Krishnamurti em conversa com Mary Lutyens
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Krishnamurti em conversa com Mary Lutyens


VIDA E MORTE DE KRISHNAMURTI

“Não sei quem sou. A água não sabe água o que a água é.”

Krishnamurti em conversa com Mary Lutyens in The Open Door.

Em março de 1983, o descobridores da vacina contra a pólio, Dr. Jonas Salk, visitou Jiddu_Krishnamurti em Ojai, na Califórnia, para gravar com ele uma entrevista em vídeo. “Ouvi o sr. dizer uma vez”, disse o Dr. Salk “que há pessoas capazes de ajudar as outras com suas qualidades excepcionais”. Krishnamurti respondeu: “Ninguém pode guiar ninguém, nem dizer-lhe o que deve fazer, e nada disso faz sentido. Mas como o sol, algumas pessoas podem trazer luz e calor. E quem quiser ficar ao sol, que fique. Os que preferirem a sombra, que permaneçam nela”.

- Esse é o tipo de iluminação de que falava?, pergunta Salk.

- Essa é a única iluminação que existe, responde Krishnamurti.

O mundo inteiro ouviu falar uma vez ou outra em Jiddu Krishnamurti, e cada geração, nas últimas sete décadas, escutou uma espécie de história a seu respeito. Há exatamente cinco anos (1986), quando ele morreu em sua casa nas montanhas da Califórnia, de milhares de perguntas respondidas em sua longa e produtiva existência, uma permanecia sem resposta: quem foi esse homem que nunca falou a respeito de si mesmo nos seus 90 anos de vida, embora tivesse falado e escrito incessantemente sobre o medo e a dor, a morte e o prazer, o silêncio e a superstição, o uso das religiões pelo homem como biombo e fuga, a arrogância, a avidez e a ânsia de poder?

Antes de morrer, quis gravar uma mensagem em resposta à consulta de uma amiga sobre o que aconteceria, após sua morte, àquela força que ele foi durante tanto tempo e com tanta intensidade. Quando o corpo se extinguisse, respondeu Krishnamurti na gravação, ficariam os ensinamentos, aquele seu modo peculiar de “conhecer o que é pelo conhecimento do que não é”. Uma vez mais ele se negava a dar um depoimento pessoal sobre o sentido da sua existência e o significado de tantos anos de palestras, livros, entrevistas, diálogos, encontros. Com ele conversaram longamente, em alguns casos voltando a encontrar-se, Aldous Huxley, David Bohn, Sir Cedric Hardwike, Fritjof Capra, o Dalai-Lama, Mircea Eliade, Indira Gandhi, Yehudi Menuhin e muitos outros.

Todas as lendas a seu respeito foram desmentidas com o silêncio de Krishnamurti: a de que era uma encarnação de Maitréia, um bodisatwa que assume a vida humana por compaixão da humanidade, um “espírito de luz”, um ser superior que desce à Terra em tempos difíceis, como Krishna, Buda, Jesus Cristo, Nagarjuna, Lao-Tse, ou um psicólogo profundo,um homem do século XXI. Krishnamurti negou-se a comentar isso _que considerava puro irrealismo, projeção, puerilidade. O homem não importa, dizia ele, o que interessa são as coisas que ele diz e faz. E o que disse e fez, afinal, Jiddu Krishnamurti?

Nascido de uma família pobre de Madras, na Índia, foi “descoberto” por C.W. Leadbeater e educado pela Dra. Annie Besant, da Sociedade Teosófica. Leadbeater e Besant, os primeiros europeus com quem o menino falou, diziam ter informações sobre vidas anteriores de Krishnaji (diminutivo carinhoso adotado pelos teosofistas). Um “mestre de sabedoria”, Koot Hoomi, recomendava que o menino e seu irmão fossem preservados do meio em que viviam, aprendendo princípios de higiene e saúde mental. A primeira carta de Krishnamurti em inglês foi escrita para a Dra Besant, em janeiro de 1910, sobre sua gratidão e as experiências que tivera conhecendo pessoas ligadas à Sociedade. Quem teria escrito, pouco depois, “Aos Pés do Mestre” obra assinada pelo futuro “Instrutor do Mundo”? Cinquenta anos depois, Krishnaji diria simplesmente que ele não havia escrito o livro, e que seu autor havia desaparecido. Nem mais nem menos.

Krishnaji e seu irmão Nytia passaram a estudar em Londres, e nas férias visitavam Paris. A Sociedade Teosófica tinha grandes planos para eles, mas Nytia sofria então de uma tuberculose que logo se tornou crônica. A partir de 1922, Krislinamurti começou a mostrar-se crítico daquela preparação. Nas cartas que manda a Annie Besant, abria seu coração e mostrava muitas dúvidas. Na metade dos anos 20, os irmãos procuraram uma casa em clima ameno, aconselhável, para a doença de Nytia, e se instalaram em Ojai, nas montanhas da Califórnia.

