Como já comentei no post anterior, os pais ou pessoas que os substituem enviam às crianças constantemente mensagens que são percebidas como ordens pelos pequenos porque eles não têm ainda suficiente capacidade de discernimento ou juízo crítico.
Em grande parte das vezes em que isso ocorre as mensagens são não verbais, podem ser entonação da voz, expressões faciais ou corporais ou atitudes.
Os pais ou substitutos não têm consciência que estão enviando mensagens (poderíamos chamá-las de metalinguagem) às crianças o que torna o assunto mais delicado, pois não haverá então como evitar que ocorram.
Vou citar alguns exemplos para ficar mais claro como essas mensagens ocorrem.
- Se uma criança pequena, mas que já tem desenvolvimento suficiente para realizar certas tarefas rotineiras, como se vestir, calçar os sapatos, etc. não é estimulada a realizá-las, sendo os pais que fazem as coisas por ela, vai receber a seguinte mensagem: “Não consigo cuidar de mim ou sou uma nulidade”. Crescerá se sentindo uma pessoa menor, não muito capaz e que se voltará para os outros para que resolvam as coisas por ela.
- Quando na infância a criança é impedida de chorar (muitas vezes os adultos se sentem incomodados pelo choro) e/ou de rir muito alto (ser o que as crianças são: espontâneas), quando chegar à fase adulta terá dificuldade em manifestar ou expressar seus sentimentos.
- Muitas vezes os pais ou substitutos obrigam os pequerruchos a dar seus brinquedos ou constantemente repartir suas guloseimas com os amiguinhos (é diferente de ensiná-los a ser solidários). A mensagem subliminar aqui é: “não seja egoísta, nunca se coloque em primeiro lugar”. Tal mensagem gerará falta de amor por si próprio.
- Figuras parentais masculinas, quando tratam mal as esposas e a criança (também do sexo masculino), assiste os maus tratos, mesmo que sejam só verbais, futuramente será aquele tipo de homem machista e que não valoriza as mulheres.
- Pais que não dão suficiente atenção aos filhos estão enviando a mensagem: você não existe ou não merece atenção. Resultado? Futuro adulto com sentimentos de menos valia, baixa auto-estima.
- Uma mensagem muito perigosa e que infelizmente é bem comum: pais que um dia dizem ou fazem uma coisa e no dia seguinte dizem ou fazem o oposto. Ou ainda: o pai tem uma atitude e a mãe uma atitude oposta em relação às solicitações dos filhos. Na cabecinha da criança isso se traduz como: “as pessoas não são confiáveis”. Futuro adulto com dificuldade em confiar e/ou poderá enganar os outros, pois considera que eles também são enganadores.
Eis algumas das mensagens parentais transformadas em Mandatos pela Análise Transacional: "não viva", "não sinta", "não pense", "não cresça", "não seja você mesmo", "não faça", "não consiga" (fracasse), etc. (Portal BrAT)
“Pais muito críticos geram uma criança tímida e retraída. Pais super protetores tornam a criança dependente e insegura. Pais afetivamente carentes geram uma criança culpada. Pais omissos ou ausentes deixam a criança confusa. Pais muito exigentes e perfeccionistas geram uma criança indecisa, hesitante.” (http://www.veiga.net/)
Um fator importante a se levar em conta no tratamento dado às crianças pequenas é que elas são altamente sensíveis às energias contidas nas mensagens verbais que recebem. Se o adulto lhes diz alguma coisa num tom de voz que não corresponde à mensagem, elas perceberão e ficarão confusas, tirando suas próprias conclusões que não serão acuradas porque lhes falta suficiente compreensão e discernimento.
Bem, todas essas mensagens que recebemos quando crianças ficam registradas no nosso HD interno. Muitas ficarão conscientes, mas uma boa parte delas será inconsciente e aí é que reside o problema.
Ao chegarmos à idade adulta temos dentro de nós como se fosse uma “cartilha” de como agir ou se portar frente a determinadas situações sem falar nos sentimentos inconscientes de menos valia, carência, abandono ou como reação: sentimentos agressivos, cínicos, manipuladores, etc.
Felizmente nem todas as mensagens parentais negativas vão gerar problemas ao futuro adulto, pois há um fator chave envolvido: como a criança recebe ditas mensagens. Há essencialmente duas formas básicas: submissão ou rebeldia. A criança rebelde poderá ignorar não todas, mas algumas mensagens negativas recebidas. Vemos, portanto, mais uma vez a importância da nossa percepção. Ela atua influenciando o nosso psiquismo desde a nossa infância.
Finalizando, os mandatos parentais não precisam necessariamente governar o futuro adulto, desde que eles sejam conscientizados, eles podem ser anulados pelo portador. A maneira mais fácil e rápida é por intermédio de uma psicoterapia.
Àqueles que já são pais ou pretendem ser, lembrem que a criança precisa saber que é importante, digna de ser amada e principalmente aceita como ela é.
Imagem: brasilmelhor.net
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