autoconhecimento
Desejos - Osho 1/3
"Quando algum desejo vier, considere-o. Então, de repente, abandone-o. Você sente um desejo — um desejo por sexo, um desejo por amor, um desejo por comida, qualquer coisa. Você sente um desejo: considere-o.
Quando o sutra diz “considere-o”, significa não pensar a favor dele nem contra ele, apenas considere o desejo, o que ele é.
Um desejo sexual vem à mente.
Você diz: “Isso é ruim”. Isso não é consideração. Ensinaram-lhe que isso é ruim; assim, você não está considerando esse desejo, você está consultando as escrituras, você está consultando o passado — os professores passados, os rishis — os sábios. Você não está considerando o próprio desejo, você está considerando alguma outra coisa.
Você está considerando muitas coisas - seu condicionamento, sua criação, sua educação, sua cultura, sua civilização, sua religião - mas não o desejo.
Esse simples desejo surgiu. Não traga, à mente, o passado, a educação, o condicionamento; não traga os valores. Apenas considere esse desejo — o que ele é. Se a sua mente pudesse ser lavada completamente de tudo aquilo que lhe foi dado pela sociedade, de tudo que seus pais lhe deram — a educação, a cultura — se sua mente inteira pudesse ser lavada, o desejo por sexo surgiria. Ele surgiria, porque esse desejo não lhe foi dado pela sociedade. Esse desejo está construído internamente, biologicamente — ele está em você.
Por exemplo, se uma criança nasce e nenhuma língua lhe é ensinada, a criança não aprenderá nenhuma língua. Ela permanecerá sem linguagem.
A língua é um fenômeno social; ela tem que ser ensinada.
Mas... quando o momento certo chega, a criança sente o desejo sexual. Isso não é um fenômeno social, ele está construído internamente, biologicamente. O desejo virá no momento certo de maturação. Ele não é social, ele é biológico - mais profundo. Ele é construído dentro de suas células.
Devido a você ter nascido do sexo, todas as células de seu corpo são células sexuais; você se compõe de células sexuais. A menos que sua biologia possa ser lavada completamente, o desejo estará presente. Ele virá - ele já está presente.
Quando uma criança nasce, o desejo já existe, porque a criança é um subproduto de um encontro sexual. Ela vem através do sexo; todo o seu corpo é construído com células sexuais. O desejo já está ali, somente um certo tempo é necessário antes de que seu corpo se torne maduro o suficiente para sentir esse desejo, para desempenhar esse desejo. O desejo estará presente quer você tenha aprendido que o sexo é bom ou ruim, quer você tenha aprendido que o sexo é inferno ou paraíso, quer você tenha aprendido desse ou daquele jeito, a favor ou contra - porque ambos são ensinamentos.
As antigas tradições, as antigas religiões, o cristianismo principalmente, continuam pregando contra o sexo. Os novos cultos dos hippies e yippies e outros começaram o movimento oposto. Eles dizem que o sexo é bom, o sexo é extasiante, o sexo é a única coisa verdadeira no mundo. Ambos são ensinamentos. Não considere seu desejo de acordo com algum ensinamento. Simplesmente considere o desejo em sua pureza, como ele é — um fato. Não o interprete.
“Consideração”, aqui, significa não interpretar, mas simplesmente olhar para o fato como ele é. O desejo está presente: olhe para ele diretamente, imediatamente. Não traga seus pensamentos ou ideias, porque nenhum pensamento é seu e nenhuma ideia é sua. Todas as coisas foram dadas a você, toda ideia é uma coisa tomada emprestada. Nenhum pensamento é original — nenhum pensamento pode ser original. Não traga o pensamento, simplesmente olhe para o desejo, para o que ele é, como se você não soubesse nada sobre ele. Encare-o! Defronte-se com ele! É isso o que significa “considere-o”.
Quando algum desejo vier, considere-o. Apenas olhe para o fato — para aquilo que ele é. Infelizmente, isso é uma das coisa mais difíceis de se fazer. Comparado a isso, chegar à lua não é tão difícil, ou chegar ao pico do Evereste não é tão difícil. Trata-se de algo altamente complicado — chegar à lua é altamente complicado, infinitamente complicado, um fenômeno muito complexo. Mas comparado a viver com um fato da mente interna, isso não é nada, porque a mente está muito sutilmente envolvida em tudo o que você faz. Ela está sempre presente.
