autoconhecimento
Porque razão derrama a flor o seu perfume?
O senhor refere que, no que concerne às questões espirituais, uma pessoa deve crer por si mesma. Se realmente é isso que defende, porque razão perde o seu tempo a dar conferências?
Krishnamurti- Senhor, porque razão derrama a flor o seu perfume? Ela não pode evitar de perfumar o ambiente. Quando percebe alguma coisa com clareza, não sentirá desejo de partilhar essa clareza com os demais? Eu refiro isto porque pessoalmente não posso impedir-me de o fazer. Eu não falo com a intenção de ajudar os outros; isso seria ser demasiado condescendente. Falo simplesmente porque existe uma canção no meu coração. E desejo expressar esse canto sem me preocupar em saber se alguém se esforça por escutar aquilo que digo. Uma flor desabrocha porque se regozija; trata-se da sua função, do seu dharma. A flor não se preocupa em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora.
O seu ensinamento destina-se a uns quantos ou antes a todos? Acredita que a sua filosofia elitista se tornará popular junto das massas?
K- Porque se distingue das massas? Você é o mundo e este é você. Pode ser muito dotado de sorte e viver num palácio, ter uma porção de empregados etc., porém, psicologicamente, será distinto das ditas massas? Quer seja rico ou pobre, quer viva no oriente ou no ocidente, no Ceilão ou na Sibéria, será que, fundamentalmente o nosso espírito é diferente? Qualquer que seja a nossa situação na vida, onde quer que vivamos, todos nós sofremos e morremos, não é? É importante que tenhamos consciência de que a nossa mente é semelhante. O espírito é a sua consciência e nada mais. E o seu espírito, será isso alguma outra coisa além dos seus medos, das suas esperanças, das suas ambições, das suas ofensas e das suas crenças?
Perguntou se o ensinamento será susceptível de atrair as ditas pessoas vulgares. Quererá dizer que um camponês não me consegue compreender? Será o camponês psicologicamente diferente de si? A inteligência não é um talento pois todo o indivíduo possui a capacidade de compreensão.
Mas tem vindo a falar à muitos anos e no entanto o mundo ainda não mudou. Comente esta reflexão, por favor.
K- As pessoas vão junto do rio e tomam a água na quantidade que necessitam. Alguns vão lá com um jarro; outros não bebem mais do que uns goles. Por isso a questão não é realmente do quanto é oferecido mas sim tomado. O rio está cheio de água mas você só toma uma pequena quantidade, dependendo o facto da satisfação provisória das suas necessidades imediatas. Você satisfaz-se com facilidade e não sente aquele profundo descontentamento. Não tem a sede necessária para beber grandes quantidades de água pura.
Porque não reconhece discípulos à semelhança dos outros gurus?
K- Não tem conhecimento do quanto os discípulos destroem o seu guru? Os discípulos exploram o seu guru enquanto este, por seu turno, explora aqueles e as suas relações tornam-se uma exploração recíproca. Por Deus! Eu não tenho discípulos. Antes de mais descubra a razão porque deseja seguir alguém. Dessa forma descobrirá qualquer outra coisa sobre si próprio. Porque seguir alguém, ou o orador, inclusive? Desejamos seguir por vivermos na ignorância. Mas quando nos tornamos um discípulo, não estaremos ainda na ignorância? Consequentemente, não deverá tornar-se uma luz em si mesmo?
Nós encontramo-nos de tal modo desarmados que temos necessidade de guias.
K- Não será esse hábito de seguir alguém que enfraquece?
Dizem os jornais que o senhor não lê. É verdade?
K- Por vezes leio o Times para me manter ao corrente dos acontecimentos do mundo. Leio também uns romances policiais mas é tudo.
Não crê que o seu espírito puro seja condicionado pela influência corruptiva da literatura evasiva tal como a dos romances policiais?
K- Corromper o espírito? (risos) Santo Deus! Nada corrompe! O espírito permanece intacto, inocente, fresco e jovem.
E a literatura sagrada, o senhor estuda-a?
K- Acho os livros religiosos e as filosofias aborrecidas e não leio essas coisas.
Susunaga Weeraperuma - Krishnamurti tal como o conheci
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