O Prana do Prana
autoconhecimento

O Prana do Prana







Shri Siddharameshwar Maharaj
(Contemporâneo de Ramana e Mestre de Nisargardatta)



"Os aspirantes tinham feito anteriormente a seguinte objeção: Como poderia aquele que é sem forma se transformar naquilo que é móvel e imóvel? 


Anteriormente alguns de vocês tinham dúvidas de como Brahman (Princípio Absoluto) sem forma e sem atributos tornou-se a ilusão. Qual é o significado de "anteriormente"? Na verdade, o próprio tempo é uma ilusão. Devido a essa ilusão, sentimos que este é um dia ou um determinado mês. A luz e a escuridão sucedem uma a outra na terra. Os dias, meses, etc, são definidos por conveniência. Existem milhares ondas desse tipo que aparecem no Ser. O primeiro é o Parabrahman natural e a ilusão aparece sobre Ele. Parabrahman é livre e não faz nada, e no Seu pano de fundo aparece a ilusão inexistente. Na realidade, para Parabrahman é como se o mundo não existisse, Ele não sente o peso dele nunca. Da mesma forma, surge em nós um conceito e, porque o conceito é estabelecido, acreditamos ser verdadeiro.
Um objeto visto em um sonho não é real, mas parece real. Similarmente ao nosso reflexo no espelho, Maya (a ilusão) parece ser verdade. Pratique o pensamento "tudo aparece no meu Ser." Se você fizer isso com sinceridade, você irá experimentar a Realidade. Brahman é a corporificação do Conhecimento. Os Vedas dizem que o Verdadeiro Conhecimento é Brahman. A grande afirmação de outro Veda é: "Eu sou Brahman”. Você se torna de acordo com como você se concebe.
Você, o Ser, é o Rei e a Ilusão (Maya) é o seu servo. A Ilusão é devida à sua percepção. O rei experimenta de acordo com como ele imagina. Ilusão significa nossa idéia. A Ilusão limita uma pessoa de acordo com como são os conceitos dela. Alguém pode perguntar: se a ilusão não é verdade, porque é visível? A resposta é, tudo o que você vê é verdadeiro? Onde estão os objetos vistos em um sonho? Se você dispuser muitos espelhos em um só lugar, a mesma cena será visível em todos os espelhos. São todas verdadeiras? O Sábio não considera tudo como verdadeiro. Consequentemente, os Vedas dizem que tudo o que é visto é destrutível e será destruído. Tudo o que é visto são apenas as distorções da mente.
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A natureza do Ser é sempre a Graça, na qual não há nunca doença alguma. O Ser está sempre seguro, nunca se quebra e nada entra nele. Todas as coisas materiais estão sujeitas a serem danificadas ou aumentadas. Quando você experimenta qualquer coisa material sendo danificada, você pensa que você é responsável por esse dano. O indivíduo imagina que ele mesmo sofreu o dano de alguma forma. O Ser não tem coisa alguma em Si. Não há nada nele que possa ser danificado ou que irá degradar. Ele não possui nenhuma sujeira, isso significa que nenhuma coisa material articula nele. É por isso que ele é chamado de limpo e como não há nenhuma sujeira, ele é indestrutível. A decadência é a qualidade da sujeira. Ela está fadada a decair e a ser destruída, retornando de volta para a terra. Entretanto, o Ser imaculado é indestrutível. Embora Ele esteja no corpo e nos órgãos dos sentidos, Ele não é afetado por eles. O Ser não tem nem nascimento e nem morte. Ele jamais é corrompido e não possui partes. Ele não é constituído de várias partes, não é a soma de partes. Se você deseja saber quem é Ele, esse Ser é Aquele que vive no seu corpo e que conhece o corpo.
Quando dizemos que o conhecimento é temporário, queremos dizer que o conhecimento na mente é temporário. A fala chega ao fim mas a Consciência permanece. Se um homem não tivesse estado ciente de si mesmo ele jamais retornaria para casa quando tivesse saído para fazer algum trabalho. Os desejos pertencentes aos órgãos sensoriais eventualmente morrem, mas a natureza essencial do Conhecimento, a Consciência, permanece.
A infância, a juventude, a velhice, etc. são estados do corpo. Essas são fases naturais de toda coisa material. Por meio da energia vital, ou o Prana, esses estados são entendidos quando eles vêm. Entretanto, o próprio Prana não se torna jovem ou velho. Sua qualidade de energia permanece a mesma. Uma vez que o Prana não tem mudança em seu estado, como pode o Ser que é o “Prana do Prana”, a “A Energia da Vida da energia vital”, ter esses estados?
