Continnum, Reencarnação e Alma...
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Continnum, Reencarnação e Alma...



Osho tenho uma pergunta: Buda não falava de Deus, porque a existência de Deus não podia ser provada, mas falava de outras vidas e de reencarnação, como pode isso? Buda disse que não existe alma, então o que permanece depois da morte?

Essa pergunta é muito importante, é uma das contribuições mais fundamentais de Buda à existência humana - a ideia de "não-eu". Ela é muito complexa por isso escute atentamente porque ela vai de encontro a todos os padrões a que você foi condicionado.
Vou apresentar algumas analogias para você ter alguma ideia do que ele chama de não-eu.

Seu corpo é um saco de pele. A pele define o seu corpo; ela define onde você e o mundo começam; É uma demarcação em torno de você. Ela o protege do mundo, o divide do mundo e lhe concede apenas alguma aberturas entre você e o mundo. (...) Você se livra muitas vezes da sua pele, mas o processo é muito lento e por isso você nunca se apercebe dele. (...) A mudança é muito sutil. A pele continua mudando e você continua pensando consigo mesmo que este é o seu corpo, o mesmo corpo, mas não é o mesmo corpo é um continnum.
Quando você estava no útero da sua mãe, no primeiro dia você era apenas uma célula, invisível a olho nu; Essa era sua pele naquela época, esse era o seu corpo; então você começou a crescer; Após nove meses você nasceu - e então tinha um corpo totalmente diferente; Se de repente você se deparasse consigo mesmo com apenas um dia de idade, recém-nascido, não conseguiria reconhecer que aquele é você. Você mudou muito. Mas ainda assim você acha que você é o mesmo. De certa maneira você é porque é a mesma continuidade; e de certa maneira não é porque tem estado continuamente mudando.

Da mesma maneira que a pele é o ego. A pele mantém seu corpo dentro de um padrão, de uma definição, de um limite; O ego mantém o conteúdo da sua mente dentro de um limite; O ego é a pele interna para que você saiba quem você é; do contrário estaria perdido - não saberia quem é quem; quem sou eu e quem é o outro. (...) A ideia do ego é utilitária, torna você claramente separado dos outros. Mas também é uma pele, uma pele muito sutil que guarda todos os conteúdos da sua mente - memória, seu passado, seus desejos, seus planos, seu futuro, seu presente, seu amor, seu ódio, sua raiva, sua tristeza, sua felicidade; Você guarda tudo isso num saco. Mas você também não é esse ego. Porque esse também está sempre mudando e muda mais do que a pele do corpo. A cada momento ele está mudando. (...)

Assim como você nasceu de seus pais , você é uma continuidade. Vocês não são o mesmo. Você não é seu pai não é sua mãe - mas ainda assim é seu pai e sua mãe, porque você continua a mesma tradição a mesma linhagem, a mesma herança.
Buda diz que o ego é uma continuidade não é uma substância - continuidade como uma chama que salta de uma labareda para outra, continuidade como um rio que flui, continuidade como o corpo.(...)

Buda diz que quando uma pessoa morre, os desejos acumulados de toda sua vida, as lembranças acumuladas de toda a sua vida, os padrões e karmas de toda a sua vida saltam como ondas de energia para um novo útero. É um salto. A palavra exata na física - os físicos o chama de "salto quântico" - um salto de energia pura, sem nenhuma substância nela. Buda foi o primeiro físico quântico, Einstein o seguiu 25 séculos depois.(...)
Quando uma pessoa morre, o corpo desaparece, a parte material desaparece, mas a parte imaterial, a parte mente, é uma vibração. Essa vibração é liberada, transmitida. E então, sempre que um útero certo estiver pronto para essa vibração, ela vai ali penetrar.
Não há ninguém indo - não há ego nenhum indo. Não há necessidade de que nada substancial vá; é apenas um impulso de energia. A ênfase é que isso é mais uma vez o mesmo saco do ego saltando. Uma casa tornou-se inabitável, um corpo onde não é mais possível viver; O antigo desejo pela vida - o termo que Buda usava é tanha, a ânsia pela vida - está tão vivo, ardendo. Esse mesmo desejo dá um salto.

