O paradoxo da experiência religiosa
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O paradoxo da experiência religiosa


Eu ouvi dizer..

Um grande Mestre Zen, Sozan, foi interrogado para explicar o ensinamento derradeiro de Buda. Ele respondeu: “Você não irá entendê-lo antes de tê-lo.” Mas, então, qual é o ponto de compreendê-lo? Quando você o tem, você o tem; não há necessidade de compreendê-lo. Quando você não o tem, não pode compreendê-lo, e existe a necessidade de compreendê-lo. Este é o paradoxo: você pode entendê-lo somente quando tem.

Não há jeito de entendê-lo antes de tê-lo; somente a experiência o explicará para você. Nada mais pode fazer este trabalho, nenhum substituto é possível. Mas, então, não há necessidade — quando você tem, você tem. Quando está lá, está lá. Não há nem mesmo um desejo de compreendê-lo; aconteceu, você conheceu, tornou-se você. Exatamente como quando você come: quando você come, não se torna a comida. Você já observou? Do contrário, você teria se tornado uma banana. Você come uma banana; você não se torna uma banana, a banana transforma-se em você.

E exatamente o mesmo acontece quando você conheceu Deus: Deus se torna você. Quando você conheceu a verdade, a verdade torna-se você; digerida, ele corre no seu sangue, torna-se os seus ossos, torna-se o seu tutano, torna-se a sua presença. Não há necessidade de compreendê-la. De fato, não há ninguém para compreendê-la, ninguém é deixado para trás, você tornou-se ela. A sua compreensão tornou-se ela. A necessidade existe porque não compreendemos. Então, continuamos a procurar explicações, e nenhuma explicação pode ser dada.

Este é o paradoxo da experiência religiosa: aqueles que conhecem não precisam de nenhuma compreensão sobre ela. Eles estão tremendamente contentes conhecendo-a; é mais do que suficiente. Eles podem dançar, podem cantar, podem rir, mas não estão, de maneira alguma, procurando explicá-la. Eles podem vivê-la, podem ficar quietos sobre ela — podem sentar silenciosamente ou podem tornar-se loucamente extasiados com ela — mas não se incomodam em explicá-la.

Esta é a razão pela qual todas as grandes escrituras do mundo: os Upainishads, o Tao te Ching, os dizeres de Jesus, o Dhammapada de Buda, são simplesmente colocações, não explicações. Os Upanishads não provam Deus, eles simplesmente afirmam; eles dizem: É assim. Não é um argumento. Não estão propondo nenhuma hipótese, estão simplesmente declarando: É assim. É uma declaração. Não produzem nenhuma prova de porque eles declaram isto, porque declaram que existe. Eles simplesmente dizem: E assim — pegue ou deixe, mas é assim. E não há necessidade de nenhuma prova: eles são a prova.

Mas, para aqueles que ainda estão na noite escura da alma, tropeçando, tateando, alguma explicação é necessária. Estará muito, muito longe da verdade, será uma mentira — mas, ainda assim, é necessária.

Então, os místicos falam. Eles têm que falar, têm que derramar os seus seres, sabendo que isto pode ajudar uns poucos. Ajuda somente umas poucas pessoas. Ajuda somente aquelas pessoas que estão prontas para confiar — do contrário, nunca ajudam. Se você argumenta, está perdido — porque um místico não pode argumentar, não pode convencê-lo.

Nesse sentido, o místico é muito frágil. Nesse sentido, logicamente, ele é muito frágil: ele não pode argumentar e não pode provar. Você pode chegar perto dele, pode sentir o seu ser, pode olhar nos seus olhos, pode pegar na sua mão, pode apaixonar-se no seu amor, pode confiar neste homem louco, o místico pode ir com ele numa jornada desconhecida. Será uma corajosa aventura de confiança. Se você duvida, de repente, é cortado. Se você duvida, então, não há nenhuma possibilidade de uma ponte. A pessoa tem que confiar.

Osho, em "O Caminho do Amor: Discursos Sobre as Canções de Kabir"





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