A verdadeira religião não é um conjunto de crenças e ritos, esperanças e temores. Se pudermos deixar a criança crescer livre dessas influências inibitivas, talvez, no período de amadurecimento, ela começará a investigar a natureza da realidade, de Deus. Eis porque são necessários, na educação de uma criança, profundo discernimento e profunda compreensão.
A maioria das pessoas com inclinações religiosas, que fala de Deus e da imortalidade, não crê fundamentalmente na liberdade e na integração individual; entretanto, religião é cultivo da liberdade, da busca do verdadeiro. A liberdade não admite meias medidas. Liberdade parcial para o indivíduo não é liberdade, em absoluto. Qualquer espécie de condicionamento, político ou religioso não é liberdade e nunca trará paz.
A religião não é um meio de condicionamento. É um estado de quietude em que reina a realidade, Deus; mas esse estado criador só pode manifestar-se quando há autoconhecimento e liberdade. A liberdade traz virtude, e sem virtude não pode haver tranquilidade. Mente tranquila não é mente condicionada, não é mente disciplinada ou exercitada em estar tranquila. Só vem a tranquilidade quando a mente compreende seus próprios movimentos, que são os movimentos do “eu”.
Religião organizada é pensamento que se congelou e com o qual o homem construiu seus templos e suas igrejas; ela se tornou um consôlo para os tímidos, e um narcótico para os que sofrem. Mas Deus ou a Verdade estão muito além do pensamento e das necessidades emocionais.
(…) A verdadeira educação religiosa é aquela que ajuda a criança a manter-se inteligentemente desperta, a discernir por si mesma o temporário e o real, e a ter uma concepção desisteressada da vida; e não teria mais sentido começar o dia, em casa ou na escola, com um pensamento edificante ou uma leitura profunda e signifiativa, do que engrolar, repetidamente, certas palavras ou frases?
Krishnamurti — A educação e o significado da vida