Sobre o sistema de confusão gerado pelos maníacos do poder
autoconhecimento

Sobre o sistema de confusão gerado pelos maníacos do poder


Porque não somos inteligentes, investimos de poder outras pessoas que se dizem inteligentes para nos governar. Um homem inteligente não precisa ser governado; não precisa de organização alguma, além das que são necessárias, para maior eficiência da vida. 

As coisas necessárias da vida não podem ser verdadeiramente organizadas enquanto se acharem nas mãos de uns poucos, de uma classe ou grupo; e quando os poucos atuam como representantes dos muitos, existe, por certo, o mesmo problema do poder. Vem a exploração quando as organizações são utilizadas como instrumentos de poder, quer pelo indivíduo, quer pelo grupo, pelo partido ou pelo Estado. É essa auto-expansão, mercê da organização, que é perniciosa, como, por exemplo, a de um estado que se identifica como governo soberano — que anda sempre de mãos dadas com o nacionalismo, e no qual o indivíduo está também envolvido. É o poder expansionista, agressivo, de defesa do "eu", que é condenável. 

Quando organizações são utilizadas pelos espertos, pelos astutos, como meio de explorar os outros, devem ser erradicadas; e só o serão quando vocês, individualmente, em seu pequeno círculo, não estiver em busca de poder, de domínio. Enquanto existe a busca de poder, haverá um "processo" hierárquico, do ministro do governo ao funcionário, do bispo ao vigário, do general ao soldado raso. 

Sem dúvida, só teremos uma sociedade decente, quando os indivíduos não mais estiverem em busca do poder, em nenhum sentido — pela riqueza, por meio das relações ou de uma ideia. É a busca de poder que é a causa deste desastre, desta desintegração da sociedade. Nossa existência, atualmente, é toda feita de política de força, domínio da família pelo marido ou pela mulher, de domínio por meio de uma ideia. A ação baseada numa ideia é sempre fator de separação e nunca de compreensão; e a busca de poder, seja pelo indivíduo, seja pelo Estado, denota expansão, cultivo do intelecto, em que não existe amor. 

Quando você ama alguém, é muito cuidadoso, organiza, espontaneamente, não é verdade? Você é vigilante, é eficiente no ajudar a este ou àquele. É quando não existe amor, que nasce a organização como instrumento de poder. Quando você ama o próximo, quando é cheio de afeto e generosidade, então as organizações têm significação inteiramente diferente, conservando-se em seu nível próprio. Mas quando a posição do indivíduo assume a máxima importância, quando há ânsia de poder, as organizações são utilizadas como meio de se alcançar esse poder — e a força e o amor não pode co-existir.

O amor é sua própria força, sua própria beleza, e é porque nossos corações estão vazios que os enchemos com as coisas da mente, interessamo-nos pelas organizações como meios de promover a ordem, de promover a paz mundial. Não são as organizações, mas só o amor que pode implantar a ordem e a paz no mundo; não são os planos de alguma utopia, mas só a boa vontade que pode efetuar a conciliação entre indivíduos. Porque não temos a chama do amor, dependemos de organizações; e no momento em que temos organizações sem amor, os espertos e os astutos galgam o posto mais alto e tiram proveito delas. 

Fundamos uma organização para o bem-estar da humanidade, e antes de darmos fé já alguém tomou conta dela para seus próprios fins. Desencadeamos revoluções, revoluções sangrentas e desastrosas, para promover a paz mundial, e antes de o sabermos, o mundo já se acha nas mãos de uns poucos maníacos do poder, que se tornam uma nova e poderosa classe, , um novo grupo dominante de comissários, com sua polícia secreta — e o amor é enxotado para fora. 

Como pode o homem viver sem amor? Só pode existir; e a existência sem amor significa controle, confusão e sofrimento — e é isso o que a maioria de nós está criando. organizamo-nos para a existência e aceitamos o conflito como inevitável, porque nossa existência é uma busca de constante poder. 

Sem dúvida, quando amamos, a organização tem o lugar que lhe compete, seu lugar próprio; mas, sem amor, a organização se torna pesadelo, coisa puramente mecânica e eficiente, tal como um exército. Quando houver amor, não haverá mais exércitos; mas como a sociedade moderna está baseada na eficiência, temos de ter exércitos, e a finalidade de um exército é gerar guerras. mesmo durante a chamada paz, quanto mais intelectualmente eficientes somos, tanto mais cruéis, mais brutais, mais sensíveis nos tornamos. Eis porque há confusão no mundo, eis porque a burocracia se torna cada vez mais poderosa, por que mais e mais governos se vão tornando totalitários. 

Sujeitamo-nos a tudo isso como inevitável, porque vivemos pelo cérebro e não pelo coração, e é por isso que não existe amor. O amor é o mais perigoso e mais incerto elemento de nossa vida; e porque não desejamos estar na incerteza, porque não desejamos estar em perigo, vivemos pela mente. O homem que ama é perigoso, e não desejamos viver perigosamente, queremos viver apenas dentro do molde da organização, pensando que as organizações trarão ordem e paz ao mundo. As organizações nunca trouxeram a ordem e a paz. Só o amor, só a boa vontade, só a caridade pode trazer a ordem e a paz, no final de tudo, e, portanto, agora.

Krishnamurti em, A ARTE DA LIBERTAÇÃO






- Por Imposição, Não Se Alcança O Amor Integrativo E Fraternal
PERGUNTA: Pode a organização de uma sociedade com igual oportunidade para todos despertar aquele sentimento de compaixão que acabará, afinal, com a intromissão do governo em nossa vida pessoal? KRISHNAMURTI: A primeira parte da pergunta é: "Impede-se...

- Pode A Verdade Ser Organizada?
Pergunta: Você foi anunciado pela Sociedade Teosófica como sendo o Messias e o Instrutor do Mundo. Por que você saiu da Sociedade Teosófica e renunciou ao papel de Messias? Krishnamurti: "Vamos examinar a questão das Organizações. Existe uma história...

- Diálogo Sobre Relacionamentos
PENSO que, compreendendo a vida de relação, chegaremos a compreender o que significa independência. A vida é um processo de constante movimento de relações, e sem se compreender a vida de relação, produziremos confusão, e luta, e esforços inúteis....

- Um Olhar Sobre Nossas Relações - Iv
O que chamamos relação, é isolamento A vida é experiência, experiência em relação. Não se pode viver no isolamento; a vida portanto, é relação, e relação é ação. E como adquirir a capacidade de compreender as relações, que é a vida?...

- Podemos Viver Sem A Fome De Poder?
Pergunta: O que é “poder”? Krishnamurti: Há o poder, a força mecânica, a força gerada pelo motor de combustão interna, pelo vapor, ou pela eletricidade. Há a força que reside numa árvore, que faz correr a seiva, que cria a folha. Há a força,...



autoconhecimento








.