A ideia de amor é só uma sedução biológica
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A ideia de amor é só uma sedução biológica


A palavra Amor pode ter dois significados absolutamente diferentes — não apenas diferentes, mas diametralmente opostos. Um significado é amor no sentido de relacionamento; o outro é amor no sentido de estado de ser. No momento em que o amor se torna relacionamento, ele passa a ser um cativeiro, pois existem expectativas, existem exigências, exigem frustrações e um esforço de ambos os lados para dominar. O amor torna-se uma luta pelo poder. O relacionamento não é a coisa certa. Mas o amor como estado do ser é uma coisa totalmente diferente. Significa que você está simplesmente amando; você não está criando um relacionamento a partir dele. O seu amor é assim como o perfume de uma flor. Ele não cria um relacionamento; não pede que você seja de um certo modo, que se comporte de um certo modo, que aja de um certo modo. Ele não exige nada. Simplesmente compartilha. E nesse compartilhar também não existe nenhum desejo de recompensa. O próprio compartilhar é a recompensa.

Quando o amor torna-se um perfume para você, ele tem uma beleza extraordinária. E algo está muito além da chamada humanidade — ele tem algo divino.

Quando o amor é um estado, você não pode fazer nada com ele. Ele irradia, mas não cria nenhum aprisionamento para ninguém, nem deixa que você seja aprisionado por ninguém.

Contudo você está acostumado a criar relacionamentos, desde que era criança… Ao longo de toda a sua vida, você está cercado por muitos tipos de relacionamento. E relacionamentos como esses, sejam reais ou imaginários, são um tipo muito sutil de escravidão psicológica. Ou você escraviza a outra pessoa ou torna-se você mesmo um escravo.

Outro ponto que é preciso destacar é que você não pode escravizar alguém sem se tornar  você mesmo um escravo. A escravidão é uma faca de dois gumes. Um pode ser mais forte, o outro pode ser mais fraco, mas em todo relacionamento você se torna um carcereiro e o outro se torna um prisioneiro. Visto do lado do outro, ele é um carcereiro e você o prisioneiro. E essa é uma das causas básicas de a humanidade viver em meio de tamanha tristeza, em tal estado de aflição.

O ódio é muito mais forte num relacionamento do que o amor, pois o amor é muito superficial. O seu ódio é muito profundo. O seu ódio constitui toda a sua herança animal. O seu amor é só um potencial para o futuro; não é um fato; só uma semente. Mas o seu ódio está em pleno desenvolvimento, já amadureceu — milhares de anos do seu passado passando por diferentes formas de vida. Ele já teve tempo e espaço para crescer. É só no homem que a mudança começa a acontecer.

(…) Deixe que o seu amor seja o estado do seu ser. Não que você se apaixone; você simplesmente ama. Trata-se simplesmente da sua natureza. O amor, para você, é só um perfume do seu ser. Mesmo quando está sozinho, você está cercado da energia do amor. Mesmo quando toca uma coisa morta, como uma cadeira, a sua mão irradia amor —  não importa para quem. O estado de amor não se dirige a nada.

Não estou sugerindo que você não viva nesse estado de amor, mas que você só pode viver nesse estado se deixar de lado o antigo padrão mental dos relacionamentos. O amor não é um relacionamento.

Duas pessoas podem ser muito amorosas uma com a outra. Quanto mais amorosas elas são, menor é a possibilidade de haver um relacionamento. Quanto mais amorosas elas são, maior é a liberdade que existe entra elas. Quanto mais amorosas elas são, menor é a possibilidade de alguma exigência, dominação, expectativa. E, naturalmente, não existe nenhum tipo de frustração.

Quando duas pessoas tem um relacionamento e suas expectativas não são preenchidas — e não vão ser mesmo —, o amor transforma-se imediatamente em ódio. Existiam expectativas, agora existem frustrações — mas primeiro elas projetaram as suas expectativas; agira elas estão projetando as suas frustrações. Nenhuma delas consegue ver que estão cercadas pelas suas próprias idéias inconscientes. E estão sofrendo.
Assim como no tempo em que imaginavam se amar, apreciavam uma à outra, sem conhecer uma à outra absolutamente, agora elas condenam uma à outra. É por isso que eu quero que você se lembre: não tenha expectativas. Ame porque o amor é o seu próprio crescimento interior. O seu amor ajudará você a crescer em direção a luz, em direção a mais verdade, a mais liberdade. Mas não comece um relacionamento.