Olhe para a palavra... se eu digo “sexo”, no momento em que eu digo isso, você já decidiu a favor ou contra. No momento em que eu digo "sexo”, você já interpretou: “Isso não é bom. Isso é mau”. Ou: “Isso é bom”. Você interpretou inclusive a palavra.
Muitas pessoas vieram a mim quando o livro Do Sexo à Supraconsciência foi publicado. Elas vieram e disseram: “Por favor mude o título”. A simples palavra ‘sexo’ deixou-os perturbados — eles não tinham lido o livro. E aqueles que já leram o livro também dizem para mudar o título.
Por quê? A própria palavra lhe dá uma certa interpretação. A mente é tão interpretativa que se eu digo “suco de limão”, você começa a salivar. Você interpretou as palavras. Nas palavras ‘suco’, ‘de’, ‘limão’ não há nada semelhante ao limão, mas você começa a salivar. Se eu esperar uns momentos, você ficará incomodado, porque você terá de engolir. A mente interpretou; ela entrou. Mesmo com a palavra você não pode permanecer à parte, sem interpretar. Será difícil, quando o desejo surgir, permanecer à parte, permanecer apenas um observador desapaixonado, calmo e quieto, olhando para o fato, não o interpretando.
Eu digo: “Esse homem é muçulmano”. No momento em que eu digo “esse homem é muçulmano”, o hindu pensa “esse homem é ruim”. Se eu digo: “Esse homem é judeu”, o cristão decide que “esse homem não é bom”. A simples palavra ‘judeu’ e a mente cristã entra com a interpretação - a ideia tradicional, convencional, irrompe; “este” judeu não é considerado, a velha interpretação terá que ser imposta sobre “este” judeu.
Cada judeu é um judeu diferente. Cada hindu é um indivíduo diferente, único. Você não pode interpretá-lo, porque você conhece outros hindus. Você pode ter chegado à conclusão de que todos os hindus que você conheceu são ruins, mas “este” hindu não faz parte de sua experiência. Você está interpretando “este” hindu de acordo com suas experiências passadas. Não interprete; interpretação não é consideração. Consideração significa considerar este fato — absolutamente “este” fato. Permaneça com “este” fato.
Os rishis disseram que o sexo é ruim. Pode ter sido ruim para eles; você não sabe. Você tem o desejo, um desejo fresco com você. Considere-o, olhe para ele, fique atento a ele. Então, de repente, abandone-o.
Há duas partes nessa técnica. Primeira: permaneça com o fato - consciente, atento ao que está acontecendo. Quando você sente um desejo sexual, o que está acontecendo em você? Veja como você se torna exaltado. Como o seu corpo começa a tremer, como você sente uma loucura repentina arrastando-se internamente, como você se sente como se estivesse possuído por uma outra coisa. Sinta-o, considere-o. Não faça nenhum julgamento, simplesmente mova-se com o fato - o fato do desejo sexual. Não diga que ele é mau!
Se você o disser, acabou a consideração, você fechou a porta. Agora, sua face não está na direção do desejo — suas costas estão. Você se moveu para longe dele. Você perdeu um momento no qual poderia ter entrado profundamente na camada biológica do ser. Você está apegado à camada social, que é a mais superficial.
O sexo é mais profundo do que suas shastras - escrituras — porque ele é biológico. Se todas as shastras pudessem ser destruídas - e elas podem ser destruídas, muitas vezes o foram - sua interpretação estará perdida. Mas o sexo permanecerá; ele é mais profundo.
Não introduza coisas superficiais. Simplesmente considere o fato e mova-se para dentro, e sinta o que lhe está acontecendo. O que aconteceu para um certo rishi, para Maomé e Mahavira, é irrelevante. O que está acontecendo para você, neste exato momento? Neste momento vivo, o que lhe está acontecendo?
Considere-o, observe-o. E, então, a segunda parte... e essa é realmente bela. Shiva diz: Então, de repente, abandone-o.
De repente - lembre-se. Não diga: “Isso é ruim; assim,vou abandoná-lo.
Eu não vou adiante com essa ideia, com esse desejo. Isso é ruim, isso é pecado; assim, eu vou parar com isso, vou reprimir”.
Então, acontecerá a repressão, mas não um estado de mente meditativo. E a repressão está, na verdade, criando, através de suas próprias mãos, um ser e uma mente iludidos."
[ continua...]
Osho em O Livro dos Segredos IV
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