Agora escute a física moderna. Ela diz que não existe matéria. (...) A matéria é simplesmente pura energia se movendo em uma velocidade tão fantástica que o próprio movimento cria a falsa ilusão, a aparência de substância. (...) A substância não existe, só existe energia pura. A ciência moderna diz só existe energia imaterial.
Por isso digo que Buda é muito científico. Ele não fala sobre Deus, mas fala sobre o não eu imaterial. Do mesmo modo que a ciência moderna extraiu a ideia de substância da sua metafísica, Buda extraiu a ideia de eu da metafísica dele. O eu e a substância são correlatos. É difícil acreditar que a parede é não substancial, isto é, não existe materialmente, é pura energia, e da mesma maneira é difícil acreditar que não existe individualidade em você. (...)

Agora vou apresentar coisas que vão tornar isto mais claro. Não posso dizer se você vai entender, mas vai tornar tudo mais claro.(...)
Buda diz não há caminhante apenas o caminhar acontece; A vida não consiste de coisas. Buda diz a vida consiste de eventos. E é exatamente isso que a ciência moderna está dizendo: há apenas processos, não coisas - eventos.
Até mesmo dizer que a vida existe não é correto. Existem apenas milhares e milhares de processos de vida. A vida é apenas uma ideia. Não há nada como "vida". (...)

A dualidade é produzida pela linguagem. Você está caminhando - Buda diz que há apenas o caminhar. Você está pensando - Buda diz que existe o pensamento, não o pensador. O "pensador" é uma linguagem que é baseada na dualidade, ela transforma tudo em dualidade.(...)
A vida é um processo continuo, não apenas "processo" mas processos, uma continuidade, um continnum.(...) Buda diz que você não tem nenhuma individualidade, o universo é mas não há individualidade nele... Há milhões de processos, mas nenhuma individualidade. Ele não tem centro, é tudo circunferência. É muito difícil você captar isso, a menos que você medite. Por isso Buda não entrava em discussões metafísicas, ele diz: Medite. Porque na meditação essas coisas se tornam mais claras. Quando o pensar para, de repente você vê - o pensador desapareceu. Era uma sombra. E quando o pensador desaparece, como você pode dizer, como você pode sentir "eu sou"? Não sobrou nenhum "eu", você é puro espaço. É o que Buda chama de anatta, o espaço puro do não-eu. É uma experiência fantástica. (...)

Foi isso que aconteceu quando Buda veio ao mundo. Ele entrou no âmago do seu chamado self e também ficou confuso - o que fazer? "Não existe individualidade, o self, mas existe reencarnação." Entretanto se ele não fosse um grande cientista mas apenas um filósofo comum ele teria esquecido tudo a respeito disso. (...) Buda é ilógico porque a sua insistência em não ir contra a realidade é absoluta.(...) Ele está trazendo uma visão real, original; Ele diz que não existe alma, individualidade, e existe reencarnação. Esse é um salto quântico.

Então, quando digo que ele é um cientista, quero dizer exatamente isso. E, se você entender a linguagem da física moderna, você vai conseguir entender Buda. Na verdade é impossível entender Buda, sem entender a física moderna. Pela primeira vez a física moderna apresentou um paralelo. Heisenberg, Planck e Einstein apresentaram um paralelo. A matéria desapareceu; há apenas energia, sem self nela, sem substância nela; E o que Buda diz é a mesma coisa: anatta não-eu."(...)

Quando você se compreende como puro espaço e muitos eventos acontecendo, você se torna desapegado. Então você se torna destemido, porque não há nada a perder, não há ninguém para perder nada. E você não mais estará repleto de ânsia de viver, porque você não se concebe como um self individual. Por isso não teme a morte e não tem uma ânsia de viver. Não pensa no passado e não projeta o futuro; Você simplesmente É - tão puro quanto o vasto céu lá fora; você também se torna um puro céu em seu interior. E o encontro desse dois céus, o interior e o exterior é o que Buda chama de Nirvana".
Osho em Destino, Liberdade e Alma




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