Os ovos, a fermentação da combinação do calor com a umidade da placenta e as sementes, são as quatro fontes de criação de todos os seres. Em todos os seres o Prana funciona apenas através do Poder do Ser. Os estados como a infância, etc., não tem nenhum efeito sobre o Prana, então como podem afetar o Ser? O indivíduo, por meio de seu próprio conceito errôneo, se limita. Nos desejos há aprisionamento. Isso pode ser explicado da seguinte maneira: o que quer que você deseje está num certo lugar, se você deseja aquilo você deve ir lá onde isso está. Você tem de esperar lá até que consiga o que quer, e aquilo não pode ser levado embora de seu local, você tem que permanecer lá. Apenas ali você pode desfrutar do objeto ou usá-lo. Sendo que ele não pode ir conosco para onde vamos, temos de viver próximos do objeto porque estamos necessitados dele. Esse é o aprisionamento devido aos desejos. Se não quiser ficar aprisionado, você tem de abandonar os seus desejos. Apenas dessa forma você poderá viver livre. Onde há desejo há detenção, que significa ter uma residência, viver no mundo. O desejo implica em estar nas proximidades do objeto. Quando o desejo morre, a detenção se vai. Ao abandonar o desejo, a Liberação é certa. Entretanto, abrigar desejos é em si aprisionamento. Quando todos os desejos são abandonados para sempre o homem se torna a “Realidade”, enquanto que o indivíduo que tem todos os seus desejos prendendo-o apertado, descende em direção à destruição.
O Ser é intocado por todas as qualidades ou modificações. Alguns dizem que no estado desperto, o Ser é limitado pelos limites desse estado. Entretanto, se esse fosse o caso, Ele não teria conhecimento do estado de sonhos e ficaria atado a um estado apenas. Ele teria continuado a comer apenas coisas doces ou apenas coisas amargas, mas Ele não é assim. Isso significa que Ele não é afetado, embora esteja no corpo. No estado de sonhos, Ele opera através da mente apenas, sem a ajuda do corpo físico e dos órgãos sensoriais. Quando Ele vai além do sonho, no sono profundo, Ele permanece sozinho sem nenhum revestimento ou corpo. Não há nenhuma ondulação de nenhum tipo. Você pode dizer: “Onde está o Ser? Não há nada ali”, mas esse não é realmente o caso. Quem é esse que pode dizer que estava dormindo gostoso? Quem é esse que responde ao chamado feito para ele pelo nome dado ao seu corpo? Isso não seria possível sem o Ser. Os estados de sono profundo e de vigília são apenas do corpo físico e não do Ser. Ele, sendo a testemunha de todos os três estados não pode ser “nada”. Ele é o Ser Supremo, Paramatman. Você pode perguntar como é que quando Ele acorda do sono, Ele se lembra novamente de todos os arredores do estado desperto. Escute atentamente a explicação: as “circunstancias circundantes” estão relacionadas ao intelecto ou ao cérebro e não ao Ser. Se o intelecto é transformado, toda a vida se torna irreal. Então não há aprisionamento ou liberdade de algo.
A vida mundana existe porque você diz que sim. Você a concebe assim. Ela é real apenas por causa de seus conceitos. Se você dissesse: “Eu abandonei-a”, então a vida mundana, o aprisionamento, terminaria. Se você aumentá-la, ela aumenta e se você a destruir ela é destruída.
A mente é a fonte da vida mundana bem como da vida espiritual. Ao ir dormir, você remove as vestimentas externas, quando você acorda você as coloca novamente. No sono profundo você não está ciente do corpo encobrindo o Ser. Quando você desperta, você vê e através de sua atenção você se lembra de tudo. Para aquele cuja ignorância e o egoismo se foram, tudo é somente Brahman, até mesmo o estado desperto. O indivíduo dissolve-se e torna-se Paramatman. Então não há desejo de nenhum tipo. Não há nenhuma comparação a ser utilizada. O significado de comparação nesse caso é no sentido de mostrar que o “Conhecimento da Natureza da Verdade” é parecido com alguma coisa. Não há nada igual a ele ou nada similar a ele que possa ser apresentado. Nem existe palavra que possa ser usada para descrever esse estado ou o seu significado de maneira plena e adequada. Não há nenhuma forma, objeto ou palavra que possam ser comparados a esse estado. Portanto, o estado é chamado de além de comparação, ou é dito que não há nenhuma comparação ou alegoria disponível que possa explicá-lo. Para “Ele” não há nenhuma outra coisa. O mundo inteiro é apenas Parabrahman ou Paramatman.
