Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico
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Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico


Amit conta, como e quando, ele obteve o esclarecimento final "insight" que o levou a conclusão de seu trabalho (nada existe fora da Consciência).

Conta Amit, que o primeiro esboço de seu trabalho a respeito da Consciência foi escrito no verão de 1982. Conta ele: " Eu sabia, no entanto, que havia profunda incoerência no material. Elas tinham origem no apego muito sutil a um dos dogmas fundamentais da filosofia realista - a consciência tinha que ser um epifenômeno da matéria. O biólogo Roger Sperry falou em consciência emergente - uma consciência causalmente poderosa que emergiu da matéria, do cérebro. De que maneira poderia isso acontecer? Há um círculo vicioso obstinado no argumento de que alguma coisa feita da matéria pode agir sobre ela com novidade causal. Eu poderia ver, nesse caso, a conexão com os paradoxos da física quântica: como poderíamos nós, nossas observações, produzir um efeito sobre o comportamento de objetos, sem postular uma consciência dualista? Eu sabia também que a idéia de uma consciência dualista, separada da matéria, criava seus próprios paradoxos.

Ajuda chegou de uma direção inesperada. Como cientista, sempre acreditei em uma abordagem total do problema. Uma vez que, nessa ocasião, minha pesquisa constituía evidentemente uma exploração da natureza da própria consciência, achei que deveria mergulhar em estudos empíricos e teóricos da consciência. Essa orientação implicava psicologia, embora os modelos psicológicos convencionais - dadas as suas raízes no realismo materialista - evitem experiências conscientes que contestem essa visão do mundo. Outras psicologias menos convencionais, contudo, tais como o trabalho de Carl G. Jung e Abraham Maslow, pressupunham um conjunto diferente de suposições. Essas idéias apresentam maior ressonância com a filosofia dos místicos - uma filosofia que se baseia em enxergar, espiritualmente, através do véu que cria a dualidade. Para remover o véu, os místicos prescrevem que o indivíduo se torne atento ao campo da percepção. (esse estado de atenção é, às vezes, denominado de meditação).

Eventualmente, após anos de esforços, uma combinação de meditação, leitura de filosofias místicas, um sem-número de discussões e simplesmente pensamento concentrado começaram a romper o véu que separava da solução que eu procurava para tais paradoxos. O dogma fundamental do realismo materialista - que tudo é feito de matéria - teve que ser abandonado, e isto sem trazer o dualismo.

Lembro-me ainda do dia em que ocorreu o rompimento final. Estávamos em visita a nossa amiga Frederica, que reside em Ventura, na California.

Cedo, naquele dia, Magie e eu saímos com um amigo, o místico Joel Morwood, para ouvir uma palavra de Krishnamurti na vizinha Ojai. Mesmo aos 89 anos, Krishnamurti dava conta do recado com extraordinária habilidade. Em seguida, conversando com a platéia, ele aprofundou pontos que haviam constituído a essência de seu ensinamento - para mudar, temos que estar cientes agora, e não resolver mudar mais tarde ou, simplesmente, pensar no assunto. A percepção radical, e só ela, leva à transformação que desperta a inteligência radical. Quando alguém perguntou se a percepção radical ocorre a nós, seres humanos comuns, Krishnamurti respondeu gravemente: "Tem que ocorrer".

Mais tarde naquela noite, Joel e eu iniciamos uma conversa sobre Realidade. Eu estava lhe dando um prato cheio de minhas idéias sobre consciência, que havia elaborado a partir da teoria quântica, em termos da teoria da medição quântica. Joel escutava com toda atenção.

- Muito bem, o que é que vai acontecer em seguida?

- Bem, eu não tenho certeza de compreender como a consciência se manifesta no cérebro-mente - respondi, confessando minha luta com a idéia de que, de alguma maneira, a consciência tinha que ser um epifenômeno dos processos cerebrais.

- Acho que compreendo a consciência, mas...

- A consciência pode ser compreendida? - interrompeu-me Joel.

- Claro que pode. Eu lhe disse que nossa observação consciente, a consciência, produz o colapso de onda quântica...

E eu estava pronto para repetir toda a teoria.

Joel, porém, interrompeu-me:

- De modo que o cérebro do observador é anterior à consciência, ou a consciência é anterior ao cérebro?

Percebi a armadilha na pergunta.

- Estou falando em consciência como sujeito de nossas experiências.

- A consciência é anterior às experiências. Ela não tem objeto nem sujeito.

- Certo. Isso é misticismo antigo. Em minha linguagem, porém, você está falando a respeito de algum aspecto não-local da consciência.

Joel, porém, não se deixou desanimar por minha terminologia.

- Você está usando antolhos científicos, que impedem de compreender. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que é um epifenômeno. Tente compreender o que os místicos estão dizendo. A consciência é anterior é incondicionada. Ela é tudo o que há. Nada mais existe, senão Deus.

A última frase fez comigo alguma coisa que é impossível descrever em palavras. O melhor que posso dizer é que provocou abrupta mudança de perspectiva - um véu foi levantado. Ali estava a resposta que eu estivera buscando e que conhecera o tempo todo.

Quando todos foram dormir, deixando-me em minha contemplação, saí de casa. O ar da noite estava frio, mas não me importei. Tão enevoado estava o céu que eu mal conseguia ver uma estrela. Mas, na imaginação, o céu tornou-se o mesmo céu radiante de minha infância e, de repente, consegui enxergar a Via-láctea. Um poeta da minha Índia natal concebera a fantasia de que a Via-láctea era a fronteira entre o céu e a terra. Na não-localidade quântica, o céu transcendente - o reino de Deus - está em toda a parte. "Mas o homem não o vê, lamentava-se Jesus."

Bibliografia.
Universo Autoconciente.




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