autoconhecimento
A meditação não pode ser alcançada pelo esforço
O importante na meditação é o estado da mente e do coração. Não é o que você alcança ou diz alcançar, mas o estado da mente que é inocente e vulnerável. Pela negação encontra-se o estado positivo. O mero esforço para juntar experiência ou nela viver, nega a pureza da meditação. A meditação não é um meio que leva a um fim. Ela é meio e fim. Mediante a experiência a mente nunca se tornará inocente. A negação da experiência é que faz nascer o estado positivo da inocência, que não pode ser cultivado pelo pensamento. O pensamento nunca é inocente. A meditação é a terminação do pensamento, mas não por parte do meditador, porque o meditador é a meditação. Sem a meditação, você é como um homem cego num mundo cheio de beleza, de luz e de cores.
(...) meditação não é a repetição da palavra, nem o experimentar de uma visão, nem cultivo do silêncio. A conta do rosário e a palavra não podem de fato aquietar a mente tagarela, mas isso é uma forma de auto-hipnose. O mesmo efeito se obteria com uma pílula.
Meditação não significa absorver-se num padrão de pensamento, no encantamento do prazer. A meditação é sem começo e, por conseguinte, sem fim.
Se você diz: "Começarei hoje a controlar os meus pensamentos, imobilizando-me na postura meditativa, respirando ritmadamente" — nesse caso você está todo entregue aos artifícios com que o homem engana a si próprio. Meditação não é absorver-se em alguma grandiosa ideia ou imagem: isso só dá uma quietação momentânea, como a da criança absorvida num brinquedo; tão logo o brinquedo deixa de ser interessante, recomeçam a inquietação e as diabruras. Meditação não é seguir uma senda invisível, conducente a um estado imaginário de bem-aventurança. No estado de meditação, a mente está vendo — observando, escutando, sem palavra, sem comentário, sem opinião — atenta ao movimento da vida em todas as suas relações, do começo ao fim do dia. E à noite, quando o organismo descansa, a mente meditadora não tem sonhos, porque esteve desperta todo o dia. Só os indolentes tem sonhos; só os que andam semi-adormecidos precisam de cer advertidos de seus próprios estados. Mas a mente que está vigilante, escutando o movimento da vida — o externo e o interno — a essa mente vem um silêncio não fabricado pelo pensamento.
É um silêncio que o observador não pode experimentar. Se o experimenta e reconhece, isso já não é o silêncio. O silêncio da mente que medita não se encontra entre os limites do reconhecimento, porque é um silêncio sem fronteiras.
(...) Meditação é a revelação do novo. O novo está além e acima do passado, que incessantemente se repete; a meditação é o fim da repetição. A morte que a meditação faz vir é a imortalidade do novo. O novo não se acha na esfera do pensamento, e a meditação é o silêncio do pensamento. Meditação não é uma coisa que se alcança com esforço, não é a captação de uma visão, nem excitação dos sentidos. Qual o rio, ela é indomável, rápida, inundando as suas margens. É música sem som; não pode ser amansada e utilizada. É o silêncio no qual o observador deixou de existir desde o começo.
(...) A meditação da mente que está em silêncio é a bem-aventurança que o homem vive buscando. Nesse silêncio estão contidas todas as variedades de silêncio.
Existe o estranho silêncio de um templo ou de uma igreja vazia, no sertão, sem barulhos de turistas e devotos; e o silêncio que pesa sobre as águas faz parte do silêncio existe fora da mente.
A mente que medita contém todas essas variedades, mutações e movimentos do silêncio. Esse silêncio da mente é a essência da verdadeira mente religiosa, e o silêncio dos deuses é o silêncio da terra. A mente que medita flutua nesse silêncio, e o amor é o modo de ser dessa mente. Nesse silêncio há bem-aventurança e alegria.
(...) Se você se prepara para meditar, o que você faz não é meditação. Se você se prepara para ser bom, a bondade jamais florescerá. Se você cultiva a humildade, não há mais humildade. A meditação é como a brisa, que entra quando deixamos a janela aberta; mas, se, deliberadamente, a conservamos aberta, deliberadamente a convidamos para entrar, ela não aparecerá.
A meditação não segue o caminho do pensamento, porque o pensamento é astuto, com infinitas possibilidades de enganar a si próprio, e, portanto, não descobrirá o caminho da meditação. Como o amor, a meditação não pode ser buscada.
(...) A meditação é um trabalho difícil. Exige disciplina em sua forma mais elevada — disciplina que não é conformismo, que não é imitação, que não é obediência: a disciplina oriunda do percebimento constante, não só das coisas que nos cercam, externamente, mas também das coisas interiores. A meditação, pois, não é uma atividade de isolamento, mas sim, ação na vida diária, que exige cooperação, sensibilidade e inteligência. Se não se lançam as bases de uma vida virtuosa, a meditação se torna uma fuga e, em consequência, completamente sem valor. Não consiste a vida virtuosa em observar a moralidade social, mas estar livre da inveja, da avidez e da busca de poder — pois tudo isso gera inimizade. A libertação dessas coisas não se verifica pela ação da vontade, mas sim, pelo percebimento delas pelo autoconhecimento. Sem o conhecimento das atividades do "eu", a meditação se torna excitação dos sentidos e, por conseguinte, muito pouco significativa.
(...) Não pense que a meditação seja prolongamento e expansão da experiência. Na experiência existe sempre a testemunha, irremediavelmente ligada ao passado. A meditação, ao contrário, é a completa inação que coloca fim em toda experiência. A ação da experiência tem suas raízes no passado e, por conseguinte, envolve o tempo: leva à ação que é inação e produz a desordem. Meditação é a total inação da mente que percebe oque é, não entrelaçado com o passado. Essa ação não é reação a nenhum desafio, mas, sim, é a ação do próprio desafio, da qual não existe dualidade. A meditação é a eliminação da experiência e funciona a todas as horas, consciente ou inconscientemente; por conseguinte, não é uma ação restrita a um certo período do dia. É uma ação contínua, da manhã à noite — observação sem observador. Por conseguinte, não há separação entre a vida cotidiana e a meditação, a vida religiosa e a vida mundana. Só há divisão quando o observador está ligado ao tempo. Nessa divisão, há desordem, aflição e confusão — tal é o estado da sociedade.
A meditação, portanto, não é individualista nem social; transcende ambas as coisas e, portanto, abrange ambas. Ela é amor: a floração do amor é meditação.
Krishnamurti em, A OUTRA MARGEM DO CAMINHO
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