Lembre-se apenas de uma coisa: o amoré capaz de destruir todo o resto; simplesmente não deixe que ele se torne um relacionamento — assim o amor desaparecerá e, em nome do amor, surgirá a dominação, a política. os problemas, então, só começarão a aumentar.

(…) Não existe, assim, nada de errado com o amor. Na verdade, sem o amor tudo está errado. Mas o amor é tão valioso que ele precisa ser protegido de todo o tipo de poluição, de contaminação, de qualquer tipo de envenenamento. O relacionamento o contamina. Quero que o mundo consista de indivíduos. Até mesmo o uso da palavra “casal” me agride. Você tem de destruir dois indivíduos e um casal não é uma coisa bonita.

Deixemos que o mundo se componha de indivíduos e, sempre que o amor brotar espontaneamente, cante com ele, dance com ele, viva-o; não crie correntes que o prendam a ele. Nem tente prender alguém num cativeiro, nem deixe que ninguém prensa você num cativeiro.

Um mundo composto apenas de indivíduos será um mundo verdadeiramente livre.

(…) Sem amor você fica sem asas. Mas pelo fato de ser um alimento e uma necessidade, surgiram muitos problemas em torno dele. Você quer que o seu amante ou bem-amado esteja à sua disposição amanhã também. Hoje foi bonito e você está preocupado com o amanhã. Por isso surgiu o casamento. Trata-se apenas do medo de que talvez amanhã o seu amante ou bem-amado possa deixar você — então façamos um contrato diante da sociedade e da lei. Mas ele é vil — absolutamente vil, nojento. Fazer do amor um contrato significa que você está colocando a lei acima do amor; significa que você está colocando o coletivo acima da individualidade e está se apoiando nos tribunais, nos exércitos, na polícia, nos juízes, para que o seu cativeiro seja absolutamente garantido e seguro. Amanhã pela manhã… nunca se sabe. O amor vem como uma brisa — ele ode vir de novo, pode não vir. E quando ele não vem, só por causa da lei, por causa do casamento, por causa da preocupação com a respeitabilidade social, quase todos os casais do mundo caem na prostituição.

Viver com uma mulher que você não ama, viver com um homem que você não ama, viver junto para ter segurança, para ter proteção, para ter respaldo financeiro, viver junto por qualquer motivo que não seja o amor, não passa de prostituição. Eu gostaria que a prostituição desaparecesse completamente deste mundo. Todas as religiões pregam que a prostituição não deveria existir — mas é assim que é a estupidez humana. Essas mesmas religiões que são contra a prostituição são a causa da prostituição, pois, por um lado, elas apoiam o casamento e, por outro, são contra a prostituição.

O próprio casamento é uma prostituição. Se eu confio no meu amor, porque deveria me casar? A própria ideia de casar é um sinal de desconfiança. E algo que é produto da desconfiança não vai ajudar o seu amor a ficar mais profundo e elevado. Ele vai destruí-lo. Ame, mas não destrua o amor com uma coisa falsa — o casamento ou qualquer outro tipo de relacionamento. O amor é autêntico quando há liberdade. Deixe que esse seja o critério. O amor só é verdadeiro quando não invade a privacidade da outra pessoa. Ele respeita a individualidade, a privacidade dela. Mas os amantes que você vê por este mundo afora fazem de tudo para nada seja provado; todos os segredos t~em de ser compartilhados. Eles temem a individualidade; destroem a individualidade um do outro e acham que, destruindo um ao outro, vão ter uma vida de contentamento, de total plenitude. Ela simplesmente fica cada vez mais infeliz.

(…) Eu não sou contra o amor. Sou totalmente a favor dele; é por isso que sou contra relacionamentos, contra casamentos. Pode ser que duas pessoas consigam viver a vida toda juntas. Ninguém está dizendo que você tenha que se separar, mas essa vida em comum será fruto apenas do amor, sem que um interfira ou invada a individualidade do outro, a alma do outro. Essa é a dignidade da outra pessoa.

Você pode ser amoroso, você pode ser amor. E, se você está simplesmente amando, se você for simplesmente amor, então não existe a possibilidade de que o amor se transforme em ódio. Pelo fato de não existir expectativa, não há como ficar frustrado. Mas estou falando do amor como um fenômeno espiritual, não como biologia. Biologia não é amor, é luxúria. A biologia está interessada na continuação das espécies; a ideia de amor é só uma sedução biológica. No momento em que você faz amor com uma mulher ou com um homem, você descobre que o interesse acabou, pelo menos pelas próximas 24 horas. E isso depende da sua idade — à medida que vai ficando mais velho, são 48 horas, 72 horas…

OSHO




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