autoconhecimento
Não confunda necessidade com desejo
Estamos numa é poca onde desejos pululam em nossa cabeça. Vivemos completamente rodeados por propagandas nos convencendo a adquirir “trocentas” coisas que dizem necessitarmos. Será?
Vejamos primeiramente o que dizem, os especialistas no assunto, sobre as necessidades.
Henry Murray (psicólogo), um dos primeiros a pesquisar a respeito, classificou as necessidades humanas em:
- primárias ou viscerogênicas (necessidades biológicas como sede, fome ou sono)
- secundárias ou psicogênicas (derivadas de uma necessidade primária ou inerentes ao psiquismo humano)
Então as necessidades referem-se aos aspectos básicos da condição humana (pessoais, psicológicos, sociais). Ponto!
O reconhecimento ou conscientização de uma necessidade vem da comparação entre uma situação real, presente no momento, e uma situação ideal ou benéfica ao indivíduo. Se estou em jejum há 12 horas a necessidade que se apresenta é a de comida. Se estiver com frio é a de agasalho, se me sinto solitária aparece a necessidade de companhia (afiliação) e assim por diante.
As necessidades estão vinculadas não só à preservação da condição humana como também à nossa evolução. No passado não precisávamos de telefone celular, hoje muitos não vivem sem ele (confesso que eu não sei mais viver sem o “tio Google”). rsrs Ou seja, conforme vamos evoluindo as necessidades aumentam ou ... o que
pensamos ser necessidades.
Aí é que está a armadilha:
confunde-se necessidade com desejo.
Um bosquímano não necessita de um aparelho de TV, até porque ele não tem acesso à rede elétrica, mas não o tendo ele se encontra afastado e ignorante do mundo “civilizado”, sem chances de poder escolher entre permanecer em sua situação ou almejar algo diferente.
Então digamos que nos dias atuais uma TV é uma necessidade, mas ... é preciso,
realmente, que o aparelho seja um flat último modelo? Ou isso é um
desejo de ter sempre as últimas novidades eletrônicas ou para competir com o vizinho, colegas, etc.?
Nós precisamos,
realmente, ter uma geladeira que forneça cubinhos de gelo na porta (gelo portátil, segundo os fabricantes)?
Uma criança precisa,
realmente, ter seu quarto abarrotado de brinquedos ao ponto de não haver espaço para movimentação?
Uma bolsa Hermès (preços que podem variar de R$ 1.700,00 a R$ 100.000,00) não cumpre a mesma função que qualquer outra bolsa?
E por último, é necessário,
realmente, ter torneiras de ouro em casa? Não riam porque elas existem, sim.
Bem, isso tudo
são desejos e não estou dizendo que há algo de errado neles, mas é preciso que se tenha consciência disso para não cair em extremos de, por exemplo, ser “um Maria vai com as outras”.
Existe um risco com relação aos desejos que é a distorção dos motivos, o que é destrutivo para o ser humano, pode levar à depressão, frustração e até crimes. Quando se deseja uma coisa por ela mesma isso pode não ser problema algum (exceção: megalomania), mas
quando se deseja algo como meio de obter um fim ... aí reside a distorção e consequentemente o problema. Digamos que você deseja ser promovido, não pela satisfação de ter sua capacidade reconhecida, mas sim porque quer se “vingar” daquele colega chato ou o exemplo que já dei do último modelo de TV: para disputar status com alguém.
Esse é o perigo. Algumas filosofias e religiões orientais preconizam a total eliminação dos desejos para alcançar o Nirvana ou a iluminação. Acreditam ser uma orientação de Buda. Como Buda alcançou a sua iluminação não acredito que ele tenha dito isso, mas ... cada um, cada um... rsrs
Consciência, essa é palavra. Na medida em que expandimos nossa consciência vamos vendo que muito do que queremos não são realmente necessidades, mas desejos que podem ser saudáveis, não nos causar mal algum ... ou não.
Para ilustrar, eis a seguir algumas das necessidades psicogênicas listadas por Murray:
Realização (vencer obstáculos e atingir um alto padrão)
Afiliação (fazer amizades, ligar-se afetivamente a alguém)
Autonomia (resistir à coerção e à restrição)
Autodefesa (evitar a humilhação, fugir de situações embaraçosas)
Apoio (ter suas necessidades satisfeitas pela ajuda simpática das pessoas)
Exibição (deixar uma boa impressão, causar admiração)
Rejeição (separar-se de uma influência negativa)
Imagem: todaoferta.uol.com.br
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