autoconhecimento
A liberdade para comandar a vida à sua própria maneira
À medida que desenvolve mais inteligência e percepções mais sutis, ele deixa de ser mero fantoche convencional e se transforma, finalmente, numa pessoa real.
Se o que busca não encontra ninguém em suas relações, contatos ou sociedade próximo o bastante de seu nível de interesses espirituais, deve aceitar sua solidão, pois escolheu afastar-se da preocupação comum. Porque, para ser um filósofo atuante, o homem deve seguir seu próprio caminho. Essa exigência de individualidade requer coragem e sabedoria. Se lhe faltar conhecimento superior, percepção intuitiva e intelecto — cuja combinação é sabedoria — deverá então procurar desenvolvê-los, e isso exige trabalho. No meio tempo, pode obter ajuda de guias pessoais e livros superiores. Sem sabedoria, ou, ao menos, sem um esforço genuíno em direção a ela, sua trajetória será mal estabelecida, e ele pode chegar ao desastre.
Afastar-se da vida comunitária sectária e caminhar sozinho requer qualidades que só uns poucos possuem. Há, nessa vida, segurança, conforto, apoio moral e material. Para ser capaz de abandonar essas coisas o homem deve ter um forte anseio anterior, assim como uma percepção clara e permanente do significado da filosofia.
O fraco não pode trilhar esse caminho. O homem precisa de força para seguir o que sua intuição profunda lhe diz para seguir, principalmente quando isso se afasta do supostamente racional e do socialmente convencional. Se sua atitude ou ação defronta-se com a crítica ou com a oposição, o que isso significa para ele? Não lhe cabe responder pelo que as outras pessoas pensam a seu respeito. Isso é de responsabilidade delas. Cabe-lhe responder apenas por aquilo que ele mesmo pensa ou faz.
Apenas o homem que tem a paixão de chegar à certeza da verdade, que tem a coragem de sustentar pontos de vista não-ortodoxos e de chegar a conclusões independentes, que vive num clima de pensamento original, e para quem a acusação de heresia não é acusação alguma, está apto a encontrar o caminho da verdade.
Seu dever é agir como pioneiros; mas, para serem pioneiros bem-sucedidos, precisam de coragem para esquecer ideias gastas e libertar-se de tradições moribundas, para ficar à altura das novas condições que estão surgindo. Nesse sentido, a sugestão de que seria também um dever cooperar com movimentos espirituais existentes seria aceitável se fosse praticável; mas a experiência mostrará que a maioria desses movimentos é incapaz de penetrar aquela profunda unidade de corações, a única que pode garantir o êxito de qualquer união externa. Tal plano terminaria em fracasso, e é melhor que elas sigam o seu caminho independente, do que desperdicem tempo e energia tentando o que não pode ser conseguido e não é realmente necessário.
A liberdade para comandar a vida à sua própria maneira é conquistada apenas quando ele consegue o destemor de desconsiderar a crítica e ignorar as expectativas de outras pessoas.
O que queremos dizer é que o homem moderno tem que se tornar mais auto-confiante, tem que jogar fora os restos da consciência tribal que ainda o regem, tem que aprender a pensar por si mesmo.
Seu desejo de expressar personalidade, caráter e pontos de vista individuais deve ser respeitado desde que não os tente impor aos demais de maneira agressiva ou tirânica.
Não é necessário ser grosseiro ou irritável para ser um individualista. Pode-se ser afável, bem-humorado, educado e gentil — e até mesmo radiante de boa vontade. É toda uma questão de equilíbrio interior.
Ele deve recusar-se a violar sua integridade intelectual ou a sacrificar sua independência espiritual.
Se ele é incapaz de continuar nesse busca sem a associação, o encorajamento ou a simpatia de outros que também a seguem, então é melhor não a iniciar, pois é óbvio que ainda não está preparado para ela e não sabe apreciar suficientemente seus valores.
Ele deve tentar manter sua vida em suas mãos se quer mantê-la livre das influências que afastariam os ideais que ele se propôs, especialmente, a seguir. Se ele dá valor à liberdade, deve recusar-se a se colocar numa posição em que seja obrigado a fazer eco aos pontos de vista daqueles que não compartilham de suas ideias. Pode ter que escolher entre as provações de uma independência resoluta e as tentações de uma segurança debilitante.
É preciso força mental ou poder mental para recusar o apoio gregário da massa — seja ela uma igreja sectária, um grupo místico ou alguma outra combinação. É preciso fé em si mesmo e coragem para resistir à influência dos outros e ser um indivíduo.
Ele não pode adequar-se mentalmente a nenhuma das categorias aceitas, que a sociedade local e de seu tempo fornece, e então um caminho independente e solitário o atrai. Fisicamente, pode fazer um acordo incômodo com a sociedade, de forma que ambos se beneficiem de serviços mútuos. Assim, sem cometer violência contra seus princípios mais importantes, ele pode descobrir uma maneira de viver entre os que não veem nenhuma utilidade neles.
Paul Brunton
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