A normose Educacional
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A normose Educacional


"A verdadeira educação é aquela que conduz à liberação".

Shrii Shrii Anandamurti
A normose é fruto de um sistema educacional que não ensina ao ser humano a arte de viver, de amar incondicionalmente, a arte de meditar e muito menos a arte de morrer. Nosso sistema de educação não é educacional, muito pelo contrário, é um sistema fragmentário, reducionista e formador de uma normose da especialização competitiva, onde os valores do ser são "normalmente" substituídos pelos valores de códigos obsoletos do ter que tem a função de tornar o ser humano uma outra pessoa, alguém que não pode ser. Para elucidar, gosto de citar uma frase do Psicólogo, Antropólogo e Escritor, Roberto Crema, seguida de outro pensamento de Tarthang Tulku:

"a especialização é um tipo de modelagem para a alienação e nós temos que encarar os fatos. A definição que eu lapidei ao longo de muitos anos mais própria do que seja um especialista: "É uma pessoa um pouco exótica, que sabe quase tudo de quase nada, dotado de uma certa imbecilidade funcional, que aprendeu a fazer um cacoete, que aprendeu a apertar um parafuso,que tem uma viseira, que se orgulha da unilateralidade de visão e de ação e que perdeu desgraçadamente a visão da inteireza".

"A educação formal nos ajuda a fazer melhores escolhas para nossa vida, mas não oferece garantia alguma de que nossas escolhas não nos levarão ao sofrimento. Depois de muitos anos de experiência, talvez consigamos finalmente reconhecer onde se encontram as nossas maiores promessas de satisfação. A vida é a nossa maior mestra, mas suas lições são geralmente aprendidas tarde demais, e à custa de muito sofrimento". Tarthang Tulku - Conhecimento e Liberdade - Ed. Dharma

Justamente pelo fato de aceitar esses códigos obsoletos é que muitos normóticos acabam desenvolvendo a neurose. Desde o primeiro dia de vida, as pessoas estão sendo treinadas para serem condicionadas ao sistema de crenças em que nasceram. Isso é conveniente para a elite dominante. Esse condicionamento normótico reduz o ser humano a um estado de fragmentação e retardamento mental. Desde a mais tenra idade, o ser humano é educado para viver num sistema que não lhe permite o questionamento, a dúvida, e um ser humano que não é capaz de duvidar, de questionar, de dizer "não", de forma alguma poderá ser capaz de potencializar os seus talentos e ser ele mesmo; viverá de aparências e quem vive de aparências, só aparentemente vive. Por não ousar sair da limitação imposta pelo sistema em que vive e se aventurar no Aberto, no desconhecido, o normótico não consegue de forma alguma, potencializar os seus talentos, sua criatividade, se fechando assim, para toda possibilidade de expansão da própria alma. É natural que sua vida, com o passar dos dias, entre numa dolorosa rotina e falta de sentido. Swami Muktananda formulava de tal forma este ponto de vista:

"Durante muitos anos você esteve acumulando as impressões do mundo. Esteve enchendo a sua mente e coração com a noção de que é pequeno, que é fraco, que é pecador. Aprendeu estas coisas de seus professores, de sua sociedade e de todos os livros sagrados de diferentes religiões e passou a acreditar neles. Pensava a seu respeito como uma criatura limitada, aprendeu a ver pecado no Ser puro. Como resultado, você vem nadando num oceano de sentimentos limitados - desejos e anseios, apego e aversão, raiva e ciúme. Agora a sua mente e coração tornaram-se tão nublados e embotados, que você não pode ver a luz do Ser e, mesmo quando alguém lhe diz que você é o Ser, você não consegue aceitar. Por isso você precisa fazer sadhana (prática espiritual) Sadhana é o meio pelo qual você pode tornar seu coração puro e forte o bastante para reter o conhecimento da verdade".

O que acontece é que o normótico não consegue ter a consciência que por detrás dessa busca desenfreada por segurança e status, o que inconscientemente procura é pelo preenchimento de sua sede de plenitude. Esse tema já foi explorado de forma brilhante pela escritora Christina Grof, em seu livro editado pela Editora Rocco, intitulado Sede de Plenitude - Apego, Vício e o Caminho Espiritual. Podemos confirmar este ponto de vista, nos pensamentos de um outro grande escritor e poeta da espiritualidade, Paramahansa Yogananda:

