O Um
autoconhecimento

O Um





O que vou fazer adiante é simplesmente "descrever" a Identidade não dual agora mesmo, do modo como ela é imediatamente vista. O que se segue é fluxo de consciência, por isso perdoa qualquer falha. Simplesmente descontraia a mente e leia o que se segue levemente (se uma frase faz imediatamente sentido, bem, se não, continua lendo relaxadamente): 

O que tu tens andado à procura é literalmente e exatamente O que lê esta página agora mesmo. Esta Identidade não pode ser encontrada pois nunca se perdeu: tu sempre tens visto que tu tens sido tu . Esta Identidade é uma condição permanente de tudo o que surge, é o espaço no qual tudo surge, nada tem fora de Si e por isso é Paz absoluta, e irradia sua própria beleza em todas as direções. O João surge no espaço desta Identidade, o João surge neste espaço infinito, nesta receptividade pura. O João é um objecto, assim tal qual uma árvore ou uma nuvem que surge no espaço da Identidade que tu és. Agora não estou a falar ao João, estou a falar para ti O que está ciente do João é esta Identidade sempre presente. Esta Identidade está ciente do João surgindo agora mesmo. Esta Identidade é Deus. Deus está lendo esta página. O João não está lendo esta página, Deus está lendo esta página. A Identidade está ciente do João e ciente desta página. Tu não és o João. Tu és O que está ciente do João. O que está ciente do João é uma Identidade que em si mesma não pode ser vista mas unicamente sentida, sentida como uma certeza absoluta, uma inabalável Identidade, EU SOU este EU SOU eternamente, intemporalmente, interminavelmente. Só existe esta Identidade em todas as direções. Tudo surge espontaneamente no espaço desta grande perfeição que é esta Identidade, que está lendo esta página agora mesmo.

E tu, João, és essa Identidade. Tu sempre tens visto que tu és esta Identidade. Nunca houve um momento em que não soubeste que tu és _tu Não consegues recordar um momento no qual tu não foste tu. A única coisa que sempre podes recordar é aquilo que esta Identidade fez. Só existe esta Identidade. Não a podes alcançar, pois é ela que tenta o alcance, não a podes ver, pois é ela que realiza a visão agora mesmo, isto significa que, tudo simplesmente surge na Sua presença: o mundo inteiro surge na tua presença agora mesmo. Tu és esta extensão na qual tudo espontaneamente, sem esforço, surge. Tu és Este Primeiro. Tu sempre tens sido Este Primeiro. Só existe Este Primeiro. Não suponhas que O estás a encontrar. Não suponhas que te tens esquecido Dele. A única coisa que sempre tens conhecido, a única coisa que te é dado recordar, a única coisa que na verdade estás sentindo agora mesmo é Este Primeiro: a Identidade, a Presença, a qualidade de tudo, tal como é, e tal como surge na tua Presença – a simples sensação de Ser – que é tudo o que tu sempre sentes, permanentemente. 

Olha as nuvens: elas estão surgindo na tua consciência: estão surgindo em ti. As nuvens estão fora do João mas dentro da tua Identidade. Olha para o teu corpo e para esta sala. O teu corpo está nesta sala, mas ambos o teu corpo e esta sala surgem NA tua consciência. Tu estás literalmente sustentando-os amorosamente na tua consciência. As montanhas estão aparecendo na tua consciência: estão surgindo em ti e tu sustenta-las amorosamente na tua consciência, segurando o mundo que desponta no teu abraço, qual terno e radiante amor. As montanhas estão surgindo fora do João mas no interior da tua Identidade. As nuvens, as montanhas, e o João estão todos simultaneamente, e sem esforço, surgindo nesta Identidade, o leitor desta página. Tudo o que está surgindo surge neste inabalável EU SOU, que não é uma coisa ou um objecto ou uma pessoa, mas a receptividade ou clareira na qual todas as coisas e todos os objetos e todas as pessoas estão a surgir. Esta vacuidade, esta receptividade, este grandioso espaço é a tua Identidade, é O que tu sempre tens sido, é O que tu és antes de os teus pais terem nascido, é o que tu és antes de acontecer o Big-Bang. Antes de Abraão ser, EU SOU. Não há um antes e um depois para este instante presente, que a Identidade é. Só existe este instante, agora, da Identidade que está lendo esta página neste preciso momento. Não há um passado e um futuro neste interminável instante. Todos os antes e todos os depois surgem _nesta consciência. Só existe esta sempre-presente, nunca-iniciada, nunca-terminada, não-nascida, imperecível, beleza radiante que está ciente desta página, que está ciente deste universo, e que encontra todos estes NO espaço que em si mesma é, e por isto, todas as coisas surgem na Paz inabalável que as sustenta facilmente com o seu amparo. O João existe no universo; o universo existe na tua Identidade. 

