Superando a vulgar mentalidade burguesa
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Superando a vulgar mentalidade burguesa


Podemos você e eu, que somos gente simples, gente comum, viver criadoramente neste mundo, sem o impulso da ambição, o qual se manifesta de várias maneiras, como desejo de poder, de posição? Você encontrará a resposta correta, quando amar o que você faz. Se você é engenheiro apenas porque precisa ganhar a vida ou porque é isso que seu pai ou sociedade espera de você, temos aí uma outra forma de compulsão; e a compulsão, em qualquer forma que seja, gera contradição, conflito. Mas se, ao contrário, você gosta realmente de ser engenheiro ou cientista, ou se você planta uma árvore, ou pinta um quadro, ou escreve um poema, não para receber aplausos, mas, simplesmente, porque gosta de fazê-lo, verá que, então, você nunca estará em competição com ninguém. Penso que esta é a verdadeira chave: amar o que você faz.

Mas, quando somos jovens, é, muitas vezes, dificílimo sabermos o que gostamos de fazer, porque queremos fazer tantas coisas! Queremos ser engenheiro, maquinista de locomotiva, um aviador a cruzar o céu azul, ou, ainda, desejamos ser famosos oradores ou políticos. Você pode desejar ser artista, químico, poeta ou carpinteiro. Pode desejar trabalhar com sua cabeça ou com suas mãos. Alguma dessas coisas é realmente o que você gosta de fazer, ou seu interesse nela representa apenas uma reação às pressões sociais? Como averiguar isso? E a verdadeira finalidade da educação não é lhe ajudar a descobrir, a fim de que, enquanto você cresce, começa a aplicar, por inteiro, sua mente, seu coração, seu corpo, àquilo que realmente gosta de fazer?

O descobrir o que gosta de fazer requer muita inteligência, porque, se você tem medo de não ganhar o seu sustento, ou de não se ajustar a esta sociedade corrupta, então, nunca o descobrirá. Mas, se você não tiver medo, se não se deixar impelir pela rotina da tradição, por seus pais, por seus mestres, pelas superficiais exigências da sociedade, haverá então a possibilidade de você descobrir aquilo que realmente gosta de fazer. Assim, pois, para descobrir, deve-se estar livre do medo de não subsistir.
Mas, em geral, temos medo de não subsistir; dizemos: “Que me acontecerá se eu não fizer o que mandam meus pais?” Porque temos medo, fazemos o que nos mandam fazer, e nisso não há amor, porém só contradição; e esta contradição interior é um dos fatores da ambição, que é tão destrutiva. Assim, uma função básica da educação é a de lhe ajudar a descobrir o que verdadeiramente gosta de fazer, de modo que a isso você possa aplicar toda a sua mente e coração, porque é desta maneira que se cria a dignidade humana, que se varre a mediocridade, a vulgar mentalidade burguesa. Eis porque tanto importa ter os mestres adequados, a atmosfera adequada, para você crescer com aquele amor que se expressa naquilo que faz. Se não houver este amor, seus exames, suas capacidades, sua posição, suas posses, são puramente cinzas, nada significam; se não houver este amor, suas ações irão provocar mais guerras, mais ódios, mais malefícios e destruição.

Krishnamurti - A cultura e o problema humano





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