autoconhecimento
O que fazer quando eles chegarem?
No ano de 1938, o então radialista George Orson Welles, que mais tarde seria responsável por um dos melhores filmes de todos os tempos, Cidadão Kane, produziu uma transmissão radiofônica chamada "A Guerra dos Mundos" de maneira tão intensa, que provocou pânico nos ouvintes, que pensaram tratar-se de uma verdadeira invasão alienígena. Mas a transmissão fora adaptada do livro homônimo de H.G. Wells, portanto não passando de uma bem sacada, embora um pouco irresponsável, "pegadinha".
Muito se fala sobre extraterrestres hoje em dia, a tal ponto que sua existência tornou-se algo caricata no inconsciente coletivo. As obras cinematográficas acabaram criando uma aura fantasiosa em torno do assunto que, como sabemos, de fantasia não tem nada. Os motivos para esse estado em que o assunto chegou não será mencionado aqui, pois
este texto não trata de conspirações e nem do que ocorre nos bastidores do mundo atualmente, mas de um cenário
hipotético de neutralidade de ambas as partes em um possível contato aberto, para que possamos analisar o contexto. Repito, o cenário é hipotético.
Nós sabemos que uma hora nossa civilização sairá do ponto cego do cosmos. Uma hora iremos finalmente entrar em contato oficial com outras civilizações. Quando digo oficial, refiro-me ao acontecimento aberto, para qualquer indivíduo, do mais simples ao mais cético. Não podemos dizer quando isso irá acontecer, podendo ser amanhã ou daqui a quinhentos anos.
Contudo, quando o contato enfim ocorrer, como essa humanidade atrasada e medrosa conseguirá lidar com isso? Sim, pois que somos uma raça atrasada, uma vez que ainda estamos segregados, ainda necessitamos dos sistemas político e monetário, ainda temos religiões, ainda temos líderes corruptos, ainda matamos uns aos outros, ainda deixamos nossos irmãos passarem fome, etc, etc, etc. Portanto, ainda estamos atrasados e ainda estamos cheios de medo.
Então como poderia esta humanidade lidar com outras civilizações? As pessoas comuns infelizmente mal vêem um palmo à frente de seus narizes por causa da engenharia social. E se ainda não sabem quem são, pois não praticam o autoconhecimento, certamente que o encontro com outras formas de vida será de um impacto tremendo para elas, dependendo então de suas crenças ou de seus estados de consciência o modo com que reagirão ao evento.
Os religiosos fanáticos, como já fazem hoje em dia, vão chamar essa civilização extraterrestre de exército de demônios. Os mais simples ficarão com medo, mas podemos dizer que por sua simplicidade, grande parte não vai nem ligar para o que esteja acontecendo neste mundão de Deus. Aliás, Deus ficará em alta nessa ocasião, pois que questionamentos filosóficos serão inevitáveis.
Os céticos ainda ficarão desconfiados, não há de ser de outra maneira. Os políticos logo entrarão com seus jogos diplomáticos, tentando aumentar seus poderes com alianças entre eles e o povo do céu. Os líderes religiosos tentarão a todo o custo serem os primeiros a encontrarem em suas escrituras sagradas algo que ligue suas religiões com os novos visitantes. Os seguidores da nova era possivelmente verão salvadores, mas encontrarão decepção quando descobrirem que não são os escolhidos.
Mas, sem dúvida, os que mais aproveitarão esse possível contato serão os cientistas e ufólogos, pois ambos finalmente irão caminhar juntos. A ciência terá sua prova e a ufologia seu merecido reconhecimento. E isso sim será algo positivo.
Todavia, o cenário pode ser mais complicado. Em 1938 houve pânico nas ruas. E o que a humanidade mudou de lá para cá? Evoluímos em tecnologia e nos direitos humanos, mas no cerne do homem, o que realmente mudou? Quase nada. O mundo apresentado aos olhos ainda é toda a realidade que o indivíduo comum conhece, ainda há os conflitos de interesse, de crenças e de filosofias; ainda há separações por cores de pele, por culturas e nações; ainda há muitas coisas a serem resolvidas.
Compreender que não estamos sós, não apenas de uma maneira teórica, mas ao vivo, vendo com os próprios olhos, causará no ser humano uma grande transformação
intelectual e espiritual. Os que não estiverem preparados ficarão confusos, amendrotados e perderão seus rumos. Para aqueles que conseguirem lidar com isso, será uma grande oportunidade de evoluírem de maneira mais profunda.
Mas é preciso pôr os pés no chão. A humanidade como um todo não irá mudar de uma hora para outra. Tudo continuará como antes, contas e impostos a pagar, crianças passando fome, assaltos e sequestros, jogos de futebol domingo à tarde na televisão, etc, etc, etc. Todavia, o horizonte irá se ampliar. O que antes era um mundo limitado, tornar-se-á algo maior e isso sim irá causar uma mudança na forma como o homem encara a si mesmo e o mundo ao redor.
Não sabemos como a humanidade estará daqui a duzentos, trezentos anos, mas se esse contato se der no tempo de nossas vidas, esse é o cenário mais visível que podemos encarar. Afinal, não teremos amor em nossos corações para oferecer aos novos visitantes. Então, ofereceremos o que tivermos: crenças religiosas, condicionamentos psicológicos, egocentrismos filosóficos e intelectuais, patifarias políticas, desarranjos sociais, mentalidades bélicas, dramalhões socialistas, mediocridades capitalistas, desrespeitos pela própria espécie, entretenimentos fúteis, celebridades sem conteúdo, programas de televisão... etc... etc... etc...
Então, há a pergunta: o que fazer quando eles chegarem? Nada, pois que nada irá mudar
a não ser possivelmente no íntimo de cada um. Não há de se ter medo, não há de se ter esperança, não há de se ter nenhuma ideia pré-concebida. Apenas aprenda a amar e a tolerar as pessoas, aprenda a amar a si mesmo. Descubra quem você realmente é. Sabendo quem você realmente é, nada mais lhe será exigido para lidar com essa nova realidade.
A humanidade irá ampliar sua visão, todavia apenas ela pode libertar-se dos grilhões do medo e da ilusão de si mesma. Não estamos sozinhos no universo, mas nossa evolução só depende de nós. Enquanto o homem não aprender a amar seu semelhante e a tolerar suas diferenças, as coisas continuarão do jeito que estão.
É preciso parar de olhar para o céu, e começar a olhar para dentro de si mesmo.
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