Por isso, sê esta sempre-presente Identidade que está lendo esta página. Não o estou a dizer ao João, estou a falar para ti Deixa o João aparecer e desaparecer como qualquer objecto. Permite que o João apareça, fique por um pouco, e parta: o que tem isto a ver com a tua Identidade? Todos os objectos aparecem, permanecem, e partem no vasto espaço e vacuidade que está ciente deste momento, e este momento, e este momento, e este momento. Ainda assim, este momento não tem fim, tu na verdade nunca sentiste que o presente tenha chegado a um termo pois isso nunca acontece: o presente é a única coisa que é real: este instante imediato, presente, esta simples sensação de Ser, exatamente a mesma sensação-consciência na qual esta página flutua, e na qual o João flutua, e na qual as nuvens flutuam. Quando tu sentes este instante presente, nada encontras fora dele – não é possível vislumbrar o exterior deste instante intemporal, pois nada existe além dele. Este instante, e este e este é tudo quanto tu conheces, e este instante imediato presente é simplesmente outro nome para a imensurável Identidade na qual surge o cosmos inteiro, uma radiante, rejubilante, extasiada dilatação de felicidade e um desejo de partilhar esta Alegria infinita com outra pessoa. 

Porque esta página e as montanhas e as nuvens todas surgem na tua consciência, nada existe fora da tua Identidade. Que não existe literalmente nada exterior à tua Identidade significa que não existe literalmente nada que a possa ameaçar. Uma vez que conheces esta Identidade, tu conheces a Paz. Porque tu já és, diretamente, imediatamente, e intimamente um e idêntico a aquele que está lendo esta página agora mesmo, tu conheces Deus agora mesmo, diretamente e imediatamente e inequivocamente e inegavelmente E porque conheces Deus agora mesmo, como a própria Identidade lendo esta página, tu sabes que finalmente, verdadeiramente, profundamente estás em casa, um lar que sempre diretamente tens conhecido e sempre tens fingido não conhecer. 

Por isto, deixa de fingir. Reconhece que tu és Deus. Reconhece que tu és Perfeição. Reconhece que tu és a própria Verdade que os sábios têm procurado há séculos. Reconhece que tu és Paz acima da inteligência. Reconhece que estás tão arrebatadamente feliz que tiveste de manifestar este mundo inteiro só para gerar o testemunho da beleza radiante que não podias conter só em e para ti mesmo. Reconhece que a Testemunha desta página, a Identidade deste e todos os mundos, é o próprio e único verdadeiro Espírito que olha através de todos os olhos e ouve através de todos os ouvidos e se estende em amor e compaixão para abraçar os próprios seres que Ele mesmo criou numa extasiada dança que é o segredo de todos os segredos. E reconhece que estás Só, que és literalmente o Único em todo o universo: não há outros para este Primeiro. Há efetivamente outros para o João, mas tanto o João como os outros surgem na consciência que está lendo esta página, e esta consciência, esta Identidade, não tem um outro, pois todos os outros surgem nesta Identidade. Primeiro sem segundo é O que está lendo esta página. 

Portanto, sê esse Primeiro. E dá também um abraço meu ao João. 

(Ken Wilber)






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