Num domingo de agosto de 1920, Krishnaji viveu uma experiência psíquica que ele descreveu algo superficialmente à sua protetora. A partir daí, já não será o mesmo e as interpretações teosóficas não o satisfazem. Mrs. Besant diz que as dores de cabeça e o desejo de isolamento do jovem são natural do “desenvolvimento do kundalini, um preparo para a adaptação do corpo ao “Grande Ocupante”. Krishnaji permanece em silêncio, já não escreve mais; nem sequer fala com os que o cercam.

Na reunião de Ommen de. 1929, na Holanda, Krishnamurti faz um discurso sereno mas terrível para os teosofistas, dissolvendo a Ordem da Estrela e dizendo-se desvinculado de toda e qualquer organização. “Afirmo que a verdade é uma terra sem caminhos”, disse ele nesse dia, “e ninguém pode chegar a ela através de uma religião, uma seita ou de uma organização. A verdade não pode ser trazida para o vale, por maior que seja o esforço. Imagino que vocês formarão outras ordens como essa que estou dissolvendo hoje. Isso será, uma mais uma espécie de servidão, de armadilha que vai prendê-los ao medo. (…),Não quero seguidores, – porque quem segue alguma coisa ou alguém, está longe da verdade ( … ) Precisamos ficar livres de todos os temores, do medo da religião, da salvação, da chamada espiritualidade, do medo de amar, do temor da morte, do pavor da própria vida.

Vocês estão acostumados à obediência, à aceitação sem discernimento, e essa é uma forma de corrupção do espírito. Minha decisão não é um impulso, é definitiva. Vocês podem fundar, como disse, outras organizações, e esperar delas alguma coisa. Quanto a mim, estou desligado de tudo isso porque não quero criar outras prisões, nem uma nova decoração para as antigas. Meu único interesse agora é a absoluta e incondicional liberdade do homem”.

Nos setenta anos que se seguiram, sob os auspícios de várias fundações Krishnamurti na índia, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, foram criadas escolas e grupos de encontros, mas em nenhuma dessas instituições foram apontados caminhos para o comportamento humano, fosse ele religioso, social ou político.

Em 1935, Krishnamurti esteve no Brasil, fazendo palestras no Rio, em São Paulo e em Niterói. De Santiago do Chile escreveu para sua amiga Lady Emily Lutyens, em Londres, dizendo-se espantado com o interesse que suas palavras esta­vam despertando na América do Sul. Em abril de 1937, já nos Estados Unidos, recebeu a visita de Aldous Huxley e da mulher, Maria, e dali surgiu uma amizade que iria manter-se até a morte do es­critor. O ensino fundamental de Krishnamurti era, nessa época, basicamente o que foi até o final de sua vida, em 1986. Os livros publicados então pela Krishnamurti Inc., e os depoimentos dos que o visi­tavam são unânimes em atestar essa coerência. As palavras e os exemplos mudaram com o tempo, a própria retórica conheceu algumas alterações e as palestras começavam e terminavam com diferentes temas, conforme a época, mas a pregação foi sempre a mesma.

O ensino fundamental de Krishnamurti pode ser resumido em poucas frases: o homem é condiciona­do pelo desejo e pelo medo; o pensamento é limita­do e resulta de habilidades inatas e adquiridas; to­das as idéias e opiniões são formas cristalizadas e fortalecem um centro psicológico que retoca a reali­dade constantemente; o presente é única coisa con­creta, sendo o passado apenas memória usada afetivamente e o futuro projeto de ação para preservar o conhecido; nenhum livro ou autoridade pode aju­dar o homem a encontrar a verdade, e todos os gurus e líderes são condicionadores da mente humana, sendo por sua vez condicionados; a curiosidade e a paixão da verdade são necessárias para uma busca que recomeça sempre do zero, a cada momento e sempre no aqui e no agora. Esses são os principais pontos dos ensinamentos de Krishnamurti, e segundo ele a ninguém caberá interpretá-los para outras pessoas, devendo servir-se deles para uso estritamente pessoal.

