Sobre o interesse de achar a verdadeira finalidade da vida
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Sobre o interesse de achar a verdadeira finalidade da vida


“Sem conhecer a finalidade da vida, minha própria existência não têm significação e toda ação de minha parte é destrutiva. Trabalho apenas para manter-me vivo; sofro, e a morte está à minha espera. Essa a norma da vida, mas qual a finalidade de tudo isso? Eu não sei. Já andei com grandes sabedores e com vários gurus; uns dizem isto, outros dizem aquilo. Que dizeis vós?

Fazeis esta pergunta com o fim de comparar o que fôr dito aqui com o que foi dito alhures?

“Sim, porque então poderei escolher, e minha escolha dependerá do que eu considerar verdadeiro”.

Pensais que a compreensão do verdadeiro é uma questão do opinião pessoal, e dependente de escolha?
Mediante escolha, descobrireis o que é verdadeiro?

“De que outra maneira achar o Real, se não for pela discriminação, pela escolha? Escutar-vos-ei com toda a atenção, e se o que disserdes me parecer interessante, rejeitarei tudo o que os outros disseram e traçarei o meu padrão de vida de acordo com o alvo que tiverdes estabelecido. É perfeitamente sincero o meu desejo de descobrir a verdadeira finalidade da vida”.

Senhor, antes de irmos mais longe, não achais importante perguntardes a vós mesmo se sois capaz de achar o verdadeiro? Faço esta pergunta com o devido respeito e sem nenhum intuito de diminuir-vos. A verdade é uma questão de opinião, de prazer, de satisfação? Dizeis que aceitareis o que vos parecer interessante, e isto significa que não estais interessados na verdade mas tão-só em busca daquilo que vos parecer mais satisfatório. Estais pronto a fazer sacrifícios, submeter-vos a compulsões, com o propósito de ganhar, no fim, uma coisa agradável. Estais em busca de prazer, e não da Verdade. A Verdade deve ser algo que paira acima de nossos gostos e desgostos, não? A humildade deve estar no começo de toda busca.

“É por isso que venho ver-vos, senhor. Eu estou realmente a buscar; recorro aos instrutores para que me ensinem o que é verdadeiro, e segui-los-ei de espírito humilde e contrito”.

Seguir é negar a humildade. Seguis, porque desejais êxito, ganho, no fim. Um homem ambicioso, por mais sutil e por mais oculta que seja a sua ambição, nunca é humilde. Obedecer à autoridade e erigi-la em guia, é destruir o discernimento, a compreensão. O cultivo de um ideal impede a humildade, visto que o ideal é a glorificação do “eu”, do “ego”. Como pode aquele que, de diferentes maneiras, dá importância ao “eu”, ser humilde? Sem a humildade, nunca poderá manifestar-se a realidade.

“Mas o interesse com que vim aqui é o de achar a verdadeira finalidade da vida”.

Se me é permitido dizê-lo, estais simplesmente enredado numa idéia, que se está tornando uma “fixação”. Isto é uma coisa de que temos de estar constantemente precavidos. No desejo de conhecer a verdadeira finalidade da vida, tendes lido muitos filósofos e procurado muitos instrutores. Uns dizem isto, outros dizem aquilo, e vós desejais conhecer a Verdade. Ora, desejais conhecer a verdade de que eles falam, ou a verdade a respeito de vossa busca?

“Quando fazeis uma pergunta direta, como está, sinto-me um pouco hesitante sobre o que responder.  Há pessoas que estudaram e “experimentaram” mais do que eu serei capaz de fazer em toda a minha vida, e seria uma absurda presunção de minha parte rejeitar o que eles dizem, que bem me poderia ajudar a descobrir o significado da vida. Mas cada uma dessas pessoas fala de acordo com sua própria experiência e às vezes se contradizem umas às outras. Os marxistas dizem uma coisa e as pessoas religiosas outra coisa completamente diferente. Ajudai-me, por favor, a achar a verdade a respeito de tudo isso”.

Perceber o falso como falso e a verdade contida no falso, e o verdadeiro como verdadeiro, não é fácil. A clara percepção requer que se esteja livre do desejo, que confunde e condicione a mente. Tão empenhado estais em achar o verdadeiro sentido da vida, que esse próprio empenho se torna um obstáculo à compreensão da vossa busca. Desejais saber a verdade relativa a tudo o que tendes lido e tudo o que vossos instrutores têm dito, não é assim?

“É, decididamente.”

Deveis então tornar-vos capaz de descobrir o que há de verdadeiro em todas essas asserções. Vossa mente deve tornar-se capaz de percepção direta; se não, ela se perderá no matagal das ideias, opiniões e crenças. Se vossa mente não tiver a capacidade de ver o que é verdadeiro, sereis como uma folha ao vento. Assim, o importante não são as conclusões e as asserções de outros, sejam eles quem forem, mas, sim, que possais discernir o que é verdadeiro. Não é esta a coisa essencial?

“Parece-me que sim; mas como adquirir esse dom?”

A compreensão não é um dom reservado a poucos, pois vem a todos os que se aplicam seriamente ao conhecimento de si mesmos. A comparação não produz compreensão; a comparação é mais uma forma de distração e, como o julgamento, é evasão. Para que se manifeste a Verdade, a mente deve atuar sem comparação, sem avaliação. Quando a mente está comparando, não está quieta, está ocupada. Uma mente ocupada é incapaz de percepção simples e clara.

“Isto significa, então, que preciso despojar-me de todos os valores que estabeleci, de todos os conhecimentos que acumulei.”

A mente não precisa ser livre para descobrir? O saber, a ilustração — as conclusões e experiências, próprias e dos outros, esta vasta carga de lembranças acumuladas — pode trazer a liberdade? Existe a liberdade, enquanto existe um censor, julgando, condenando, comparando? A mente nunca pode estar quieta, se está sempre adquirindo e calculando; e a mente não precisa estar quieta, para que possa surgir a Verdade?

“Percebo tudo isso, mas não estais exigindo demasiado, de uma mente simples e ignorante, qual a minha?”

Vós sois simples e ignorante? Se realmente o fosseis, encontraríeis um grande deleite no iniciar a verdadeira busca; mas infelizmente não o sois. A sabedoria e a verdade vêm ao homem que diz, verdadeiramente: “Sou ignorante, não sei.” São os simples, os inocentes, e não os que estão repletos de saber que verão a luz, porque eles são humildes.

“Eu só desejo uma única coisa, que é conhecer a verdadeira finalidade da vida, e vós despejais sobre mim uma catadupa de coisas que estão fora de meu alcance. Não podeis dizer-me, com palavras simples, qual é a verdadeira significação da vida?”

Senhor, tendes de começar com o que está muito perto de vós, para poderdes ir longe. Quereis a imensidão, sem verdes o que está pertinho de vós. Desejais conhecer a significação da vida. A vida não tem começar e acabar; ela é ao mesmo tempo Morte e Vida; é a folha verde e a folha seca levada pelo vento; é o Amor e sua beleza infinita; é a tristeza da solidão e a suprema felicidade de “estar só”. Ela não pode ser medida, e a mente não pode descobri-la.  

Krishnamurti – Reflexões sobre avida






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