FILME - SAMSARA
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FILME - SAMSARA







Filme: Samsara
Direção: Pan Nalin 
Elenco: Shawn Ku, Christy Chung, Neelesha BaVora
Lhakpa Tsering, Tenzin Tashi
Gênero: Drama, Romance, Espiritual
Duração:140 min

Sinopse: Samsara é uma "história de amor espiritual", filmada nas imponentes locações geladas do Himalaia. 
O foco está centrado nas buscas empreendidas por duas pessoas diferentes. De um lado, um homem procura pelo esclarecimento espiritual por meio da renúncia ao mundo real. 
De outro, uma mulher quer encontrar o amor e uma nova vida inserida no mundo. 
Essas duas buscas, em determinado momento, se cruzarão e conectarão irreversivelmente a vida dos personagens.




Sansara narra uma história de amor e busca espiritual, ambientado nas magníficas paisagens de Ladakh, no Himalaia.

A palavra "Samsara" é nome da doutrina hindu da reencarnação, que afirma que o espírito precisa passar por uma série de vidas terrenas enquanto evolui para atingir sua meta. 

Também, segundo o budismo Samsara é a roda das reencarnações, composta pelas 108 vidas que o ente reencarna como ser humano para adquirir conhecimento, decidir pela auto-realização e alcançar a comunhão com Deus pela iluminação. 



A analogia com a história do filme não poderia ser mais direta. Nele, Tashi (Shawn Ku), um jovem monge budista, retorna ao seu monastério depois de passar três anos, três meses, três dias e três horas numa isolada maratona de meditação nas montanhas.

O filme apresenta esse monge budista que se vê dentro de um impasse em sua vida: ao mesmo tempo em que ele deseja a iluminação e segue o caminho trilhado pela maioria dos monges em mosteiros do Tibet, ele passa a abrigar dentro de si, uma série de desejos sexuais, realizados em seus sonhos, o que o leva a abandonar sua vida monástica em busca de respostas.



Recuperando-se da dura provação, Tashi começa a se sentir perturbado por desejos eróticos e pela vida exterior, de posses e consumo. O empurrão final para que o monge experimente uma nova vida vem na forma da filha de um agricultor local, a jovem e bela Pema (Christy Chung).

A contragosto do ancião Apo (Sherab Sangey), o ex-monge deixa o monastério e parte para o mundo com uma sede de descobrimento comparável apenas ao seu antigo fervor religioso. 

Tashi, o jovem monge, quer sentir-se livre porque considera que livre é o homem capaz de fazer as próprias escolhas. E para isso precisa viver as próprias experiências.


O determinante para essa busca é justamente a figura feminina, que delicadamente vai aparecendo e se articulando com o despertar da sua sexualidade. 

A sexualidade está intrinsecamente ligada à capacidade da pessoa utilizar os próprios pensamentos, fazer escolhas, ir em busca de saber quem é e o que quer da vida. 

Sendo assim há um erotismo que permeia o filme, de maneira intensa e elegante, em meio à belíssima paisagem de Ladakh, na Índia.


Tashi acaba casado com Pema e decide intervir na situação em que vive o pai da garota, que tem sua produção de grãos comprada a preços irrisórios por um comerciante explorador. 


A partir daí, o jovem começa a despertar paixões, ódios e até mesmo a experimentar os prazeres capitalistas inexistentes na vida monástica. 


Apesar do filme mostrar aspectos da vida dos monges e dos princípios budistas, ele não é apenas a história de um deles, como a maioria dos filmes sobre budismo apresenta. 

É aí, então que se encontra a riqueza do filme, pois faz o espectador refletir sobre o papel do sexo e outros desejos carnais dentro da religião e mesmo dentro do misticismo, que pode não estar vinculado diretamente a uma doutrina religiosa. 


Embora a maioria das religiões e seitas pregue o sexo como pecado e incentive o afastamento de seus discípulos da vida mundana, ela não deixa claro o porquê da necessidade urgente deste afastamento, utilizando apenas algumas frases clichês como a ligação do desejo a algo animalesco ou mandamentos dogmáticos.


Sendo um enredo que trata de religião ou da busca pela iluminação, ele apresenta sua riqueza, ao confrontar um monge extremamente disciplinado, com questões sobre a proibição do desejo carnal, levando-o a uma vila em que se casa e tem um filho.


É assim que o filme nos confronta com a nossa busca espiritual ou metafísica, sempre em contradição com nossos desejos e sempre marcada pelo preconceito que seguir preceitos místicos ou questões metafísicas reitera em nossa sociedade materialista. 

Além disso, Samsara nos propõe pensar sobre o papel da vida mundana no caminho espiritual, afinal, será mesmo necessário ter que virar monge e se afastar de tudo para alcançar a iluminação?

Samsara demorou seis anos para ficar pronto. O resultado final, além de discutir a essência do budismo de uma maneira nada convencional, é de uma beleza plástica arrebatadora, com uma luz belíssima e interpretações sinceras.


O mérito é todo de Nalin Pan, cineasta autodidata nascido na Índia, numa família de hinduístas e budistas. Em Samsara, o diretor conseguiu levar um testemunho de sua cultura para o mundo, coisa que filmes de cineastas ocidentais como Martin Scorsese (Kundun) ou Jean-Jacques Annaud (Sete Anos no Tibete) conseguiram apenas arranhar a superfície.


Este filme realmente vale à pena. Já era a hora de algum filme sobre budismo retratar a condição da mulher enquanto ser místico. Podemos contemplar um diálogo riquíssimo entre Tashi e sua esposa sobre o papel da mulher no budismo. Pema foi deixada com o filho e Tashi seguiu de volta ao mosteiro, ele constatou que tudo não passava de uma ilusão. 

É tudo muito sutil e somente no final do filme, a esposa de Tashi o questiona sobre a sua falta de responsabilidade, culminando a um final bastante misterioso que fica a cargo do espectador a reflexão de suas escolhas.



O filme tem uma abordagem interessante sobre o budismo que aqui no ocidente tende a ser distorcido em alguns aspectos. É de uma beleza sem tamanho, a paisagem já demonstra a amplidão que permeia a história e os conceitos. A cultura é belíssima!


Tudo é um ciclo, até que entendamos os verdadeiros valores e nos livremos das insignificâncias, assim atingindo a iluminação.

Assista Samsara e esteja pronto para questionar seus próprios desejos, sua vida e como melhorar a si mesmo a partir desta reflexão.














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