autoconhecimento
Tudo o que existe é Consciência - 2/2 Ramesh Balsekar
[continuação...]
"Pergunta: Você pergunta frequentemente: “quem está aprisionado?” “Quem está buscando?” Eu gostaria de fazer a mesma pergunta para você.
Ramesh: É a consciência individual ou pessoal que está buscando sua fonte. A consciência, tendo identificado a si mesma num “eu” pessoal, está agora tentando recuperar sua impessoalidade. Isso é tudo que está acontecendo. E o processo torna-se mais rápido quando a mente não interfere, quando o “eu” não está presente, apenas o eu, o Eu Subjetivo está presente. O sábio Ashtavakra nos diz o que é o aprisionamento.Ele diz: “Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. Significa liberação quando a mente não deseja ou se aflige, não aceita ou rejeita, não sente-se feliz ou infeliz.”
Agora, a mente humana treinada e condicionada como é, prontamente diz: “Eu não posso desejar nada, não devo rejeitar nada.” Mas a mente é incapaz de perceber que esse não-desejar algo inclui desejar o conhecimento de sua verdadeira natureza.
Desejo não significa apenas desejar algum objeto mas mesmo o desejo pela iluminação. A necessidade de saber, de ter o conhecimento de sua verdadeira natureza, mesmo isso é um desejo e esse desejo acontece através do “eu”.
Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. A mente deseja a iluminação e se aflige pelo fato que ela ainda não se iluminou. “Eu” estou nisso a dez, doze, vinte e cinco anos e ainda assim nada está acontecendo!” A mente se aflige por esse “não acontecer”.
A mente deseja ou quer algum acontecimento e se aflige pelo não acontecimento desse evento. Significa liberação quando a mente não deseja, quer ou se aflige, quando a mente está vazia, quando a mente está aberta. A mente vazia não é a mente vazia de um idiota, é uma mente aberta, o mais alerta que a mente possa estar, porque ela não está condicionada. Não está querendo nada, não está preenchida de coisa nenhuma. Não há ninguém em casa. A mente está vazia. Ela não rejeita ou aceita, não sente feliz ou infeliz.
Em seguida, Ashtavakra diz: “ Significa aprisionamento quando a mente está apegada a qualquer experiência sensorial. É liberação quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.” Novamente ele coloca isso de uma maneira tão breve. Ele não forçou-se a explicar.
O sábio quer que o suposto buscador descubra isso por si mesmo. Ele não está dizendo que a experiência sensorial não surgirá. Ele não está dizendo que a iluminação impede o surgimento de qualquer experiência sensorial.
O surgimento de uma experiência, de um evento, está totalmente fora do controle de qualquer organismo corpo-mente, tenha a iluminação acontecido ou não. Portanto, não é que o sábio recusa toda experiência sensorial, ela está lá. A experiência sensorial é experimentada mas a mente não está apegada àquela experiência sensorial. Ela acontece e termina. E qualquer experiência é sempre no momento presente. Qualquer experiência boa ou ruim, prazerosa ou não-prazerosa, é sempre no momento presente. Toda experiência é uma experiência impessoal.
A experiência impessoal perde sua impessoalidade quando a mente-intelecto aceita essa experiência como sendo dela própria, aceita-a ou rejeita-a como boa ou ruim. Se é prazerosa ela quer que essa experiência venha mais frequentemente. Se for ruim ela rejeita-a, ela não quer. Portanto, o apego a uma experiência acontece sempre no tempo, na duração. A experiência impessoal, que é a experiência do sábio, é sempre no momento presente e quando essa experiência se vai a mente não pensa mais sobre ela. A mente está totalmente desapegada. A experiência é vista como uma experiência impessoal e naquele momento ela é terminada. A liberação é quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.
Por último Ashtavakra diz: “Quando o 'eu' está presente é aprisionamento. Quando o 'eu' não está lá é liberação. Sabendo disso o sábio mantém-se aberto para o que quer que a vida possa trazer, sem aceitar e sem rejeitar isso.” (...)
Pergunta: Esse sentimento íntimo e próximo que tenho de “eu”, ele de fato dissolve?
Ramesh: Ele dissolve, mas quem vai testemunhar essa dissolução? Você vê o que quero dizer? Ele de fato dissolve, portanto o que dissolve é o próprio “eu”. Quem é que sabe que o “eu” dissolveu? É apenas o “eu” que poderia experimentar isso.
Pergunta: Então o “eu” vai ir e vir e depois terminará?
Ramesh: Sim. E enquanto o “eu” vai e vem, o estado de testemunhar acontece. O “eu” é a mente, portanto, a mente não pode observar a si mesma. Se a mente observar sua própria operação, então sempre haverá comparação e julgamento: “Isso é bom, isso é ruim, isso é tal e tal.” Isso não é testemunhar. Testemunhar é meramente observar um evento ou um pensamento ou uma emoção conforme surjam, sem fazer nenhuma comparação, sem nenhum julgamento, meramente testemunhar.
O testemunhar é impessoal e é vertical, portanto ele corta o envolvimento horizontal. Conforme o “eu” diminuir, o testemunhar irá acontecer mais frequentemente e por períodos mais longos. De repente chegará o momento em que as reações não mais acontecerão para um evento ou um pensamento, onde haverá um sentimento de paz, de bem-estar, mas não haverá “alguém” para sentir esse bem-estar. Não é que o “eu” repentinamente dirá: “Ah, eu desapareci!” Quem estará lá para dizer que desapareceu?
Pergunta: Mas ele dissolve?
Ramesh: Sim, mas não se você quiser que ele dissolva."
Ramesh Balsekar em Consciousness Speaks
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