"Em tudo que buscamos - dinheiro e prazeres sensórios - estamos, na verdade, procurando Deus. Somos garimpeiros de diamantes que descobrem, em vez disso, pedacinhos de vidro brilhando ao sol. Atraídos por esses vidrinhos e momentaneamente ofuscados por eles, esquecemo-nos de continuar procurando os diamantes autênticos, muito mais difíceis de achar... O homem é como um fantoche. Os cordéis de seus hábitos, emoções, paixões e sentidos comandam a dança. Amarram sua alma. Quem não quer ou não pode cortar os cordéis para conhecer Deus, não O encontrará... Precisamos ser capazes de renunciar a tudo para conhecê-Lo: "Buscai, primeiro, o reino de Deus, e todas essas coisas vos serão acrescentadas."...Você deve conceber Deus como a necessidade prioritária de sua vida. Quebre as algemas da limitação, dos hábitos obscuros e da rotina diária, mecânica... Queridos, já fui como vocês, andei pela Terra procurando a verdade e a felicidade, mas tudo que prometia alegria me deu sofrimento, e voltei-me então para Deus. Cada um deve descobrir a própria divindade e conquistar para si próprio o reino de Deus".

A normose exerce sobre a massa da sociedade uma espécie de hipnose refletida na busca do status por meio de um materialismo grosseiro, apoderando-se de sua energia vital como uma sanguessuga no corpo. Essa hipnose faz com que o normótico não se dê conta da sabedoria contida nas sábias palavras de Jean Jacques Rosseau: "Obtém-se tudo, tendo dinheiro, menos, bons costumes e bons cidadãos".

Para o normótico a vida espiritual é uma espécie de mito ou um motivo de chacotas; ele apresenta as mais absurdas espécies de desculpas para não iniciar uma prática espiritual ou para não continuá-la se a iniciou, achando-a enfadonha, vazia ou demasiada cansativa e não é raro, vê-lo fazer comentários e piadinhas de mau gosto em relação àqueles que vivem uma busca espiritual. Transcrevo abaixo, textos de alguns autores espiritualista que elucidam bem a ação dessa forma de hipnose materialista:

"Aqueles que se encontram demasiado absorvidos pelos encantos de uma cobiça excessiva, pelos tórridos vapores das paixões desordenadas ou pelo turbilhão das atividades incessantes, talvez desdenhem dessa disciplina, tachando-a de vaga e insípida. Paciência! Mas assim como a vida termina por triunfar (embora secretamente) sobre a morte, assim também a vida espiritual com todo o seu desenvolvimento e riqueza terminará por triunfar ostensivamente sobre o materialismo sem alma dos nossos dias". Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento

"Às vezes penso que a maior aquisição da cultura moderna é sua brilhante promoção do samsara e suas estéreis distrações. A sociedade moderna me parece uma celebração de todas as coisas que nos afastam da verdade, fazendo difícil viver para ela e desencorajando as pessoas até mesmo de acreditar que ela existe... Esse samsara moderno alimenta-se de ansiedade e depressão que ele próprio fomenta, e para as quais nos treina e cuidadosamente nutre com um mecanismo de consumo que precisa manter-nos ávidos para continuar funcionando. O samsara é altamente organizado, versátil e sofisticado. Investe sobre nós de todos os lados com sua propaganda, criando à nossa volta uma cultura de dependência quase inexpugnável. Quanto mais tentamos escapar, mais nos sentimos enredar nas armadilhas que ele tão engenhosamente nos prepara..." Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 41

"...Hoje, o homem tornou-se tão materialista que ele teme qualquer experiência, exceto a dos sentidos. Ele acredita que somente aquilo que ele pode experimentar por meio dos sentidos é uma experiência verdadeira, e que aquilo que não é experimentado por meio dos sentidos é alguma coisa desequilibrada, alguma coisa que deve ser temida; isso significa penetrar em águas profundas, algo anormal, pelo menos um caminho inexplorado. Com muita freqüência o homem teme cair num transe, ou ter um sentimento que é incomum, e pensa que aqueles que vivenciaram tais coisas são fanáticos que perderam a razão. Mas não é assim. O pensamento pertence à mente, o sentimento, ao coração. Por que alguém deveria acreditar que o pensamento está certo e o sentimento, errado?" Sufi Hasrat Inayat Khan - O Coração do Sufismo - Ed. Cultrix

"Ao trabalhar com tantas pessoas diferentes ano após ano, ouvi jovens e idosos expressarem os mesmos sentimentos. Muitos são aqueles que, apesar de riqueza, educação e sucesso profissional, estão insatisfeitos com suas vidas, e sentem uma profunda fome interior que não sabem como saciar... Debaixo da superfície próspera das nossas vidas, ainda experimentamos frustração e confusão, ansiedade e desespero. Dentro das nossas sociedades, mesmo os mais afortunados têm pouca esperança de liberação completa da frustração e insatisfação". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma

Fica portanto, claro para mim, que a normose, resultado de um viver egocêntrico, é uma das maiores barreiras ao desenvolvimento espiritual, e tem como função primordial, frustrar a abertura dos olhos de nossa alma e o conhecimento de sua natureza imortal.

Outsider




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