Por que vocês não ousam fazer face à solidão? Não ousam se tornarem inteligentes e, por este meio, destruir a pobreza e a vacuidade.
O que é que fazemos, quando estamos isolados? Tentamos escapar da solidão, por meio da companhia, dos divertimentos, da adoração, da prece, por meio de todas essas hábeis, bem conhecidas e firmadas fugas. Por que é que fazemos isto? Pensamos poder assim disfarçar o isolamento, por meio dessas fugas, mediante esses alívios. Será possível para nós, disfarçarmos uma coisa que é visceralmente molesta? Momentaneamente, podemos, porém, o isolamento continuará, futuramente. Portanto, onde houver fuga, tem de haver continuidade do isolamento. Para o isolamento não há substituições. Se pudermos compreender isto com todo o nosso ser, completamente; se pudermos compreender que não há possibilidade de escapar da solidão, do medo, o que é que acontece então?
A maioria dentre vocês não poderá responder, porque jamais experimentaram o problema de modo completo. Não sabem o que acontecerá, quando houverem, por completo obstruído todas as vias de fuga e não houver a mínima possibilidade de fuga.
Eu lhes sugiro para que façam essa experiência. Quando estiverem isolados, tornem-se plenamente apercebidos e verificarão que a mente de vocês quer fugir, quer escapar da solidão. Quando a mente estiver apercebida de que está fugindo e, ao mesmo tempo, perceber o absurdo da fuga, nessa mesma compreensão a solidão, na verdade, desaparece.
Quando vocês de defrontarem com um problema e não houver possibilidade de uma saída, então o problema cessará, coisa que não significa a aceitação dele. Ora, vocês buscam um remédio para a solidão, uma substituição e, portanto, o problema não se relaciona com o isolamento, porém sim, com o saber qual o remédio para o isolamento, qual o melhor meio para dele escapar ou disfarçá-lo. Quando, porém, a mente não mais busca uma fuga, então o isolamento ou o medo terão um significado muitíssimo diferente.
Vocês não podem, no entanto, aceitar minhas palavras neste sentido. Tudo o que podem fazer é dizer que não sabem. Não sabem se o isolamento e o temor irão desaparecer; porém, experimentando, compreenderão o pleno significado da solidão. Se meramente buscarmos remédio para a solidão ou para o medo, nos tornaremos muito superficiais, não é assim? Para o home que tem tudo o de que precisa, como para o homem que de tudo necessita, para ambos, a vida se torna muito vazia. Na mera busca de remédios, torna-se a vida sem significado, oca; ao passo que, se realmente experimentarem o problema ardente e não houver maneira possível de fugir, então, verificarão que esse problema executa para vocês uma coisa milagrosa.
Não mais será um simples problema, o examiná-lo, o vivê-lo, o compreende-lo se tornará intensamente vital.
Só existe um movimento da verdade: é quando a mente não está mais colhida pelo medo, com todas as suas ilusões; quando não mais busca orientação, nem ser guiada. A solidão não é exclusividade; ela vem à existência, quando há o discernimento do que é falso.
Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK