autoconhecimento
Espaço para receber
Para a maioria de nós, conhecimento ou aprendizagem tornou-se um vício, e pensamos que através do saber seríamos criativos. Uma mente que está repleta de fatos, de conhecimento - é ela capaz de receber algo novo, repentino, espontâneo? Se a sua mente está abarrotada com o conhecido, existe nela algum espaço para receber algo que venha do desconhecido?
Certamente, o conhecimento vem sempre do conhecido, e com o conhecido estamos tentando entender o desconhecido, entender alguma coisa que está além da medida.
Tome, por exemplo, uma coisa bem ordinária que acontece com a maioria de nós: aqueles que são religiosos - seja lá o quê, no momento, essa palavra possa significar - tentam imaginar o que é Deus, ou tentam pensar sobre o que é Deus. Eles leram inúmeros livros, leram sobre as experiências dos vários santos, dos Mestres, dos Mahatmas, e tudo o mais, e eles tentam imaginar , ou tentam sentir o que é a experiência de outra pessoa. Ou seja, com o conhecido, tenta-se abordar o desconhecido. Pode-se fazer isso? Pode-se pensar em algo que não é conhecível? Só se pode pensar em algo que você conhece. Mas existe essa perversão extraordinária acontecendo no mundo nos tempos atuais: pensamos que entenderemos se tivermos mais informação, mais livros, mais fatos, mais publicações.
Certamente, para se dar conta de algo que não é a projeção do conhecido, deve haver a eliminação, através do entendimento do processo do conhecido. Por que é que a mente sempre se agarra ao conhecido? Não é porque a mente está constantemente buscando certeza, segurança? A sua própria natureza é fixada no conhecido, no tempo; e como pode essa mente, cuja própria fundação está baseada no passado, no tempo, experimentar o que não é do tempo? Ela pode conceber, formular, imaginar o desconhecido, mas isso é absurdo total. O desconhecido pode aparecer somente quando o conhecido é entendido, dissolvido, colocado de lado. E isso é extremamente difícil, porque no momento que você tem uma experiência de qualquer coisa, a mente a traduz em termos do conhecido e a reduz ao passado.
Não sei se vocês notaram que cada experiência é imediatamente traduzida dentro do conhecido, é nomeada, tabulada, e registrada. Assim, o movimento do conhecido é conhecimento. E, obviamente, esse conhecimento, aprendizado, é um impedimento.
Suponha que você nunca tenha lido um livro - religioso ou de psicologia -, e que você teria que encontrar o sentido, o significado da vida. Como você começaria? Suponha que não houvesse Mestres, organizações religiosas, nem Buda, nem Cristo, e você tivesse que começar do início. Como você começaria? Primeiro, você teria que entender o seu próprio processo de pensar, não teria? - e não projetar você mesmo, os seus pensamentos, no futuro, e criar um Deus que lhe agrade; isso seria muito infantil. Assim, primeiro você teria que entender o processo do seu próprio pensar. Certamente, esse é o único jeito de descobrir qualquer coisa nova, não é?
Quando dizemos que a aprendizagem ou o conhecimento é um impedimento, é uma barreira, certamente não estamos incluindo o conhecimento técnico - como dirigir um carro, como operar uma máquina, ou a eficiência que esse conhecimento traz. Temos em mente uma coisa bem diferente: esse senso de felicidade criativa que nenhuma quantidade de conhecimento ou aprendizagem trará. E, ser criativo no sentido mais verdadeiro dessa palavra, é estar livre do passado a cada momento. Porque é o passado que está continuamente lançando sombra no presente. Simplesmente se apegar às informações, às experiências dos outros, àquilo que outra pessoa disse, ainda que importante, e tentar aproximar a sua ação àquilo - tudo isso é conhecimento, não é? Mas, para descobrir algo novo, você deve começar por você mesmo; você deve começar uma viagem completamente desnudado, especialmente de conhecimento. Porque é muito fácil, através de conhecimento e crença, ter experiência; mas aquelas experiências são meramente produtos da auto-projeção, e portanto totalmente falsas, não reais.
E se você vai descobrir por você mesmo o que é novo, não é bom carregar o peso do velho, especialmente o conhecimento - o conhecimento de outra pessoa, por maior que seja. Agora, você usa o conhecimento como um meio de auto-proteção, segurança, e você quer estar bem certo que você tem a mesma experiência de Buda, ou de Cristo, ou de X. Mas o homem que está se protegendo constantemente através do conhecimento, não é obviamente um verdadeiro buscador da verdade.
Para o descobrimento da verdade, não existe caminho. Você precisa entrar no mar sem mapas - o que não é deprimente, o que não é ser aventureiro. Certamente, quando você quer encontrar algo novo, quando você está experimentando com qualquer coisa, sua mente tem que estar muito quieta, não tem? Mas se a sua mente estiver abarrotada, preenchida com fatos, conhecimento, eles agem como um impedimento ao novo; e, para a maioria de nós, a dificuldade é que a mente se tornou tão importante, tão predominantemente significativa, que ela interfere constantemente com qualquer coisa que possa ser nova, com qualquer coisa que possa existir simultaneamente com o conhecido. Assim, o conhecimento e o aprendizado são impedimentos àqueles que buscam, que tentam entender aquilo que não é do tempo.
Krishnamurti, Ojai, Califórnia, 17 Julho de 1949
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