Quando o Conhecimento do Ser está evidente, há somente a própria felicidade, feliz por existir. A própria Graça revela-se na Graça. Aquele que for um devoto abnegado terá essa experiência quando a Ilusão for descartada. É por isso que a devoção deveria ser contínua. Não deveríamos nunca esquecer do nos devotar. Não deveria haver Esquecimento. Quando algum outro objeto ou realização se torna atrativo para o indivíduo e ele pensa sobre esse objeto, ele esquece sua Devoção a Deus. Portanto, os Santos insistem na devoção incessante. Quando o devoto descarta o desejo por dinheiro, filhos, riquezas materiais e fama na sociedade e dedica-se totalmente à Devoção a Deus, a sujeira na Consciência é removida e ela se torna unida a Deus, residindo em sua Verdadeira Natureza. Quando o Amor e a Devoção por Deus aumentam, os ditos dos Vedas são subservientes ao Devoto. “Aquilo” que os Vedas declararam ser a mais Elevada Verdade, é proferido por ele muito naturalmente. É então que a Existência é experimentada como “Um Todo Completo”. Essa é a Devoção do mais alto grau. Essa devoção liberta a todos, incluindo as mulheres, os homens, os mais baixos e os Sacerdotes, sem nenhuma discriminação. Entretanto, se a mente não estiver pura, não haverá a luz do Ser. Aquele que possui a Devoção imparcial atinge a Realidade. O véu sobre seus olhos desaparece. O Sol e uma multidão de coisas são vistos de imediato. Quando a pessoa abandona todo o orgulho e a mente torna-se livre de dúvidas, tudo é visto como Brahman.
O Rei Janaka perguntou: “Após a Realização, como a pessoa vai desempenhar suas tarefas? E como o aprisionamento das ações, ou o karma, é quebrado? Como ficarmos livres de todas as máculas, mesmo quando fazemos nossas tarefas? Através de qual remédio as amarras do karma são rompidas ou afrouxadas? Como podemos atingir o estado de inação, apesar de realizar ações, e como podemos encontrar o Ser Supremo, Deus? Por favor, diga por que o Sábio Sanaka e outros não deram respostas às perguntas ?”
O Sábio Awirhotra Narayana disse naquela ocasião: “o problema da ação, da ação errada e da não-ação não é um problema ordinário.  Ação está na raiz do Veda e o Veda é Narayana (Deus) apenas. É nesse ponto que os Vedas silenciam-se. Ação, não-ação e ação errada são de certa forma todas a mesma coisa. Como no caso do açúcar, onde você tem o açúcar refinado, o branco e o mascavo, o “açúcar” é o mesmo. Similarmente, a ação é “Uma”, ainda assim aquele que é atraído para a ação encontra várias diferenças. Na ação a não-ação é inerente. Na ação errada, novamente estão inerentes a ação e a não-ação. Se alguma ação é iniciada, ela é chamada de ação ou karma. Isso quer dizer ação do ponto de partida. Ela é chamada ou de boa ou de má, isso é chamado Vikarma. Deixar as ações para trás é chamado de não-ação, Akarma, que significa que é como se a ação não tivesse acontecido. Aquele que sabe que o não-fazedor é o verdadeiro fazedor, tornou-se um Sábio. Ele atingiu o “estado de ausência de ação”. Ó Rei, se você perceber que o autor e aquele que causa a ação são apenas “Um” neste corpo, então você será “Sem ação”. Aquele que é o fazedor no início da ação é ele mesmo o recebedor dos resultados. Apenas através da Bênção do Sadguru, o estado de liberdade das ações é alcançado. Existem muitas ações surgindo de uma ação e elas são chamadas de boas e más ações. Entretanto, através dos ensinamentos do Sadguru, todas as ações (karmas) são cortadas. O canto da ação é assim.
Paramatman é, em todos os momenetos, sem nenhuma perturbação e sem impedimentos. Ele é permanentemente indestrutível e perfeitamente limpo. Esteja certo de que você é “Isso”.







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