Ouvi contar... O dr. Ahrams foi chamado à loja de Mulla Nasruddin, onde Nasruddin jazia inconsciente. Dr. Abrams cuidou dele por um longo tempo e, finalmente, conseguiu revivê-lo. Pouco a pouco, as pessoas aprendem a não acreditar, a não confiar, a permanecerem cronicamente em dúvida. E isso ocorre tão vagarosamente, em doses tão pequenas, que você nunca está alerta para o que está acontecendo com você. Quando vê, é tarde demais. É isso o que as pessoas chamam de experiência. Diz-se que uma pessoa é experiente quando ela perdeu contato com o coração. Dizem então: “Esse é um homem muito experiente, muito esperto, muito astuto; ninguém pode enganá-lo”. Talvez ninguém possa enganá-lo, mas ele enganou a si mesmo. Ele perdeu tudo aquilo que era valioso; ele perdeu tudo. Então, um fenômeno muito peculiar acontece: não se pode amar pessoas, porque pessoas podem enganar. Começa-se a amar coisas, então. Como há uma grande necessidade de amar, as pessoas vão buscando substitutos: alguém ama a sua casa, alguém ama o seu carro, alguém ama as suas roupas, alguém ama o seu dinheiro... É claro, a casa não pode enganá-lo, o amor não corre risco. Você pode amar o carro - um carro é mais confiável do que uma pessoa real. Você pode amar o dinheiro - o dinheiro é uma coisa morta, está sempre sob seu controle. Por que tantas pessoas amam coisas em vez de pessoas? E até mesmo quando, às vezes, amam uma pessoa, elas tentam reduzir a pessoa a uma coisa. Se você ama uma mulher, você está, de imediato, pronto para reduzi-la tornando-a sua esposa. Você está pronto para reduzi-la a determinado papel: o papel de esposa, mais previsível do que a realidade de uma amada. Se você ama um homem, você está pronta para possuí-lo como uma coisa. Você quer que ele seja seu marido, porque um amante é mais líquido, nunca se sabe... Um marido parece algo mais sólido. Pelo menos, existe a lei, existe o tribunal, existe a polícia, existe o Estado, que dão certa solidez ao marido. Um amante parece ser como um sonho: não tão substancial. Assim que as pessoas se apaixonam, elas estão prontas para o casamento - tal é o medo do amor. E seja quem for que amemos, começamos a tentar controlar. Esse é o conflito que permanece entre esposas e maridos, mães e filhos, irmãos e irmãs, amigos - quem vai possuir quem? Isso significa: quem vai definir quem, quem vai reduzir quem a uma coisa? Quem será o senhor e quem será o escravo? Mulla Nasruddin sentou-se, resmungando, para beber; e um amigo lhe disse: “Você parece mal hoje, Mulla. O que houve?” Mas o que mais é amor? Se você aprecia a companhia do seu guarda-chuva, se você o respeita, se você gosta do seu guarda-chuva, o que mais é amor? Amor é respeito, um tremendo respeito; amor é um gostar profundo; e amor é pura alegria com a presença daquele que você ama. O que mais é amor? Mas as pessoas amam coisas - uma necessidade profunda é, de alguma forma, preenchida por substitutos. Lembre-se: a primeira calamidade é a pessoa tornar-se orientada-pela-cabeça. A segunda calamidade é a pessoa começar a substituir a necessidade de amor por coisas. Então, você está perdido, perdido na terra desértica. Então, você nunca alcançará o oceano. Então, você simplesmente se dissipará e evaporará. Então, sua vida toda será um puro desperdício. No momento em que você toma conhecimento de que é isso o que está acontecendo, mude o fluxo: faça todos os esforços para contatar novamente o coração. É isso o que os bauls chamam de amor - refazer o contato com o coração para desfazer o que foi feito a você pela sociedade. Osho, em "Vida, Amor e Riso" |