As especulações sobre o sentido da pregação e a própria vida de Krishnamurti nunca cessaram completamente. Ao longo de suas viagens pelo mundo — primeiro na Holanda, depois na Suíça, em Londres, Paris e nos EUA, na Escola Inglesa de Brockwood ou em Ojai, na Califórnia — voltava sempre a pergunta sobre as razões da sua pregação, os motivos do seu ensinamento, e vinham as inevitáveis comparações com os “homens santos” de todas as religiões. A essas questões Krishnamurti respondia invariavelmente que somente o que ele dizia tinha importância, não ele próprio. Investigar a vida de alguém, conhecer sua intimidade, compará-lo com outros homens vivos ou mortos, era pura distração ou um modo de não cuidar do essencial e urgente que era a realidade de cada indivíduo. Disso, a mensagem cuidava, uma vez que ela propunha o auto-conhecimento como único caminho. “Tudo o que interessa ao homem está nele próprio, não fora dele, e é disso que ele tem de tratar, conhecendo-se em cada movimento, em cada pensamento, em cada inibição, sem esforço nem tensão, sem buscar um resultado imediato, mas com certa paixão.”

Nos seus noventa anos, Krishnamurti recebeu alguns velhos amigos em Ojai. Ali estavam Mary Zimbalist, companheira de seus últimos anos de vida, assim como Pupul Jayakar, responsável pela Fundação na Índia e biógrafa de Krishnamurti. Nessa noite, Pupul lembrou à mesa a revelação do sábio indiano Jagannath Upadhyaya sobre a hipótese de Maitréia ter tomado o corpo de Krishnaji, evocando uma carta do irmão Nytia para Annie Besant (encontrada nos arquivos de Adyar, Índia), falando sobre o “processo” vivido pelo pensador em 1922, ali mesmo em Ojai.

Na época, havia corrido a informação de que Krishnamurti tinha pedido aos que o acompanhavam que não falassem mais no assunto, uma vez que isso não era para ser conhecido. Presente a essa evocação feita por Pupul, Krishnamurti entendeu imediatemente que ela queria sua opinião a respeito, na noite em que completava noventa anos. Disse então, que não era aconselhável ir fundo nessas questões esotéricas, “porque se você abre essa porta, você não pode conter o que está por trás dela.”

O sentido de dissociação de Krishnamurti com seu corpo foi para Mary Lutyens, autora de livros sobre ele, um desafio que ficou além de qualquer compreensão. Havia “um outro” que habitava aquele corpo do qual ele cuidava com tanto zelo? Pouco antes de morrer, Krishnamurti falou sobre a energia que passava através dele e iluminava seu espírito. Sua morte, no final de Fevereiro de 1986 em Ojai, foi serena e sua lucidez foi mantida até o último instante. Naquele ano e no anterior, ele deu atenção especial às questões relacionadas com a morte e o medo que ela suscita.

A seu pedido, seu corpo foi cremado em Ventura, California, mas não foi visto por ninguém após a morte. Mary Zimbalist descreveu esses instantes: “As horas que antecederam oito da manhã, quando os encarregados do funeral chagariam, permitiram um espaço abençoado de tempo, que aproveitei sentada em silêncio perto de Krishnaji, olhando seu rosto e sua infinita beleza. Quando o tempo acabou, abracei seus pés, seus pés de criança, delicados e flexíveis.”

"Tudo o que tenho a dizer-vos é que os deuses, os mestres, os guias, não são absolutamente necessários para atingirdes a libertação."

"O essencial é que vos tornei s livres e fortes e não o podereis fazer se tendes mediadores acima de vós. Não podeis ser livres e fortes se me tomardes para Mestre. Não é isso o que eu quero e sim tornar-vos fortes e livres não pelo êxtase, mas por uma reflexão atenta e deliberada, após uma longa pesquisa. Só esta certeza interior poderá destruir em vós todas as deformações do irreal"

"Eu nego que a verdade possa achar-se através dos outros, por muito maravilhosas que sejam tais pessoas e as suas organizações. A totalidade absoluta não pode ser realizada senão pelo vosso esforço pessoal".

"Observei pessoas que levavam uma vida regrada, que se levantavam a horas certas, que se alimentavam de acordo com a maneira prescrita por um pretenso ser espiritual, e que não pensavam aquelas coisas que que lhes foram proibidas. Eu as observei e vi que faltava aquilo que traz a frescura da vida. Não é impondo-se limites, observando de maneira ininteligente e estreita disciplinas mesquinhas, que se atinge o fim. A Verdade é independente do que comeis, da maneira pela qual meditais e do caminho que seguis para alcançar a compreensão."

"As religiões são obstáculo ao entendimento e a Verdade é um país sem caminhos".

"Eu segui o santuário que vós seguis, com as vossas mediações e cerimônias. E como passei por todas essas coisas eu vos digo: - deixai-as de lado! Como sofri e também fui cativo eu vos digo: - deixai essas coisas de lado, elas não auxiliam. A Verdade é uma terra sem caminhos, porque ela é o Todo".





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