, a música tenta tornar audível, a prosa literária tenta tornar pensável, a literatura poética tenta tornar imaginável o invisível, o inaudível, o impensável e o inimaginável mistério do puro Espírito. Embora seja verdadeiro dizer que essas artes jamais podem dar forma o que por sua própria natureza é o Sem Forma, é também verdadeiro dizer que podem indicá-lo, sugeri-lo, simbolizá-lo e apontá-lo. A arte cumpre seu propósito mais elevado e adquire um significado mais valioso quando se torna veículo para a beleza espiritual. Algo produzido com tal inspiração libera uma forma de energia que faz com que os que podem percebê-la com suficiente abertura sintam e vejam o que seu criador sentiu e viu. Há uma transmissão real. Uma obra de arte que desperta em seu observador, ouvinte ou leitor um profundo sentimento de reverente adoração, de força interior ou de tranquilidade mental confere-lhe com isso uma benção. Capacita-o a partilhar da inspiração do artista. Existe essa qualidade em torno de uma obra inspirada: a de que você pode voltar a ela muitas e muitas vezes e descobrir algo novo, útil, belo ou abençoado. O escritor, artista ou músico que está destinado a provocar intuições na mente do aspirante deve ser um receptáculo humano da inspiração divina. O artista tem duas funções: receber através da inspiração e dar através da técnica. A faculdade criativa deve ser cultivada e desenvolvida tanto como uma grande ajuda ao crescimento espiritual quanto como expressão dele. Se o indivíduo consegue transmitir, por intermédio de seu trabalho, algo da inspiração que recebe — seja ele sacerdote ou artista — ele é verdadeiramente criativo. Nenhum artista cria realmente alguma coisa. Tudo o que ele pode fazer é tentar comunicar aos outros aquilo que lhe foi comunicado. O que é que atrai na verdadeira arte? Não é a obra que a expressa, mas sim, o espírito que a inspira, cuja fonte divina ela nos lembra. Se a pessoa compõe, pinta, esculpe ou escreve quando a luz interior lhe mostra a coisa ou o pensamento a ser delineado — não quando a opinião, o preconceito ou a falsidade a impelem — ela será verdadeiramente inspirada. Uma produção artística realmente inspirada deve proporcionar alegria ao seu criador no momento da criação, da mesma forma que o seu possuidor, ouvinte ou apreciador. Se não o faz, a obra não é inspirada. O gênio é ao mesmo tempo receptivo e expressivo. Aquilo que obtém intuitivamente do interior ele, em troca, distribui sob as formas de sua arte ou habilidade. Ele cria, não para expressar sua pequena personalidade como tantos o fazem, mas para escapar dela. Pois é no divino que o transcende, e que é sublimemente impessoal, que ele procura inspiração. O método e a técnica são necessários em si mesmos, porém incompletos; a inspiração e a intuição devem luzir por trás deles.
A arte pode ser uma via para a iluminação espiritual, mas não para a iluminação completa e duradoura. Ela pode ter nascido de Vislumbres apenas, e pode dar à luz a Vislumbres apenas. Pois a arte é a busca da beleza, que sozinha não é suficiente. A beleza precisa ser apoiada virtude, e ambas necessitam ser guiadas pela sabedoria. A beleza é um lado da realidade que atrai a nossa busca e o nosso amor. Mas, pelo fato de ela ser tão sutil e nossas percepções tão densas, encontramo-la primeiramente nas formas de arte e na Natureza, e somente mais tarde na existência pura e imaterial da realidade inatingível.
O artista deve erguer a taça da sua visão para o alto em direção aos deuses, na elevada esperança de que eles derramem dentro dela o doce e suave vinho da inspiração. Se a estrela da boa sorte o favorecer nesse dia, ele precisa então entregar os lábios à delicada sedução dessa bebida cor de âmbar, que faz com que as preocupações se evaporem e devolve à língua a esquecida linguagem da alma. Pois essas inspirações sublimes procedem de um céu que é mais brilhante que o seu e que ele não pode controlar. A função da arte difere daquela do misticismo, mas ambas convergem para a mesma e definitiva direção. Ambas são expressões da busca humana de algo mais elevado do que o comum.
Quem quer que aceite a mais elevada missão da arte e dela se aproxime cada vez mais através de sua atividade criativa, partirá então da arte para o Espírito dentro da profundeza do seu próprio ser. A mente que alcança significados espirituais expressivos, ou que se vê atentamente presa a sons muito belos, é uma mente que um dia se mostrará sensível à Verdade.
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